Soluções para problemas sociais estimulam empreendedores a trazerem novas ideias

Conheça iniciativas focadas na transformação social por meio dos pilares do ESG e outros insights que pretendem trazer novidades para o mercado.

Boomera - ABAD
A startup social Boomera foi comprada pela Ambipar neste ano, demostrando potencial do mercado de gestão ambiental para o lixo pós-consumo e geração de matéria-prima baseada na reciclagem. (Foto: Divulgação)

A importância do comprometimento com a cultura do ESG, cidadania e democracia, jogam luz a iniciativas de negócio, com ou sem fins lucrativos, focadas na transformação socioambiental, geração de oportunidades e autonomia. De acordo com o apontamento do 3 º Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental, pesquisa conduzida pela Pipe.Labo, a cada 10 negócios de impacto, oito permanecem entre os estágios de desenvolvimento da solução até a organização do projeto, especialmente na busca por um modelo que gere sustentabilidade financeira, o que revela um cenário amplo para a evolução do segmento e a criação de novas iniciativas.

Guilherme Brammer, fundador e CEO da Boomera, empresa com 10 anos de mercado, especializada em soluções de economia circular, entende que esse novo modelo de negócio vem crescendo do Brasil, embora ainda passe por grandes desafios.

“Esse tipo de negócio, tem um ciclo maior de tempo para se tornar lucrativo. Então, você acaba tendo que lidar com burocracias um tanto quanto desiguais”, explica. Para o executivo, se o negócio social realmente tivesse apoio governamental, linhas de crédito específicas, o crescimento e surgimento de novas empresas com esse propósito aconteceriam forma mais veloz.

Outro ponto estratégico é como desenvolver o modelo de gestão do empreendimento social, em um ambiente que na maioria das vezes é cercado pela vulnerabilidade. “É muito importante ter a visão de fluxo de caixa, de planejamento estratégico, formação de equipe, assim como em qualquer outro tipo de negócio. Falando em um cenário de vulnerabilidade, como acontece em nosso país, criar um dialeto próprio do negócio é fundamental para você conseguir realmente ter o comprometimento e engajamento das pessoas”, revela Brammer, que implementou o método Kaizen, criado na década de 1950 no Japão, e que com ele viu o faturamento dos seus parceiros de negócio triplicar.

Cultura e doações

E ao falar em geração de capital social, inclusão e emancipação, levando autonomia e oportunidade às pessoas, Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões e presidente do LIDE Empreendedorismo Social, detalha a importância de criar um ecossistema de investidores para chamar atenção às causas nevrálgicas brasileiras e a necessidade de criar oportunidade de emprego e conhecimento.

“Nos dedicamos por anos a montar um time peso-pesado de investidores com assento em nosso board, o que aumenta a sustentabilidade financeira de toda a operação e viabiliza nossa caminhada de longo prazo. O grande desafio é mobilizar poder público, setor privado e sociedade civil para a importância de acabar como ciclo de pobreza não apenas para quem está na favela, mas também para o rico, o empresário, os governantes. A pobreza é um problema crônico que atinge a todos e não só os pobres. Levei Jorge Paulo Lemann, Elie Horn e Guilherme Benchimol para a favela. O Lemann, aliás, me levou para Harvard. A troca de experiências e conhecimentos une todos contra um problema comum: a pobreza”, conta Lyra.

Guilherme Brammer, fundador e CEO da Boomera. (Foto: Divulgação)

Co-CEO da Editora MOL e presidente do Instituto MOL, Roberta Faria é jornalista, empreendedora social, ativista e grande pro- pagadora da cultura de doação no país, junto com seu sócio e Co-CEO da editora, Rodrigo Pipponzi que tem como reconhecimento internacional o prêmio de líderes em inovação social pela Schwab Foundation For Social En- trepreneurship. Entendendo que essa pauta é uma discussão mais profunda e complexa que envolve a sociedade como um todo, a empreendedora argumenta:

“A gente acredita que doar é um ato de cidadania assim como é o de votar, pagar impostos, cumprir leis, exercer seus direitos e participar da vida comunitária. É algo que precisa ser feito com consciência, consistência, coerência, constância e, claro com coração”. A democratização do acesso à leitura está no centro do negócio, e uma das estratégias para viabilizá-lo, é a venda de publicações a preços abaixo do mercado, nos caixas de grandes redes varejistas.

Em dose dupla - PressReader
Roberta Faria, jornalista e Co-CEO da Editora MOL e presidente do Instituto MOL ao lado de seu sócio Rodrigo Pipponzi, Co-CEO da editora. (Foto: Renato Stockler)

Um exemplo é a revista Sorria, disponível na rede de drogarias Raia, com renda revertida para o GRAACC – outro pioneiro no empreendedorismo social brasileiro. Roberta pontua que a união da sociedade civil organizada por meio de seus negócios sociais, sejam eles ONGS, Fundações, Institutos e demais for- matos possíveis, são potências e agentes profundamente transformadores.

