Patrícia Barão: Apesar das incertezas econômicas e políticas, o setor imobiliário está crescendo em Portugal

Mercado imobiliário figura entre os mais atrativos do mundo, beneficiando-se do turismo e da boa infraestrutura do país

Patrícia Barão, head of Residential JLL, comenta sobre os resultados  expressivos o segmento imobiliário português. (Foto: Divulgação)

Lisboa é considerada uma das 20 melhores cidades europeias para investimentos no setor imobiliário – representando mais de 5% da economia portuguesa. A estimativa, de acordo com especialistas, é que esse segmento deva continuar a atrair investidores imobiliários. Estudos, como o mais recente relatório da PwC e da Urban Land Institute (ULI), reforçam que a capital lusitana aprece entre as 20 capitais do continente europeu mais atrativas para o investimento imobiliário. Neste ranking, Londres está em primeiro lugar, seguido de Berlim e Paris. Para Patrícia Barão, head of Residential JLL, os resultados são expressivos.

“Em um ano em que fomos surpreendidos com o conflito Rússia-Ucrânia e pelo contexto macroeconômico desafiante com o aumento da taxa de inflação, crescimento das taxas de juros e contínua pressão ascendente nos custos de construção, o balanço é de um mercado cujos fundamentos em Portugal são robustos”, pondera.

Ao direcionar a atenção para o setor imobiliário residencial, ela afirma que é possível dizer que, em 2022, o desempenho incontornável foi mantido, com número e volume de unidades vendidas em Portugal até o segundo trimestre do ano passado. A marca supera os anos anteriores com diferença face ao trimestre homólogo em mais de 30% em volumes de vendas, com aumento do preço médio de 14%.

Potencial

Brasileiros sempre demonstraram interesse em comprar imóveis em Portugal, no entanto, a executiva da JLL nota um crescimento significativo há alguns anos.

“Em Lisboa, só os chineses superam os brasileiros na procura de imóveis; e no Porto, os brasileiros também aparecem entre os mais ativos, ficando atrás dos franceses”, constata.

“Apesar das incertezas econômicas e políticas, o setor imobiliário está crescendo. Temos muita liquidez no mercado, especialmente nos segmentos médio-alto e alto padrão. Para quem tem dinheiro ‘parado no banco’, investir em um imóvel é sempre uma opção mais segura e menos volátil”, sugere Patrícia Barão.

Um dos nomes de destaque na área de corretagem em Portugal, Eliane Ribeiro, da Global Real Estate Advisor e embaixadora da REMAX na Europa e no Brasil, lembra que desde 2010, com alterações na lei dos arrendamentos e leis de incentivo fiscal à reabilitação urbana, e a lei do ARI (Autorização de Residência para Atividade de Investimento), o mercado está em constante evolução, atraindo mais investidores internacionais, com origem em 76 países diferentes. “Desde então, a oferta tem sido sempre inferior à procura. E a subida dos preços é constante e equilibrada, resultante de uma valorização real de todo o tipo de ativo imobiliário”, analisa.


Alto padrão

Bossa Nova Sotheby's investe R$ 2 mi em plataforma de imóveis de luxoMarcello Romero, CEO da Bossa Nova Sotheby’s International Realty. (Foto: Divulgação)

Marcello Romero, CEO da Bossa Nova Sotheby’s International Realty, aponta que a empresa tem hoje 50 processos em andamento para clientes compra- rem imóveis de alto padrão no país europeu. “O brasileiro que procura comprar um imóvel em Portugal, busca por mais segurança, estabilidade política e econômica. E, geralmente, é uma pessoa que não depende de financiamentos imobiliários, mesmo com os juros no país sendo baixos, eles preferem comprar à vista”, relata.

Romero conta que os brasileiros procuram propriedades com conforto e amenidades, seguindo padrões europeus, que são bem elevados. Outro atributo é a localização, Lisboa e cidades litorâneas se destacam na procura. “O brasileiro também tem predileção por imóveis novos ou retrofitados, quando busca nas regiões históricas”, lembra.

