Francisco Costa: 'Momento permite atrair grandes investimentos brasileiros para Portugal como âncora para aumentar as exportações'
Portugal está entre as 50 maiores economias do mundo e até 2020 mantinha perspectiva positiva de crescimento. O choque econômico provocado pela pandemia de Covid-19 gerou uma queda acentuada nos negócios. No entanto, segundo dados da OCDE, com a reabertura das fronteiras e políticas públicas de apoio, as previsões indicam recuperação da economia nacional, que deverá atingir o nível de PIB pré-pandemia após o terceiro trimestre deste ano.
Francisco Costa, diretor da AICEP no Brasil. (Foto: Divulgação)
Em 2021, o Brasil representou 4,6% do total do investimento internacional português. São setores com maior presença de empresas portuguesas no mercado brasileiro o de alimentação e bebidas; construção e engenharia; energia; máquinas e equipamentos; indústria; serviços e turismo. Dando alguns exemplos concretos, empresas de grande relevo no cenário português como a GALP e a EDP antecipam importantes investimentos em projetos de geração de energia solar e eólica no Brasil nos próximos anos, definindo este mercado como a principal plataforma de crescimento no setor das energias renováveis. Cadeias de hotelaria portuguesas como o Grupo Pestana e Vila Galé também anunciaram recentemente a intenção de investir e inaugurar novas unidades no Brasil.
Francisco Costa, diretor da AICEP no Brasil - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, faz uma rápida análise da balança comercial de bens de Portugal com o Brasil, onde a estrutura das trocas comerciais é mais acentuada nos produtos agrícolas e indústria de alimentos, mostrando que estes setores mais “tradicionais” continuam a ser o principal nicho que estreita a relação bilateral. No entanto, com um olhar mais aprofundado, esta percepção está longe de traduzir a realidade dos fatos, desmistificando a ideia de que a relação entre Portugal e Brasil se reduz a azeite, vinho e bacalhau.
“Entre os principais grupos de produtos exportados por Portugal encontramos máquinas e aparelhos (6,0%), veículos e outros materiais de transporte (5,5%). Em sentido inverso, estão entre os principais grupos de produtos exportados pelo Brasil com direção a Portugal os combustíveis minerais (38,9%) e metais comuns (13,2%). Colocando o foco nos dados mencionados, os principais grupos de produtos exportados por Portugal permitem entender a importância de atrair grandes investimentos brasileiros para Portugal como âncora para aumentar as exportações. Veículos e outros materiais de transporte, máquinas e aparelhos, plásticos e borracha são transacionados em volumes significativos, ao mesmo tempo que reforçam a indústria como um grande ator no relacionamento bilateral”, especifica.
Comex
De acordo com dados do Observatório de Negócios Internacionais da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil (FCPCB), o total de exportações do Brasil para Portugal de janeiro a junho de 2022 foi de US$ 1,89 bilhão, com taxa de crescimento de 44,31% em relação ao mesmo período do ano passado. O Rio de Janeiro foi o estado que mais exportou para o país europeu, totalizando US$ 1,159 bilhão nos seis primeiros meses do ano, aumento de 46,61%. Os produtos mais exportados foram os combustíveis, com um total de US$ 1,09 bilhão, seguido por ferro e aço (US$ 64,39 milhões), cosméticos capilares (US$ 1,12 milhão), instrumentos mecânicos (US$ 589,98 mil) e vestuário (US$ 479,53 mil).
Em relação às importações, a plataforma indicou que entre janeiro e junho de 2022 o Brasil importou US$ 426,51 milhões de Portugal, com taxa de crescimento de 0,72% em relação ao mesmo período de 2021. O azeite de oliva foi o produto mais importado e os estados que mais compraram de Portugal foram São Paulo (US$ 166 milhões), Santa Catarina (US$ 106 milhões), Minas Gerais (US$ 29 milhões), Paraná (US$ 25 milhões) e Rio de Janeiro (US$ 23 milhões).
“É gratificante verificar que a visão do cidadão brasileiro sobre Portugal é muito positiva. O nosso país é lembrado como origem de produtos de qualidade comprovada, destino seguro, com oferta turística de excelência e a entrada mais natural e apelativa para as empresas brasileiras que pretendem se aventurar no exterior, em especial para mercados da União Europeia”, avalia Francisco Costa, da AICEP.
Embaixador Marcos Azambuja. (Foto: Divulgação)
Diplomacia
O que mais atrai e continua a servir de catalisador do interesse mútuo entre Portugal e Brasil é o fato de ambas as nações possuírem um potencial enorme para promover e aprofundar a relação em inúmeras áreas – desde a educação à ciência, cultura e língua, pesquisa e inovação tecnológica.
O Embaixador Marcos Azambuja, Conselheiro Emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), lembra que a diplomacia portuguesa sempre foi exercida com grande talento e sua administração pública é de imensa qualidade, potencializado nossos interesses comerciais, institucionais e culturais comuns.
“Vale ressaltar que temos hoje a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, organismo que defende o que chamamos de lusofonia, parte de nossa identidade, algo importante no âmbito internacional”, diz.
Atualmente membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da Fundação Roberto Marinho, Azambuja sugere que o país também deve aproveitar e fortalecer seu relacionamento com o toda a Europa, presando pela diversidade de caminhos e trabalhando com os diferentes interesses, embora Portugal tenha uma representatividade extraordinária para nós.