Denise Hills, da Natura: Desenvolvimento econômico, progresso social e ambiental são a base da nova lógica produtiva que pode fazer do Brasil uma liderança em bioeconomia

Políticas públicas e atuação da iniciativa privada, com cadeias de produção sustentável, precisam aumentar para gerar progresso econômico e desenvolvimento social.

Patuá (Divulgação)
Patauá: planta amazonense considerada extremamente versátil para produção de cosméticos e outros produtos. (Foto: Divulgação)

Redundante dizer que seu território é cheio de riquezas. É da Amazônia que se extrai, por exemplo, o óleo essencial de priprioca, cujo preço final do litro chega a R$ 10 mil. Também vem de lá o aclamado cipó unha de gato, com propriedades regeneradoras de DNA. Uma região de tesouros incalculáveis, mas que alguns atrevem-se, sim, a calcular. A cifra de US$ 1,83 trilhão por ano é quanto a Amazônia renderia ao Brasil e ao mundo, segundo o estudo “Changes in the Global Value of Ecosystem Service”, da Universidade Nacional da Austrália. Mas o que falta para superarmos o desafio de manter esse bioma preservado e, ao mesmo tempo, gerar riqueza e melhorar a qualidade de vida das pessoas?

Um dos caminhos apontados por especialistas passa pelo aumento das políticas públicas e o envolvimento do setor privado. “Para preservarmos a Amazônia e promovermos um desenvolvimento sustentável na região, simultaneamente, precisamos da colaboração entre governos e setor privado”, afirma Clarissa Gandour, executiva de política pública com foco em conservação da Climate Policy Initiative, organização independente que analisa a gestão de recursos públicos e finanças.

 

Clarissa GandourClarissa Gandour, executiva de política pública com foco em conservação da Climate Policy Initiative (Foto: Divulgação)

Muito antes da sigla ESG virar tendência mercadológica, o grupo Natura &Co já havia entendido o poder Muito antes da sigla ESG virar tendência mercadológica, o grupo que cadeias produtivas sustentáveis na Amazônia poderiam trazer à marca, às comunidades locais e ao consumidor. Iniciou sua atuação na Amazônia em 2000 e estabeleceu metas para cumprir até 2030, como ampliar para 3 milhões de hectares a área conservada com parceiros e mobilizar esforços coletivos pelo desmatamento zero até 2025. Hoje, a empresa contribui para a conservação de 2 milhões de hectares de floresta em pé e, na última década, ampliou em sete vezes em seu portfólio de produtos com o uso de bioingredientes amazônicos extraídos em parceria com comunidades agroextrativistas.

“Somos testemunhas de que desenvolvimento econômico, progresso social e conservação da floresta não são incompatíveis, muito pelo contrário. Juntos, são a base de uma nova lógica produtiva que pode impulsionar a liderança do Brasil na bioeconomia, gerar riqueza, renda para as populações locais, conservação e maior valor compartilhado para todos”, afirma Denise Hills, diretora de Sustentabilidade de Natura &Co América Latina.Para a executiva, a floresta amazônica representa uma oportunidade para o Brasil ser protagonista na agenda global de sustentabilidade e de uma economia de baixo carbono.

“Mas para isso é necessário que o país opte por apoiar atividades econômicas que fortaleçam as comunidades locais e tradicionais e que mantenham a floresta em pé, dando às populações outras alternativas mais atraentes que o desmatamento”, complementa.O WWF-Brasil trabalha com empresas e várias comunidades locais, bem como parceiros que atuam no desenvolvimento de cadeias sustentáveis na Amazônia. “O que podemos afirmar, com base na nossa experiência, é que os produtos da Amazônia, quando cultivados de forma sustentável, possuem grande valor agregado que pode retornar para a população local e investidores”, afirma Edegar de Oliveira, diretor de conservação e restauração do WWF-Brasil.

 

Diretora de sustentabilidade da Natura vence Prêmio SDG Pioneers Brasil  2022 e SDG Pioneer Global - Portal Aberje
Denise Hills, diretora de Sustentabilidade de Natura &Co América Latina. (Foto: Divulgação)

 

No entanto, o especialista lembra que as cadeias produtivas locais ainda possuem gargalos e carecem de incentivos para reprodução em maior escala com o objetivo de garantir de forma efetiva a subsistência dos povos locais. “As empresas precisam olhar para a floresta e o potencial de geração de negócios, considerando os anseios de maior inclusão e características das populações locais, além de todo o potencial da abundante floresta que ela é”, diz Oliveira.


Além do desmatamento

Em 2004, a parte brasileira da Amazônia somava 27 mil quilômetros quadrados de área desmatada. Com ações de governos e empresas, esse número caiu 83% em 2012, para 4,5 mil quilômetros quadrados. Desde então, o desmatamento voltou a sair do controle e atualmente responde por uma área de mais de 1,8 mil campos de futebol.

Plástico, o vilão de rios e oceanos

O projeto Rios Vivos, iniciativa do grupo Natura &Co de mobilização de redes de coleta seletiva em comunidades ribeirinhas no Amazonas e no Pará, passa a contar com novos recursos para expandir seu potencial de coleta de resíduos plásticos na floresta. Com a criação do Fundo Rios Vivos, o projeto impulsionará a estruturação de cadeias sustentáveis de plástico pós-consumo, alavancando maiores volumes de materiais reciclados para fabricação de embalagens da companhia.

Por meio do fundo, o grupo fará aportes que serão destinados à melhoria das cooperativas alocadas nos núcleos já criados, e à expansão do projeto para outros locais da Amazônia. A gestão do fundo contará com o apoio da Sitawi, organização pioneira no desenvolvimento de soluções financeiras para impacto social. A instituição fará o papel de facilitadora, dando transparência e garantindo rastreabilidade nos processos junto às cooperativas. Atualmente, estima-se que mais de 90% dos itens plásticos que chegam aos oceanos são transportados por rios. A bacia amazônica é a principal via desses materiais para o mar na América do Sul.