Nicole Mattar, do Estaleiro Atlântico Sul: 'Mercado está mais atento a perfis de liderança feminina, mas ainda vejo um longo caminho a ser percorrido para o equilíbrio'

Mulheres que atuam em corporações do setor de infraestrutura e Indústria pesada constroem o caminho da equidade de gênero.

NICOLENicole Mattar Haddad Terpins, CEO do Estaleiro Atlantico Sul S.A. (Foto: Divulgação)

Diante do cenário em que a diversidade e inclusão está longe de ser uma realidade em todas as empresas e segmentos da economia mundial, o grupo Infra Women Brazil surgiu no final de 2019 com a proposta de promover a presença feminina no setor. Com mais de 850 mulheres trabalhando em prol da infraestrutura no Brasil, a organização quer disseminar conhecimento técnico e de mercado por meio da produção de conteúdo, organização e participação em iniciativas e eventos, além de promover a troca de experiências, capacitação e mentoria entre seus membros.

Marcia Ferrari, cofundadora do Infra Women Brazil, diretora Certificação da ABRAFAC e membro do conselho do IREE Infraestrutura, explica que a iniciativa surgiu da inquietação do viés existente sobre a atuação de mulheres no setor.

“Este sempre foi um setor muito técnico e com predominância de engenheiros, uma profissão que até pouco tempo atrás não era uma escolha ‘natural’ das mulheres. Isto posto, nosso objetivo é mudar o status quo a partir de ações concretas como desenvolvimento de debates temáticos com o protagonismo feminino, a promoção do contato entre nossas associadas através de grupos de interesse específicos que chamamos de lideranças setoriais, participação ativa em conferências, eventos seminários para disseminar o conhecimento no ramo e muito mais”, comenta.

O movimento vai na contramão da realidade mostrada segundo índices apontados, por exemplo, pela pesquisa Global Learner Survey, realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consult. O estudo reuniu 6 mil mulheres dos países Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, México, Índia e China, para entender a percepção delas em relação às suas carreiras e o impacto da pandemia.

Marcia Ferrari
Marcia Ferrari, cofundadora do Infra Women Brazil. (Foto: Divulgação)

O estudo deixou evidente que as mulheres ainda enfrentam barreiras na carreira, segurança e independência: 74% das entrevistadas acreditam que todos os tipos de preconceito e discriminação são pontos difíceis na hora de buscar novas oportunidades de trabalho, sendo que 65% afirmaram que a discriminação de idade é a principal questão a ser combatida.

Bem-visto

Um relatório recente do Linkedin traz estímulos ao revelar que 88% das companhias brasileiras preferem fazer negócios com empresas que tenham a diversidade como um pilar fundamental. O dado pode ser um diferencial nos atos da organização por criar oportunidades de incentivo à promoção à equidade de gênero. A executiva acrescenta que dar visibilidade a mulher no papel de protagonista no segmento busca influenciar positivamente as novas gerações. “Através do exemplo é possível criar novos modelos mentais e desta forma atrair talentos para esta indústria vital ao desenvolvimento do país”, avalia.

CECÍLIA CAVAZANICecilia Cavazani, co-CEO da Construtora Cavazani. (Foto: Divulgação)

Engajamento

Em cargos de liderança na construção civil e em indústria naval, Cecilia Cavazani e Nicole Mattar Haddad Terpins, co-CEO da Construtora Cavazani e CEO do Estaleiro Atlantico Sul S.A., respectivamente, abordam as mudanças ocorridas quando o assunto é a posição feminina frente às empresas de setores onde a maioria das lideranças ainda é de homens.

“Quanto mais mulheres ocuparem cargos de liderança, C-level e em conselhos de administração, mais outras mulheres saberão que seu lugar também é ali. A mulher na liderança é porta para outras diversidades”, afirma Cecilia Cavazani. Para ela, a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho vai além de remuneração e de cargos ocupados. O sexo feminino precisa enfatizar mais suas competências. “É por essa razão que mulheres buscam mais cursos e especializações. Porque elas precisam comprovar a competência a todo momento, enquanto aos homens essa competência já é presumida”, cita.

