Construtoras e incorporadoras focam na diversificação para superar as dificuldades da retomada econômica
Seguindo a tendência de alta na geração de empregos no setor de construção civil, a incorporadora imobiliária Vitacon planeja contratar 700 pessoas neste ano. Em 2020, a empresa fez 874 contratações. Essa força de trabalho foi essencial para manter o cronograma de lançamentos da empresa, que já teve três novos prédios finalizados no início deste ano e prepara mais quatro que devem ser lançados até dezembro.
Eduardo Fischer, da MRV: novas regras dão chance ao consumidor comprar primeiro imóvel. (Foto: Divulgação)
Na contramão da maioria dos setores, o mercado imobiliário residencial teve ótimo desempenho em 2020. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com base nas informações coletadas em 150 cidades, sendo 20 capitais, o número de imóveis novos (apartamentos) vendidos no ano passado subiu 9,8% em comparação a 2019.
No entanto, o setor segue com projeções mais conservadoras para 2021, já que dados recentes da CBIC demonstram impacto das dificuldades impostas pelo desabastecimento de materiais e pela alta dos prec¸os. Estimativa para o PIB do setor em 2021 caiu de 4% para 2,5%. De janeiro a marc¸o deste ano, o i´ndice que mede a situac¸a~o financeira das empresas do setor recuou 5,3 pontos em relac¸a~o ao u´ltimo trimestre de 2020, caindo de 47,2 para 41,9 (número abaixo de sua média histórica, de 44 pontos). O índice é da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC.
O sucesso da indústria imobiliária dependerá agora da retomada plena da economia e do lançamento de produtos e ações de venda que se adequem exatamente aos mais diferentes perfis de compradores. A Construtora MRV, por exemplo, realizou na segunda quinzena de março o seu Feirão Completão. Nas mais de 160 cidades onde a companhia atua, foi possível adquirir um apartamento com facilidades comerciarias especiais.
Públicos em destaque
Focados em imóveis econômicos, construídos para um público com renda familiar a partir de R$ 2.000,00, a MRV registrou expansão de 39,1% em vendas em 2020, passando para R$ 7,5 bilhões, e Valor Geral de Vendas (VGV) de produtos lançados 11,6% maior. “As novas regras do programa Casa Verde e Amarela possibilitaram ao consumidor ter melhores condições para adquirir seu primeiro imóvel em praticamente qualquer faixa de renda. Consequentemente, com a expansão das vendas, toda a cadeia de produção é beneficiada, gerando renda e emprego, além de mais pessoas conquistando a casa própria e diminuindo o déficit habitacional”, afirma Eduardo Fischer, CEO da MRV&Co — plataforma habitacional composta pela MRV e mais cinco empresas.
Neste sentido, a MRV&Co deu mais um importante passo na expansão de seu portfólio, investindo no lançamento da Sensia Incorporadora. Focada em imóveis de médio padrão, a marca tem, na sua essência, o acabamento, flexibilidade das plantas e possibilidade de personalização dos imóveis como seus principais diferenciais. O primeiro empreendimento, Sensia Parque Prado, foi lançado em Campinas, no final de fevereiro. Ainda em 2021, a marca lançará empreendimentos em Maceió, Manaus e Belo Horizonte. A incorporadora estará presente em 12 cidades brasileiras de atuação do grupo MRV&Co. “Nós enxergamos uma oportunidade muito grande nesse segmento de médio padrão e temos a meta de, em pouco tempo, ser um player extremamente relevante no mercado”, diz Rodrigo Resende, diretor de Novos Negócios da MRV&Co.
Guilherme Benevides, vice-presidente de operações da Gafisa, ressalta a mudança de comportamento. (Foto: Divulgação)
Mapa da mina
Neste ano, as construtoras e incorporadores poderão ganhar o papel de protagonistas na recuperação e retomada econômica brasileira. Para a construtora Tarjab, a projeção de 2021 é chegar a R$ 400 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV), o que representa um grande salto em relação ao ano anterior. "Como o ciclo do nosso negócio é longo, devemos sempre considerar os nossos números em um horizonte de pelo menos três anos para ter uma clareza maior", explica Carlos Borges, diretor-presidente da Tarjab.
