Guilherme Weege: 'transparência é fundamental para os clientes'
A fala do CEO do Grupo Malwee traz uma reflexão sobre as ações da indústria da moda, apontada como uma das principais poluentes.
Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, ressaltam o compromisso da moda com a sustentabilidade (Foto: Divulgação)
O consumo consciente passou a ser independente de requisitos como classe social, atingindo hoje, todos dos segmentos do mundo da moda. Um exemplo de operação calcado no “varejo de valor” é a Malwee, empresa nacional que se destaca, pelo quarto ano consecutivo, o Índice de Transparência da Moda (ITMB) com a melhor pontuação entre as 50 marcas pesquisadas, com 66%. A holandesa C&A aparece no topo da lista, com 70%.
De acordo com Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, a transparência é um pilar fundamental para os clientes saberem como o produto foi produzido, condição que ajuda a fazer escolhas conscientes.
“A indústria da moda ocupa a segunda posição dentre as que mais poluem o planeta, sendo responsável, por exemplo, por cerca de 10% das emissões globais de carbono, 20% da poluição industrial de rios e oceanos, 23% do consumo global de produtos químicos e 5,2% de tudo que se deposita em aterros sanitários são roupas. Além disso, o setor tem um histórico negativo relacionado às condições precárias de trabalho. Essa situação só vai mudar com compromisso e influência pelo bom exemplo. Por isso, abrimos as portas para nossos concorrentes para dividir experiências e usamos nossas marcas e canais de comunicação como ferramentas de conscientização social”.
Para Fernanda Simon, diretora executiva do Instituto Fashion Revolution Brasil, apesar da melhora na pontuação média geral das marcas inclusas na pesquisa do Índice desde a primeira edição, em 2018, os resultados ainda são baixos: 17 das 50 empresas analisadas não pontuaram. “Isso demonstra que a indústria precisa ser mais ousada e transparente sobre o que está fazendo para enfrentar os desafios sociais e ambientais existen- tes. A cadeia produtiva é extensa, globalizada e complexa. Ela contribui para a crise climática, a degradação ambiental e a perda de biodiversidade. Do lado social, é uma das grandes responsáveis por abusos nos direitos humanos que afetam trabalhadores e suas comunida- des”, avalia.
A marca de vestuário Voz, junto com a Sinta-se em Casa (produtos de decora- ção), ambas selos da Casa Reviva, propõe liberdade e respiro para sua ONG homônima. As roupas vendidas na Reviva já ganham espaço em outros varejistas, além das lojas próprias que possuem em shoppings do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Florianópolis, ampliando o impacto do propósito com o qual nasceram: levar água potável, comida, educação e geração de renda para comunidades no Brasil e na África.
“O objetivo estava muito bem definido: impactar toda uma cadeia produtiva e contribuir para a conscientização de consumidores com poder aquisitivo suficiente para comprar produtos de extremo bom gosto. Abrimos um negócio para possibilitar a continuidade de um trabalho de responsabilidade social, não o contrário”, afirma Bruno Silvestre, que fundou a ONG Reviva junto à Beatriz Marcelino.
Bruno Silvestre e Bia Marcelino, fundadores da Casa Reviva: foco na conscientização dos consumidores (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Organziação
Desde 2018, a Amaro passou a focar no ESG de maneira estratégica, com cria- ção do comitê multidisciplinar interno e o acompanhamento de uma consultoria especializada para irem além do cum- primento da legislação. A partir daí, a companhia estruturou o projeto de negativação das emissões de carbono, consagrando-a, em 2021, como a primei- ra marca brasileira de consumo 100% carbono negativo.
“Além da compensação do que emitimos, nos desafiamos a reduzir ainda mais. Para este ano, a meta é uma diminuição de 10%”, aposta o CEO Dominique Oliver.
Entre as ações da companhia estão a produção da linha fitness com fibras biodegradáveis e óculos de acetato susten- táveis; Guide Shops (lojas físicas) funcionando como ponto de coleta seletiva; economia de 100 mil litros de água por ano devido à modernização dos processos de produção, principalmente na categoria de jeans; substituição do plástico virgem por materiais retirados do oceano; priorização de tecidos sustentáveis e certificados, bike delivery em São Paulo, entre outras.
“No ano passado emitimos volume estimado de 15 mil toneladas de CO2 e compramos duas vezes essa quantida- de em créditos, o que corresponde a 30 mil toneladas. O cálculo considera o impacto dos produtos (matéria-prima, manufatura, armazenamento, transporte e entrega), o equivalente a 95%; e atividades corporativas (viagens, servidores e Guide Shops), 5%. O projeto de negativação veio para ficar: somos comprometidos em usar 100% de plástico reciclável em embalagens; até 2023 nossa viscose será 100% certificada; e em cinco anos, 50% das nossas coleções serão feitas com matérias-primas sustentáveis”, planeja Oliver.
Capital Humano
O CEO da Aramis, Richard Stad. (Foto: Divugação)
No ano passado, a Aramis participou pela primeira vez do ITM e já alcançou a 17ª posição, com quase 10 pontos percentuais acima da média das demais participantes. “Temos orgulho em contar com uma rede de fornecedores 100% certificados, que torna todo o processo muito mais transparente e honesto, com garantia de boas condições de trabalho e remuneração justa”, revela o CEO da marca, Richard Stad.
Além do investimento em capital humano, a empresa monitora a gestão de resíduos, faz o tratamento da água e instalou painéis solares em seu centro de distribuição.
“Trabalhamos com diversas linhas sustentáveis, como a confecção de camisetas produzidas com fios de resíduos de café, jeans confeccionados com sobras de algodão e que levam menos água no processo de fabricação, tênis e camisetas com materiais sustentáveis de garrafa PET, chinelos com 30% de matéria reciclada e calçados 100% recicláveis. O próximo passo é a transição para as embalagens que dispensam o uso de plástico”, diz Stad.