O sucesso de Ralph Lauren
Aos 84 anos, o estilista é o mais bem-sucedido dos Estados Unidos, responsável pelo aperto de mão entre a elegância britânica e o estilo atlético de seu país.
Aos 84 anos, o estilista é o mais bem-sucedido dos Estados Unidos, responsável pelo aperto de mão entre a elegância britânica e o estilo atlético de seu país.
Ralph Lauren é o estilista de maior sucesso dos Estados Unidos. Construiu a marca a partir de uma visão otimista de seu país e a exportou para o mundo. Chegou antes de Giorgio Armani e lançou primeiro uma linha de utensílios domésticos e uma fragrância. Philippe Starck, Tom Ford, Miuccia Prada? Está acima de todos eles. Se incluir aqueles não mais entre nós — Saint-Laurent, Gio Ponti, Le Corbusier, Chanel, Enzo Ferrari e Karl Lagerfeld —, seu lugar fica inalterado.
Ralph Lauren cresceu no Bronx, filho de imigrantes russos: “Quando criança, me vestia bem.” Seu primeiro emprego, como vendedor na Brooks Brothers, tornou-o obcecado por roupas. Alan Flusser, autor de Ralph Lauren: in his own fashion, cita um colega de trabalho: “Ralph podia ganhar 50 dólares por semana, mas vinha vestido como se ganhasse um milhão de dólares”. O talento sempre foi instintivo.
“Aos 24 anos, pedi a meu chefe, que fazia gravatas em Boston, a chance de montar uma linha”, lembra o estilista. “Ele disse que o mundo não estava pronto para RalphLauren.” Mas Ralph Lauren estava pronto para o mundo. Em 1967 criou gravatas largas, quando o skinny mandava. “Entrar na Bloomingdale’s já foi um sucesso.”
Em 1971, estreou o conceito de loja de grife, a Polo by Ralph Lauren, em Los Angeles. “Fazia as roupas que não conseguia encontrar. Não achava o estilo do duque de Windsor e de Fred Astaire à venda.” Agora, quando olha as fotos de 1930 do duque em malhas Fair Isle, casacos esportivos de tweed e ternos macios, enxerga o aperto de mão entre a elegância britânica e o estilo atlético estadunidense. E 50 anos antes de tal coisa existir, o conjunto é “muito Ralph Lauren”. Não à toa Very Ralph intitula o documentário de 2019 sobre sua vida.
Pela iconoclastia
O estilista desenha os uniformes olímpicos dos EUA desde 2008, mas há décadas fornece as roupas do sonho americano. “Casar alfaiataria e jeans era iconoclastia há 40 anos”, lembra ele. De ternos a camisa polo, de lençóis a mesinhas laterais, tapetes e copos, e do hambúrguer Polo Bar a umsuéter de urso Polo para seu cachorrinho, a visão de Lauren tocou a todos. Hoje, aos 84 anos, ele se mantém descontraído, jaqueta cáqui safári, calças de jogging cinza-marrom, tênis New Balance. Os cabelos brancos são abundantes. Os olhos estão mais suaves e a memória, às vezes nem tão rápida, mas falar sobre estilo o ilumina.
Lauren volta ao início da sua trajetória de 56 anos. “Comecei com um empréstimo de US$ 50 mil e os bancos acharam que eu não tinha suficiente. Vender parte da empresa para a Goldman Sachs foi como desistir de um filho, mas a recuperei.” E houve outros desafios. Em meio à queda nas vendas, deixou o cargo de CEO em 2015, permanecendo como presidente-executivo e diretor de criação. O homem, desde 2017, é Patrice Louvet, com supervisão de Lauren no design.
“Trabalho nas coleções, mas tenho grandes designers há 30 anos. Estou feliz com o que construí.”