Borges ressalta a mudança de comportamento do consumidor como legado positivo neste período de tantas incertezas relacionadas à pandemia, principalmente a maior conexão com a sua casa. “Isso trouxe a necessidade de otimização e preparação de espaços para conciliar o home office com as atividades de esportes, repouso e entretenimento, que são feitas hoje muitas vezes no mesmo ambiente. Sem contar com a percepção do desempenho acústico, térmico e luminoso, que tende a se acentuar e será cada vez mais exigida pelo consumidor".
Novo ciclo
Com cerca de mais de 1,3 milhão de metros quadrados de área construída em 2020, a MPD comemora seu desempenho, em meio a um cenário que a curto e médio prazo revela-se promissor. “Os imóveis sempre foram considerados como moeda forte, sendo um patrimônio bastante sólido mesmo em momentos de incerteza, como o que vivemos no último ano. Para aqueles que já tinham a intenção de comprar um imóvel, seja para morar ou como investimento, esses fatores fazem com que esse seja um momento muito oportuno”, revela Milton Meyer, CEO da MPD.
Meyer também reforça que a tendência de busca por moradias maiores e de alto padrão já era uma realidade em 2019. “Desde o ano passado, temos a soma da questão comportamental com a financeira, mais uma vez, para explicar esse aumento contínuo nas vendas. Os imóveis continuam sendo uma forma segura de investimento e vários aspectos impactam essa decisão: a continuidade da pandemia, a incerteza sobre uma forte recuperação do cenário econômico em breve, as facilidades de financiamento, muitas fronteiras fechadas impedindo viagens ou dificultando até mesmo investimentos no exterior. Em decorrência disso, o mercado imobiliário, de maneira geral, segue aquecido”, garante.
Para atender essa demanda em 2021, os lançamentos da MPD virão com algumas opções de metragem para diferentes perfis de moradores, com foco na valorização do espaço interno e áreas comuns com lazer e espaços verdes, assim como local para coworking, academia e espaço delivery.
Bianca Setin, diretora de operações da VGV. (Foto: Divulgação)
Decisão de compra
A Gafisa estima que em 2021 lançará entre R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão em VGV, além de continuar trabalhando com imóveis de médio, médio alto, alto e altíssimo padrão, acima de R$ 10 mil o metro quadrado, localizados em regiões consolidadas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. “A pandemia atingiu todos os setores, indistintamente. No entanto, o segmento imobiliário mostrou que não ficou parado, especialmente o residencial, com base nos fundamentos de juros baixos e de repensar a decisão de moradias. Em imóveis de R$ 300 mil a R$ 800 mil, a decisão de compra está ligada à manutenção do crédito imobiliário. Os consumidores desta faixa querem ver os apartamentos, buscar agendas positivas e manter a decisão de compra. Os consumidores acima de R$ 1,5 milhão têm um comportamento mais de liquidez e é mais difuso. Eles não estão decidindo tão rapidamente, mas estão presentes. O setor está muito capitalizado, coordenado, seguindo boas práticas de precificação”, afirma Guilherme Benevides, vice-presidente de operações da Gafisa.
Mais um exemplo expressivo, vem do Grupo Patrimar, que em 2021 visa dobrar de tamanho. Em resposta ao destaque apresentado na prévia operacional do quarto trimestre de 2020, a construtora e incorporadora que atua nos segmentos de baixo, médio e alto padrão, fechou o ano com resultados históricos de lançamentos e vendas, que apontam um forte crescimento para 2021, devido ao aumento das operações.
