"Setor de infraestrutura será o grande responsável por atrair capital nacional e estrangeiro para a retomada econômica", afirma Wilson Ferreira Junior
Responsável por 30% da geração de energia elétrica do País, Eletrobras fortalece suas operações para atender a retomada econômica e a busca por fontes renováveis.
Eletrobras fortalece suas operações para atender a retomada. (Foto: Divulgação/Eletrobras) |
Desde a fundação, em 1962, a Centrais Elétricas Brasileiras S/A – Eletrobras – compõe e ajuda a transformar a matriz energética brasileira com foco na construção de um cenário de prosperidade. Em 31 de dezembro de 2019, o Brasil alcançou a capacidade instalada de 172 GW, dos quais 51 GW provêm da própria Eletrobras, o equivalente a 30%. Na transmissão, a empresa detém 44,7% do Brasil — total de 71.503 km de linhas. Durante a pandemia, a geração da companhia foi a mais utilizada, chegando a 40% entre abril e junho.
Com estes números, a Eletrobras registrou lucro líquido de R$ 4,6 bilhões no segundo trimestre do ano (2T20) e Ebitda de R$ 7,8 bilhões – valor 483% superior ao reportado no 2T19, impactado principalmente pelo efeito da remensuração do ativo de RBSE (Rede Básica Sistema Existente) e pela queda de 26% de despesas de Pessoal, Material, Serviços e Outros (PMSO). A companhia contabilizou R$ 12,5 bilhões de receita bruta no trimestre, dos quais R$ 5,5 bilhões referem-se à remensuração do ativo de RBSE decorrente da revisão tarifária das concessões de transmissão renovadas.
Para sustentar esse nível de competitividade, Wilson Ferreira Junior, presidente da companhia, destaca que o Plano Estratégico 2020-2035 – com uma previsão de investimento que ultrapassa a cifra de R$ 200 bilhões – foi idealizado para manter a empresa no rumo do crescimento e capaz de enfrentar os desafios impostos pelo mercado. “Já temos diversas ações em curso para esta finalidade. Essas ações têm diferentes níveis de maturidade, em projetos mais ou menos desenvolvidos, e contam com a participação de agentes externos, públicos e privados. São ações voltadas para a modernização de nossas usinas, desenvolvimento e capacitação em novas fontes de geração, reestruturação da comercialização e gestão integrada da carteira de novos projetos, todas contando com a atuação integrada das empresas Eletrobras. Com isso, poderemos aproveitar as oportunidades da inovação, com a digitalização, a inteligência artificial e a automação sendo empregadas para modernizar a operação e a manutenção de nossos ativos”, garante.
Planejamento
O executivo avalia que o governo federal tem tratado a infraestrutura como pauta prioritária para o desenvolvimento do País e o Plano Estratégico da companhia se alinha a essa proposta. “É importante destacar, entretanto, que o valor de investimento mencionado só é possível em um cenário em que a Eletrobras é capitalizada. Sem a capitalização, conforme previsto no Plano, essa capacidade de investimento cai pela metade, não ultrapassando R$ 95 bilhões ou R$ 6 bilhões ao ano. No cenário da capitalização, temos uma empresa fortalecida, mantendo sua fatia de mercado e continuando como o principal player do seu setor, contribuindo para a sua expansão e para a oferta de energia. Podendo investir mais, iniciando novos empreendimentos e, inclusive, aumentando sua participação em outras fontes, como a eólica e a solar, o preço da energia como um todo irá baixar. Desta maneira, consumidores e indústria serão impactados positivamente”, evidencia Ferreira Junior.
Como a infraestrutura energética será crucial para a retomada econômica, é possível dizer que o setor elétrico é um termômetro com o qual gestores públicos, economistas e empresários podem medir a saúde de uma economia pelo aumento ou pela redução da demanda por energia. Wilson Ferreira Junior enfatiza que nos últimos 15 anos, o Brasil investiu cerca 2% do PIB em infraestrutura enquanto outros países da América Latina, como Peru, Chile e Colômbia, investiram entre 4 e 6%. “Não tenho dúvida de que, com bons projetos, boa regulação, segurança jurídica e políticas consistentes, o setor de infraestrutura será o grande responsável por atrair capital, nacional e estrangeiro, para a retomada econômica, gerando emprego e renda para a população”, afirma.
