Investimentos em energia renovável poderão mover a economia no pós-pandemia

Segundo a avaliação da EY, o foco em energia renovável e amigável ao clima poderia criar milhares de empregos diretos e reduzir emissões de gases de efeitos estufa ao longo dos próximos anos.

Divulgação/Ari Versiani/PAC
Investimentos em energia renovável poderão mover a economia. (Foto: Divulgação/Ari Versiani/PAC)

Uma pesquisa da consultoria financeira global, Ernst & Young (EY), mostrou que programas de estímulo que apoiam a energia limpa como um caminho para sair da recessão criariam quase três vezes mais empregos para cada dólar gasto no desenvolvimento de combustíveis fósseis. Segundo a avaliação da EY, o foco em energia renovável e amigável ao clima poderia criar milhares de empregos diretos e reduzir emissões de gases de efeitos estufa ao longo dos próximos anos.

André Flávio, diretor executivo do escritório brasileiro da consultoria, diz que esse também seria um caminho eficiente para a realidade do Brasil. Nas palavras do especialista, seria importante aproveitar o momento para incentivar as fontes renováveis que podem trazer estímulos à economia de forma sustentável. “Apesar da forte retração da economia e consequente redução do consumo de energia elétrica, o que causa postergação dos investimentos, surge uma oportunidade de se planejar um novo padrão para as operações”, avalia.

Ele acrescenta que o relatório World Energy Investment 2020, publicado recentemente pela IEA (International Energy Agency), prevê um cenário com uma retração de 20% nos investimentos globais em energia de maneira geral. Porém, com uma retração maior no investimento do suprimento de combustíveis: petróleo, gás e carvão.

Modernização

Ainda na visão do especialista, o Brasil é um país que demanda melhoria de infraestrutura em vários setores como saneamento, estradas, ferrovias, urbanização e outros. “O investimento em fontes renováveis de energia, bem como todas as tecnologias digitais que modernizam o setor elétrico, trariam enormes possibilidades de aumentos de postos de trabalho, não somente na implantação da infraestrutura, mas também em áreas como pesquisas, manufatura de equipamentos e capacitação de profissionais”, finaliza.

A Irena, sigla em inglês para Agência Internacional de Energia Renovável, engrossa o couro da EY. Segundo a agência, avançar com transformação focada em energia renovável é uma oportunidade para cumprir as metas climáticas internacionais, ao mesmo tempo em que se promove crescimento econômico, criando milhões de empregos e melhorando o bem-estar da humanidade até 2050.

O argumento tem por base no relatório Global Rebewables Outlook publicado recentemente pela Irena. Enquanto um caminho para aprofundar a descarbonização requer investimentos em energia de até US$ 130 trilhões, os ganhos socioeconômicos de tal medida podem ser massivos, revela o relatório.

Investimento real

A Alsol Energias Renováveis, braço do grupo Energisa, investiu neste ano R$ 70 milhões em quatro usinas de geração solar distribuída em Minas Gerais. Juntas, as quatro vão gerar 240 empregos diretos, de acordo com cálculos da empresa. As usinas têm capacidade de geração de cerca de 20,3 MWp (Megawtt pico), energia suficiente para abastecer 20 mil residências. O foco principal dos projetos - dois deles já em operação - é o atendimento a pequenas e médias empresas, com objetivo de levar energia a custo mais competitivo a empreendedores neste momento de crise provocada pela Covid-19.

O presidente da Alsol, Geraldo Mota, acredita que os investimentos em geração solar reforçam a diversificação de serviços de energia oferecidos pelo Grupo Energisa. “Estamos preparados para suprir diferentes necessidades dos nossos clientes, sobretudo, para atender a demandas de pequenos e médios empresários. Desta forma, é possível reduzir custos sem investir na construção de plantas solares e, assim, manter os negócios, gerar empregos e movimentar a economia local”, destaca.

Mota avalia que isso se tornou ainda mais atrativo neste momento de crise provocada pela pandemia de Covid-19. “Já do ponto de vista da sustentabilidade, as fazendas solares são soluções de baixo impacto ambiental, que contribuem com energia limpa e renovável para a matriz energética do País”, explica. Na visão do presidente da Alsol, o Brasil tem bastante potencial na geração solar fotovoltaica, e isso será fundamental na recuperação pós-pandemia.

Rodrigo Mello, fundador e CEO da Kroma Energia, gigante do mercado livre de energia com faturamento anual superior aos R$ 800 milhões, diz que as migrações do mercado tradicional de energia para o de energia renovável está indo de vento em popa. “A tendência é tornar o mercado 100% livre assim como nos países desenvolvidos”, aposta.