Foi um dos primeiros a usar pessoas negras em campanhas de moda. “Havia modelos negros na passarela, mas não em anúncios ou representando marcas.” Em 1993, contratou o jovem Tyson Beckford, que passou a ser o rosto da fragrância Polo Sport e o primeiro supermodelo negro. “Sou judeu. Conheço a forma como o mundo era – e ainda é.” A empresa se viu culpada de apropriação cultural quando usou imagens dos nativos americanos em 2014. A Ralph Lauren Corporation retirou os anúncios e pediu desculpas. Desde então, um conselho de conscientização cultural e um consultivo externo de nativos americanos e indígenas ajudam-na a enxergar essas questões.
“Você viu os carros?”, pergunta referindo-se aos automóveis na garagem de Nova York. Por dois andares deste “Louvre” automotivo, são dezenas. Restaurados estão o Mercedes-Benz SSK “Count Trossi”, o cup 300 SL “Gullwing”, o 300SL Roadster, o Type 57SC Atlantic Coupe e o Gangloff Drop Head Coupe da Bugatti. O XK120 Alloy Roadster da Jaguar e os XKD e XKSS, da Ferrari, permanecem ao lado de Porsches, Morgans, Bentleys e McLarens de F1. Há caminhões e jipes antigos e o Mercedes conversível da esposa, Ricky. “Quando comecei a ganhar dinheiro, em vez de arte, comprei carros que mandei restaurar. Eles são arte para mim. E os valores continuam a subir.”
Lauren recebe aplaudos após seu desfile de moda de 50 anos no Central Park, em 2018.
Carros como arte
Em Manhattan, Lauren viu Bentleys extraordinários. “Procurei o dono de um velho Bentley na Inglaterra”, lembra. “O Mercedes Gullwing se parece comigo, assim como o Jaguar XK120 e o 140. Fico louco com meus carros.” Uma insanidade relativa. “Pedi ao chefe da McLaren um exemplar do showroom e ele respondeu que eu teria de desmontá-lo por conta da legislação. Paguei um milhão de dólares, mas agora vale US$ 30 milhões.” Ele dirige e leva os carros para casa em Bedford, Nova York. “Comprei um novo, o Gordon Murray T.50.” Murray deixou a McLaren para fundar a Gordon Murray Automotive e, com ela, produzir apenas 100 modelos do T.50.
Em 1986, Ralph Lauren teve um tumor cerebral benigno removido. Pouco depois da operação, conhe- ceu Nina Hyde, editora do Washington Post com câncer de mama. Quis ajudá-la e financiou pesquisas sobre a doença. “Não pode ser ‘eu, eu, eu’ o tempo todo. Você tem de retribuir.” Em 1989, foi cofundador do Nina Hyde Center for Breast Cancer Research, em Washington. Hyde morreu no ano seguinte, mas Lauren dobrou a aposta. Em 1994, ajudou a estabelecer o Fashion Targets Breast Cancer com o Conselho de Designers de Moda da Amé rica, desenhando o logotipo e arrecadando US$ 2 milhões por meio da venda de 400 mil camisetas.
O Pink Pony Fund da Ralph Lauren Corporate Foundation foi criado em 2001 e o Centro Ralph Lauren para Tratamento do Câncer, no Harlem, em 2003. Ele ainda construiu o Memorial Sloan Kettering ao descobrir que muitos morriam no bairro devido à falta de opções locais de tratamento. Seguiram-se outras colaborações, com o Royal Marsden, em Londres, o maior centro de câncer da Europa; e o Centro Johns Hopkins para Saúde Indígena; bem como uma promessa de US$ 25 milhões para criar mais cinco centros nos EUA. A empresa promove proteção ambiental, diversidade e inclusão.
Tenho uma última pergunta, sobre sua família. Seus três filhos – Andrew, 54, que trabalha com cinema; David, 51 anos, presidente da Ralph Lauren Corporate Foundation; e Dylan, 49, fundadora do Dylan’s Candy Bar – apareceram em campanhas durante toda a vida. Está casado com Ricky há 59 anos. “Ela apoiou tudo. Nunca se importou com moda. Lê muito, é psicoterapeuta. Linda e real. E meus filhos são pessoas muito legais.” Isto significa sucesso para Ralph Lauren. Sua marca, segundo estimativas, deu a ele mais de US$ 8 bilhões, mas a família é a prioridade, “é minha vida”.