Aleksandra o’Donovan, da BloombergNEF: 'A janela para se manter no caminho certo para emissões zero do transporte rodoviário até 2050 ainda está aberta'

Setores estratégicos se movimentam para promover ações práticas e eficientes na luta contra a crise climática. Elevação da populacional no mundo, é um dos temas de preocupação dos especialistas.

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Aleksandra o’Donovan, head de veículos elétricos da BloombergNEF. (Foto: Divulgação)

Chorume de aterros sanitários, águas residuais geradas em atividades industriais, efluentes sanitários ou gerados na limpeza de caixa de gordura industrial e de restaurantes, lodos de estação de tratamento de esgoto, produtos alimentícios vencidos ou fora de especificação, restos de alimentos provenientes de restaurantes e supermercados. O que esses resíduos têm em comum? Todos podem ser tratados e transformados em fertilizantes orgânicos para o fomento da agricultura.

Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos na Tera Ambiental, empresa especializada na valorização de resíduos orgânicos líquidos e sólidos, por meio de soluções ambientais como a reciclagem de efluentes e compostagem termofílica, explica que a reciclagem de resíduos é essencial para o meio ambiente. Com impacto significativo e importância estratégica para a solução de alguns dos maiores problemas ambientais contemporâneos: os descartes ilegais.

Negócio sutentável

A gestão adequada de resíduos e a prática crescente da economia circular são decisivos para a redução dos impactos das atividades humanas sobre o planeta. “Considerando que a população mundial já chegou a aproximadamente 7,8 bilhões de habitantes e que deverá superar a 9 bilhões em 2050, segundo estimativa da ONU, é necessário mitigar os efeitos da intervenção humana no meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantir a segurança alimentar desse gigantesco contingente populacional”, enfatiza Lívia.

“Esta é uma reflexão importante, que precisa ser abordada com mais frequência e de forma mais incisiva entre a sociedade civil e empresas. Foram séculos de uso indevido de recursos naturais. Com muita conscientização e alternativas que possam mitigar as atividades potencialmente poluidoras, teremos uma realidade mais favorável que resultará em novas atitudes na área ambiental”, diz.

Corredor

Alguns segmentos estratégicos como infraestrutura e transporte têm procurado desenvolver iniciativas e alertar para a necessidade de um planejamento mais eficiente e, acima de tudo, urgente para a reversão do atual quadro ambiental. A Ambipar – multinacional brasileira líder em gestão ambiental – deu um passo significativo no combate às mudanças climáticas e no cumprimento de sua ambição em liderar a transição para uma economia circular e de baixo carbono. O Projeto Corredor Sustentável dá início à mudança da matriz energética de sua frota para fontes renováveis e mais limpas, com a inclusão, em larga escala, de caminhões movidos a GNC. Com a chegada dos novos caminhões, a companhia se posiciona como agente transformador no segmento logístico no país com soluções mais sustentáveis.

imagem_1664850948Arthur Ramos, diretor-executivo e sócio do BCG Brasil. (Foto: Divulgação)

A ação da Ambipar ajuda a levar mobilidade segura e inteligente para as operações de transporte de produtos químicos para a Dow. De acordo com a multinacional, a iniciativa está alinhada às estratégias ESG das companhias e ao objetivo de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em suas operações. Com a estruturação de uma rota operada com o uso majoritário de GNC, a companhia pode contribuir para a descarbonização de suas atividades, demonstrando para o mercado e sociedade alternativas para que o segmento logístico brasileiro possa implementar uma transição energética que, ao aproveitar as características e opções energéticas nacionais, seja capaz de reduzir mais rap damente as emissões no setor.

“Queremos ampliar cada vez mais nossa agenda ESG e o Corredor Sustentável chega para fortalecer este propósito. Temos sim uma meta robusta, que é ter 100% da nossa frota de veículos com matriz energética mais limpa até 2040. Com a ajuda de nossos parceiros, vamos agir de forma consciente e eficiente, além de impulsionar uma grande transformação no setor logístico e gerar impacto positivo para o meio ambiente”, pontua Hélio José Branco Matias, diretor na Ambipar.

Soluções

A produção global de aço é responsável por 7% das emissões de gases de efeito estufa. Entre as alternativas existentes, que visam uma manufatura mais sustentável e o alcance de metas Net-Zero, a reciclagem de sucata ferrosa em fornos elétricos a arco (EAF) é um caminho comprovado para descarbonizar a produção da matéria-prima, sem perda de qualidade. Além disso, será responsável por 38% do aço produzido até 2050: é o que aponta o estudo do Boston Consulting Group (BCG) “Greener Steel, Greener Mining”.