Por isso, a empresa realiza ações para ajudar a desmitificar o medo ao novo. A Kroma investe ainda em energias renováveis e com o imenso Complexo Apodi, a empresa evita a emissão anual de 200 mil toneladas de CO2.

As plantas estão localizadas no município de Quixeré, no Ceará e absorveram investimento de R$ 700 milhões. Juntas, produzem energia limpa para mais de 170 mil residências médias brasileiras. Com área equivalente a 400 campos de futebol, o projeto de 162 MW possui cerca de 500 mil painéis fotovoltaicos instalados. O complexo tem como acionistas as brasileiras Kroma Energia, Z2 Power e Pacto Energia, além das norueguesas Equinor e Scatec Solar.

Mercado aquecido

A procura por energia solar explodiu no Brasil. A importadora catarinense de painéis solares, Tek Trade, registrou em 2019 mais de R$ 6,7 milhões em vendas de equipamentos. Já em 2018 alcançou R$ 2,8 milhões, o que representa um aumento de 41% no período. “O mercado de energia solar tem crescido bastante no Brasil, mas ainda possui grande potencial de desenvolvimento se comparado com outros países, seja pelas dimensões continentais ou pelo clima favorável. Porém, atualmente, fatores como o desenvolvimento das tecnologias cada vez mais eficientes, acessíveis e com opções facilitadas de financiamento têm contribuído para o aumento de interessados, desde indústrias, empresas, comércios até residências”, explica o diretor da Tek Trade, Sandro Marin.

“Acredito que mesmo com a crise, provocada pela pandemia do Covid-19, devemos ter um incremento de 7% do volume de placas importadas no segundo semestre deste ano, se comparado com o mesmo período de 2019”, avalia.

Para ele, a redução do custo deve estimular a criação de novos projetos tanto residenciais quanto empresariais. “Mesmo quem não é do ramo percebe rapidamente, analisando os números, que vale a pena investir em um sistema como esse”, afirma Marin. A Tek Trade importa e comercializa para todo o Brasil placas de silício que possuem até 30 anos de vida útil, e que possuem previsão da eficiência é de 80% em geração de energia da inicial, e mesmo depois deste período, elas vão continuar produzindo. Já a manutenção dos módulos solares é feita a cada cinco anos, aproximadamente.

Força dos ventos

A energia eólica já é a segunda fonte brasileira, ficando atrás somente das hidrelétricas. A projeção do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2029), produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), é de que a participação da energia eólica no total da capacidade instalada da geração centralizada do Brasil chegará a quase 40% em 2029.

Alinhada à política global da Iberdrola, sua controladora, a Neoenergia possui a meta de neutralizar as emissões de carbono até 2050. Uma das estratégias é o massivo investimento em energia eólica, uma fonte limpa e renovável, que não emite dióxido de carbono em sua operação. De acordo com a comapnhia, até 2022, serão concluídos os complexos eólicos de Chafariz (PB) e Oitis (PI e BA), com a sua capacidade instalada triplicada, chegando a 1,6 GW.

A construção de parques eólicos tem diversas vantagens tanto no âmbito ambiental quanto no social, principalmente para o Nordeste, região onde fica a maior parte dos empreendimentos no Brasil. Apenas nas obras de instalação do complexo de Chafariz, foram criados mais de 800 postos de trabalho, a maioria para a população da região dos municípios de Santa Luzia e São José do Sabugi, no Sertão paraibano. Para garantir o emprego de mão de obra local, a Neoenergia oferece cursos de capacitação e integra a comunidade à realização do projeto. Além disso, como a área onde são instalados os aerogeradores é arrendada, os moradores ainda garantem renda com a geração de energia.

“A energia eólica tem um papel social muito importante. São regiões muitas vezes esquecidas e, quando o projeto chega, leva desenvolvimento e informação. Neste momento de pandemia, por exemplo, a empresa contribui com condições sanitárias na região, leva informação e protocolos de combate à doença que aquele município poderia não ter se não fosse a instalação dos parques”, diz Leandro Montanher, superintendente de Projetos Renováveis.

Em um momento em que a geração de empregos é necessária, cada MW de capacidade instalada em energia eólica cria uma média de 15 postos de trabalho, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). “Uma oportunidade para a retomada da economia pós-pandemia é a aposta na agenda verde e a energia eólica neste sentido é uma força motriz da recuperação, gerando emprego e renda, com alto impacto para o desenvolvimento local e nacional”, afirma Thaisa Almeida, superintendente de Desenvolvimento de Negócios Renováveis da Neoenergia.

Segundo a ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica, a cada MW, é evitada a emissão de 22,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono, valor equivalente à emissão de aproximadamente 16 milhões de automóveis.