“Todo o meu trabalho na Editora e no Instituto Mol é muito recompensador, principalmente porque eu me sinto parte da solução. Ser empreendedor social é pegar para si a responsabilidade, arregaçar as mangas e dar um jeito. Não é fácil, não é rápido, não é nem sequer garantido. Pode ser que a gente continue nadando contra a maré e não chegue na praia nunca, mas seguimos em frente, mirando nesse sonho de construir o mundo que a gente quer ver”, analisa.

A solidariedade também é um bom negócio, escreve Edu Lyra – Estadão Expresso
Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões. (Foto: Flavio Sampaio)

Empreendedorismo e experiência

Segundo dados do estudo Empreendedorismo Negro no Brasil, realizado pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com a Plano CDE e JP Morgan, cerca de 51% dos brasileiros que empreendem são pretos ou pardos. Eles movimentam R$ 1,7 trilhão por ano no país. “Chego aos lugares e as pessoas perguntam para quem trabalho ou falam somente com meus sócios, isso é muito comum. Acredito que a melhor forma de responder seja por meus resultados e eles falam por si só, mas é desafiador mesmo”, afirma Márcio Cafezeiro, CEO & Co-Founder da IP School – Inglês Particular que atualmente conta com 13 escolas, todas no estado de São Paulo, e expande-se pelo sistema de franquias. Também fundador do Instituto Márcio Cafezeiro, o empreendedor vê sua trajetória pessoal como uma das suas fontes de moti- vação para transformar realidades ao redor.

CEO da franqueadora IP School, Márcio Cafezeiro conta sua história - Mapa  das Franquias
Márcio Cafezeiro, empreendedor que tem o objetivo de transformar internamente as pessoas. (Foto: Divulgação)

“Trabalhamos essencialmente com doações, parceiros e benfeitorias. Costumo dizer que meu empreendedorismo não é social e sim para a sociedade, para transformar a pessoa de dentro para fora”, destaca sobre o trabalho que realiza no Instituto, onde são ensinadas diferentes disciplinas, como Inteligência Emocional, Primeiros Socorros, Convivência e Valores, Palestras, Nutrição, Vendas, Medi- tação, Artes Cênicas, Educação Financeira. “O propósito do Instituto é ainda maior. Em uma parceria com o projeto O Sonho É Nosso são feitas arrecadações e toda segunda-feira feira, à noite, são entregues marmitas para pessoas em situação de rua de Guarulhos, que também recebem o café da manhã aos sábados.

No período de frio, agasalhos também são doados. Ao longo do ano, outras atividades também são desempenhadas pelo Instituto, como serviços de odontologia, corte de cabelo, a fim de dar maior apoio para essa parte da população”, diz.

Espaço Alana: desenvolvimento local e articulação comunitária
Atividade no Espaço Alana, localizado no Jardim Pantanal, bairro da periferia de São Paulo. (Foto: Divulgação)

Diretora executiva do Alana, organização de impacto socioambiental que promove o direito e o desenvolvimento integral da criança, Flavia Doria, enfatiza que o empreendedorismo social brasileiro já acontece de forma estruturada, profissional e internacionalmente reconhecida.

“Um exemplo é o fundo Vox de investimento de impacto, no qual o Alana foi um dos primeiros a investir. A Vox é uma gestora pioneira de investimentos de impacto com quase R$ 500 milhões de ativos sob gestão, e com fundos de VC entre os top 10% melhores fundos globais da classe de ativos. Além de fundos proprietários, a gestora também foi selecionada pelo Albert Einstein, maior hospital da América, para a gestão de seu veículo de Corporate Venture Capital, que dedicará R$ 100 milhões para aportes em startups de impacto na área da saúde. E tenho visto o número de empreendimentos e investidores crescendo. Não só em quantidade, mas em profissionalismo e impacto”, sublinha a diretora.

 

Flávia Doria, diretora executiva do Alana. (Foto: Divulgação)

Estruturado em três frentes: Instituto Alana, fundado em 1994 pelos irmãos Ana Lucia Villela e Alfredo Egydio Arruda Villela Filho, AlanaLab e Alana Foundation, juntos são prova que a multiplicidade de formatos contribui na ampliação das possibilidades de resolução de problemas, já que passam a acessar agentes e “bolsos” diferentes. “Somos um Instituto que maneira compartilhada entre famílias, sociedade e Estado”, Finaliza Flávia.