O relatório aponta a reciclagem como uma das soluções que ajudaria a indústria da mineração a diminuir as emissões de gases do Escopo 3, que atualmente representam 90% das emissões do setor. Ao expandir sua oferta de metais com baixo teor de carbono, como é o caso da sucata, as mineradoras podem incentivar o início de um “mercado circular” de ferro nas próximas décadas.

Para Arthur Ramos, diretor-executivo e sócio do BCG Brasil, o reuso de sucata ferrosa traz vantagens que vão além da redução de GEE. “O aço é uma matéria-prima que pode ser reciclada infinitas vezes. Essa é uma oportunidade para os fornecedores da commodity de expandirem seus portfólios e, ao mesmo tempo, diminuírem suas emissões de carbono - algo que é esperado pelo mercado para atingir as metas globais de Net-Zero”, diz o executivo, ao se referir à cobrança feita pela coalizão de gestores de ativos europeus, o Institutional Investors Group on Climate Change, que em 2021 acusou a indústria siderúrgica de não estabelecer compromissos firmes de redução de poluentes.

Política Nacional de Resíduos Sólidos

No aniversário de 12 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305, de agosto de 2010), há pouco o que comemorar em vista das 30,3 milhões de toneladas anuais de resíduos sólidos que continuam sendo destinadas irregularmente para lixões a céu aberto, algo que não deveria ser coisa do passado.

“Ótima solução para o problema seria a destinação de grande parte desse material, hoje um passivo ambiental, para a produção de fertilizantes orgânicos, num avanço significativo em termos de economia circular”, observa Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos e gerente da Tera Ambiental.

Eletrificação

O setor de transporte rodoviário ainda pode atingir emissões líquidas zero até 2050, por meio da eletrificação, mas é necessário que legisladores e participantes do setor criem um plano de ação urgente. É o que aponta a mais recente Long-Term Electric Vehicle Outlook anual da BloombergNEF. Certos segmentos, como os ônibus e os veículos de duas e três rodas estão quase no caminho certo para emissões líquidas zero, mas não há espaço para complacência e são necessárias ações complemen- tares para alcançar esse objetivo em outros setores, particularmente o de veículos médios e pesados.

“A janela para se manter no caminho certo para emissões zero do transporte rodoviário até 2050 ainda está aberta - mas apenas por pouco tempo. É necessário um grande impulso nos próximos anos por parte de governos, montadoras, fornecedores de peças e de infraestrutura de recarga”, diz Aleksandra o’Donovan, head de veículos elétricos da BloombergNEF.

A Long Term Electric Vehicle Outlook apresenta dois cenários para o crescimento do transporte elétrico até 2050, e verifica os impactos na demanda por baterias, materiais, petróleo, eletricidade, infraestrutura e emissões. O Cenário de Transição Econômica (ETS, na sigla em inglês), que pressupõe que nenhuma nova política e regulamentação seja promulgada, é impulsionado principalmente por tendências tecnoeconômicas e forças de mercado. O segundo cenário investiga como seria uma rota viável para as emissões líquidas zero até 2050 para o setor de transporte rodoviário. O Cenário Net Zero (NZS) considera, principalmente, a economia como fator decisório sobre quais tecnologias serão implementadas para atingir a meta de 2050.

image (1)Vera Naves, vice-presidente do grupo Rodonaves. (Foto: Divulgação)

Mata Atlântica

A Appian Capital Brazil, fundo de investimentos privados especializado em mineração, desenvolve iniciativas voltadas à proteção e recuperação dos biomas nos quais o grupo possui operações. Um dos projetos realizados na Atlantic Nickel, produtora de concentrado de níquel no município de Itagibá, no Sul da Bahia, é voltado para o reflorestamento de Mata Atlântica, vegetação originária da área onde a unidade está localizada.Desde que o fundo de origem britânica, com quase quatro anos de atuação no mercado brasileiro, assumiu a gestão do ativo, já foram reflorestados 96 hectares de Mata Atlântica, o equivalente a aproximadamente 100 campos de futebol.

“O desenvolvimento sustentável e o compromisso com as gerações futuras são prioridades para as nossas empresas. Além das ações de reflorestamento na região, temos importantes projetos que englobam ações como doação de mudas para a comunidade local e o monitoramento da flora e da fauna originária da Mata Atlântica. “Essa é a nossa forma de operar, com respeito ao meio ambiente e integrados às comunidades onde atuamos”, explica Silvio Lima, diretor de Assuntos Corporativos, Pessoas e SSMA, da Appian Capital Brazil.