Apesar do panorama e grande interesse do governo em privatizar a Eletrobras, uma prioridade dentro da agenda do Pró-Brasil, a pandemia de Covid-19, mudanças na equipe econômica, atrasos em outras pautas e resistência do Congresso ameaçam a velocidade das discussões. Ao ser perguntado, durante a palestra on-line Brasil em Reforma, da 21ª Conferência Anual Santander, realizada no dia 18 de agosto, sobre as expectativas com relação à privatização de estatais, em especial a da Eletrobras, o presidente da Câmara Rodrigo Maia disse que as duas casas legislativas não têm conseguido chegar a um acordo sobre o assunto, e que “não fará muita diferença” privatizar a empresa neste ou no próximo ano. No entanto, a expectativa positiva do setor é que os parlamentares concluam o debate e a aprovação até o fim deste semestre. De acordo com o presidente da Eletrobras, o processo de privatização terá repercussão positiva para os consumidores em termos de redução tarifária, oferta de serviços inovadores e com mais qualidade.
Homem de desafios
No cargo que ocupa desde julho de 2016, Wilson Ferreira Junior tem uma longa história com o setor de energia. Na Companhia Energética de São Paulo (Cesp) exerceu diversas posições, incluindo o de Diretor de Distribuição (1995 a 1998). Foi presidente da RGE de 1998 a 2000, presidente do Conselho de Administração da Bandeirante Energia S.A. de 2000 a 2001 e presidente da CPFL Paulista entre 2000 e 2002. Em 2002, tornou-se presidente da CPFL Energia, cargo que ocupou até 2016. Presidiu também a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) entre os anos de 2009 e 2010.
Na Eletrobras, sua gestão está sendo marcada pela grande reestruturação e avanços da companhia nos últimos anos. “Começamos com uma redução dos 26 mil empregados em todo o sistema e vamos chegar, ainda este ano, próximo de 12 mil colaboradores. Conseguimos uma redução de alavancagem, com redução do indicador dívida líquida/ Ebitda de 8,8 para um indicador menor do que 2, graças ao nosso compromisso com a disciplina financeira. Melhoramos nossa eficiência operacional por meio da automação de processos, da implantação de um sistema único de gestão (ProERP) e da criação de um Centro de Serviços Compartilhados, e voltamos a reportar lucro nos resultados de 2018 (R$ 13,3 bi) e 2019 (R$ 10,7 bi) depois de um período em que chegamos a ter prejuízo acumulado de R$ 31 bilhões, entre 2012 e 2015”, detalha.
Com todas essas melhorias, o mercado reconheceu os esforços do CEO e de sua equipe. O valor de mercado da Eletrobras passou de R$ 9 bilhões, em 2015, para R$ 60 bilhões, além disso a base acionária aumentou mais de 180% no mesmo período. “É importante frisar que outras iniciativas importantes ainda estão em curso, como o projeto Orçamento Base Zero, que vem para consolidar práticas de gestão focadas na otimização de recursos em todas as empresas Eletrobras, e o projeto Transformação Cultural, que busca disseminar uma cultura de meritocracia, colaboração, criatividade e inovação entre os gestores e colaboradores”, diz.
Mundo verde
Em consonância com os novos rumos do planeta, o presidente da Eletrobras também lidera a busca por soluções que priorizem a energias renováveis e, nesse sentido, a Eletrobras já investe em estudos e parcerias para o desenvolvimento de projetos, identificando as alavancas atuais e futuras de geração de valor. Esses projetos são chamados no plano estratégico de os ‘Ds’ do setor elétrico: descarbonização, diversificação, descentralização, digitalização e disrupção. “Algumas das diretrizes de Desempenho e Negócio e de Gestão que elencamos dizem respeito justamente a essas mudanças: expandir a geração, priorizando energias limpas; acelerar a digitalização e automação dos processos de negócios e de gestão; ampliar a atuação no varejo de energia; desenvolver o segmento de trading de energia; e investir em Pesquisa & Inovação, criando um ecossistema inovador a partir das capacidades internas e por meio da promoção de parcerias com startups”, pondera Wilson Ferreira Junior.
O CEO considera que é uma tendência para todas as grandes empresas de geração buscar diversificar sua matriz de maneira a conseguir uma situação de complementaridade de fontes energéticas, se beneficiando da diversidade da oferta que temos no País. “A nossa predileção é por projetos rentáveis de baixo impacto ambiental e menor risco de implantação. Em nossa carteira de empreendimentos já existem vários projetos maduros para investimento. Nossas empresas estão estruturadas e capacitadas para atuarem nesse segmento. A ampliação será consequência dessas premissas, lembrando que já possuímos diversos parques eólicos, tanto no Brasil como no exterior. Destacamos também projetos como os das usinas solares flutuantes, que já implantamos no reservatório de Sobradinho, e que permitem racionalizar a estrutura de transmissão já implantada para atender às hidrelétricas, possibilitando flexibilidade e o aproveitamento do extraordinário potencial que o Brasil tem para a exploração da energia solar”, conclui.