No entanto, para o executivo, há baixa oferta de imóveis. “A demanda está alta e isso faz com que o valores se elevem rapidamente. O brasileiro precisa ser mais rápido na hora de fechar negócio, até mesmo porque, outros estrangeiros também estão se interessando por Portugal. Os norte-americanos, por exemplo, estão vendo muito potencial em investir no país e são bem mais ágeis na hora da compra”, enfatiza o CEO da Bossa Nova Sotheby’s.

Reflexo

Juntamente ao setor imobiliário, os serviços de gestão passaram a figurar entre os mais procurados por brasileiros e portugueses. Especialistas em gestão de iates no Brasil, na América Central, nos Estados Uni- dos e na Europa, recentemente a BYS International expandiu sua atuação para o segmento de Villas (casas de veraneio), demanda que partiu dos próprios clien- tes e, também, já está consolidada no exterior.

João Kossmann, diretor e fundador da BYS, explica que os dois mercados reagiram nos últimos anos aos comportamentos similares da demanda: a busca por espaços maiores e mais exclusivos. “Nosso serviço de gestão,Villa Management, tem como objetivo tranquilizar o proprietário, por meio de uma equipe qualificada para manter o ambiente limpo, organizado e em boas condições de funcionamento, além de garantir que todos os impostos, manutenções, equipamentos e entretenimento estejam em dia. A atuação vai dos serviços e cuidados diários até o gerenciamento, por exemplo, do estoque de vinhos colecionáveis”, ressalta.

Kossmann explica que a empresa gerencia as inspeções de rotina, visitas, testes completos de eletrodomésticos e sistemas de entretenimento, áreas externas, jardinagem, com manutenção preventiva e cuida- do diário, elaboração de manuais e gestão de fornecedores e tarefas. “Atuamos com práticas contá- beis e de gestão financeira transparentes, oferecendo contas bancárias independentes e dedicadas, cartões de crédito e meios de pagamento, relatórios detalha- dos de despesas com documentos auditáveis. Além disso, organizamos a preparação de documentação e evidências históricas do cuidado para quando o proprietário quiser se desfazer do bem”, detalha.

“O perfil do brasileiro em Portugal é de quem possui a primeira ou a segunda residência no país. Geralmente, ele procura uma empresa que possa tomar conta dos seus ativos com cuidado e diligência. No caso dos barcos, ocorre ainda o apoio em viagens ao longo de toda costa europeia”, completa Kossmann.

Como o turismo e infraestrutura impactam no desenvolvimento imobiliário?

Um exemplo é a Estrada Nacional 2 (N2), que atravessa Portugal de norte a sul, numa extensão de 739 mil quilômetros. Essa é uma das três estradas no mundo e, a única na Europa, com a sua tipologia. Semelhante apenas a “Route 66”, localizada nos Estados Unidos e a “Ruta 40”, na Argentina.

O roteiro permite descobrir, conhecer e sentir várias regiões do país – 11 distritos e 35 concelhos. Detentora de características únicas, a estrada constitui-se como um percurso de eleição, repleto de paisagens, gastronomia e de tesouros ainda escondidos do país.

Com a estratégia alinhada ao segmento de turismo, estão previstas incentivos e capacitação às empresas do setor de turismo a adotarem estratégias ligadas à sustentabilidade, incentivando o desenvolvimento econômico, social e ambiental em todo território, por meio do uso adequado dos recursos ambientais, do respeito a autenticidade sociocultural das comunidades e de assegurar que as atividades econômicas sejam viáveis no longo prazo.

Quais as regiões preferidas pelos brasileiros?

No segmento premium em que a JLL atua, destaca-se a procura ativa dos brasileiros por imóveis na Avenida da Liberdade (10.500 euros/metro quadrado), Chiado/Príncipe Real (10.500 euros/m2), Avenidas Novas (7.000 euros/m2) e Campo de Ourique (6.500 euros/m2), em Lisboa, além de Cascais (8.000-10.500 euros/m2). No Porto, vale lembrar da Foz do Douro (6.000 euros/m2), Baixa Histórica (6.000 euros/m2) e Leça (3.500-4.500 euros/m2).