Nicole Mattar Haddad Terpins iniciou sua carreira ao se formar em Direito e escolheu a área empresarial, em especial, societário e fusões e aquisições, com o foco no crescimento das empresas, contribuindo para geração de riqueza e cumprimento dos objetivos sociais. A executiva reforça que não acredita na destinação de cargos para um “gênero”, mas sim para uma pessoa, em função do seu perfil, seja essa pessoa homem ou mulher.

“Mas o fato é que o mercado está mais atento a perfis de liderança feminina, e ser mulher não é hoje mais visto como uma vulnerabilidade, mas como uma fortaleza. Ainda vejo um longo caminho a ser percorrido para alcançar o equilíbrio, mas creio que isso ocorrerá com o tempo, de forma mais natural, através da ascensão de cada vez mais mulheres e de uma geração mais consciente sobre a importância da diversidade”, afirma. No entanto, para área em que atua, a mudança ainda é ínfima, segundo ela. “A participação das mulheres na indústria pesada ainda é bastante inferior. Vejo mudança, mas ainda inexpressiva”, analisa.

Roberta-Soares_BOXEm 2021, Roberta Soares chegou ao posto de vice-presidente de operações da Novelis. (Foto: Divulgação)

Metas

A Novelis, líder mundial em laminados e reciclagem de alumínio, é uma das empresas mais atuantes pela equidade de gênero no setor. No ano passado, a companhia estabeleceu novas metas globais de diversidade e inclusão e determinou que, até 2024, pelo menos 30% das posições de liderança sejam ocupadas por mulheres.

“Abraçar a diversidade é um compromisso inadiável que a Novelis assumiu e seguiremos direcionando nossos esforços para nos tornarmos uma organização plenamente inclusiva. Acreditamos que conviver de forma harmoniosa com pessoas diferentes é fazer o certo, pois aprendemos não só a respeitar o espaço do outro, mas também nos beneficiar da riqueza de conhecimento que a diversidade nos traz. É um benefício para a cultura corporativa e para a vida pessoal de cada integrante da empresa”, afirma Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais.

Um dos marcos mais importantes para a diversidade de gênero da Novelis no Brasil aconteceu em abril de 2021. Foi nessa ocasião que Roberta Soares chegou ao posto de vice-presidente de operações, a primeira mulher a alcançar o cargo e os desafios de gerir o dia a dia das fábricas da companhia, que contam com uma equipe de cerca de 1200 profissionais.

EquinoxGold_Angela VasconcelosVice-presidente Financeiro e Administrativo da Equinox Gold, Angela Vasconcelos. (Foto: Divulgação)

Lapidando o futuro

O setor mineral brasileiro, nos últimos anos, tem atuado com a proposta de construir um novo olhar de respeito e valorização das mulheres em todos os níveis das organizações e em suas diversas áreas. Diante desse cenário, surgiu, em 2019, o Women in Mining (WIM) Brasil, movimento de caráter internacional, que visa à ampliação e ao fortalecimento da participação feminina na mineração. A Equinox Gold assinou em março a carta de adesão ao WIM, reforçando seu compromisso com a execução de estratégias que estimulem ambientes de trabalho inclusivos, diversos e que incentivem a igualdade de gênero, especialmente nos cargos de liderança.

A partir de agora, a empresa trabalhará com foco nas diretrizes e metas do Plano de Ação do Women in Mining Brasil. Entre os objetivos, o principal deles é construir uma cultura capaz de absorver mais mulheres na atividade. Atualmente, elas compõem mais da metade da população brasileira, no entanto, não alcançam um quinto da representação nas organizações mineradoras.

“A adesão ao WIM significa nosso comprometimento em ser uma empresa efetivamente engajada nas propostas do movimento e que nossos esforços irão bem mais além de uma sensibilização das pessoas para o tema. Envolve a definição de metas e indicadores, a fim de estimular um ambiente de trabalho inclusivo e plural em nossas unidades, destacando a participação das mulheres como detentoras de expertise técnica, excelência operacional e espírito inovador”, argumenta a vice-presidente Financeiro e Administrativo da Equinox Gold, Angela Vasconcelos.