No ano passado, a companhia lançou cerca de R$ 734,1 milhões em VGV, com crescimento de 45,9% comparado ao período anterior. Vale destacar que dois empreendimentos de alta renda da companhia foram lançados em dezembro de 2020, totalizando um VGV de R$ 439,5 milhões, impactando positivamente o volume de vendas contratadas no primeiro trimestre de 2021. O segmento de alta renda continua sendo o mais representativo nas vendas da empresa, com 71,3% de participação no último trimestre de 2020 e 75,0% no total daquele ano. “Os resultados reforçam o compromisso com a rentabilidade da companhia”, segundo Alex Veiga, CEO do Grupo Patrimar.
Médio e alto padrão
Na Setin Incorporadora, o novos empreendimentos caíram de seis, com um VGV de R$ 700 milhões, em 2019, para quatro, com VGV de R$ 500 milhões, em 2020, redução de 28,5% no VGV. “No ano passado, vendemos o equivalente a 80% do valor comercializado em 2019. Foi um período com volume menor de vendas, mas comparando os lançamentos, 2020 foi muito melhor, pois lançamos menos, mas vendemos proporcionalmente mais. Consumimos, portanto, parte do nosso estoque, o que é saudável para a empresa e motiva o setor”, explica Bianca Setin, diretora de operações da companhia.
Os imóveis de médio e alto padrão também tiveram seus espaços, como mostra a MDP Engenharia, que lançou o Verve Pinheiros e o Level Alphaville, ambos na cidade de São Paulo. O primeiro teve 90% das unidades vendidas em menos de três meses e o segundo tem promessa de ser um dos empreendimentos mais altos da região. Para 2021, já estão anunciados o Hera Perdizes, novidades em Alphaville que agregam inovação e modernidade em seus conceitos e arquiteturas, bem como produtos que atendam a nichos específicos de moradores, como adianta a diretora de incorporação da empresa, Débora Bertini.
Taxa de juros
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc ) considera acertada a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central proferida no início de maio de aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 2,75% para 3,5% ao ano. De acordo com a Associação, mesmo com o aumento da Selic, os juros reais seguem negativos em 2,6%, mantendo a atratividade do mercado imobiliário para o investidor e para o consumidor final. Aliado a isso, o volume de financiamentos do setor deve seguir em um ritmo forte, já verificado pelo volume de contratações de crédito imobiliário, que avançou 112% no primeiro trimestre deste ano. “Os juros seguem em patamares baixos e, mesmo com essa ligeira variação, o mercado imobiliário segue atrativo”, comenta Luiz França, presidente da Abrainc.
Vitacon planeja contratar 700 trabalhadores em 2021
Seguindo a tendência de alta na geração de empregos no setor de construção civil, a incorporadora imobiliária Vitacon planeja contratar 700 pessoas neste ano. Em 2020, a empresa fez 874 contratações. Essa força de trabalho foi essencial para manter o cronograma de lançamentos da empresa, que já teve três novos prédios finalizados no início deste ano e prepara mais quatro que devem ser lançados até dezembro.
Apesar das incertezas da economia e a maior queda anual do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que registrou decréscimo de 4,1% em 2020, o setor de construção civil não parou e continuou gerando empregos. Segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no fim do ano passado, o segmento foi o que registrou a maior alta em contratações, com 10,7%, com 574 mil novas oportunidades de trabalho.
Diante do cenário positivo, a Vitacon alcançou R$ 1,35 bilhão no VGV (Valor Geral de Vendas), em 2020. Para atingir esse resultado, a empresa apostou em multicanais de atendimento para fortalecer a experiência do consumidor. Com ampla presença digital, a companhia registrou 76% de vendas online, sendo que 60% dos compradores nunca visitaram um stand de vendas para efetuar a compra.
"2020 foi um ano muito desafiador em todos os sentidos, mas conseguimos alcançar excelentes resultados. Cumprimos o planejamento dos empreendimentos previstos que resultaram em um lucro líquido projetado de 90 milhões, sendo um ROE (retorno sobre o patrimônio) de 19%. Agora seguimos com o planejamento para acelerar o nosso crescimento, garantindo que 2021 traga mais resultados positivos", explica Ariel Frankel, CEO da Vitacon.