Geração de energia proveniente de resíduos sólidos se destaca como um dos setores mais promissores do Brasil
O maior potencial para a produção de biogás no País está no setor sucroenergético, seguido da cadeia da proteína animal e da agropecuária.
Geração de energia proveniente de resíduos sólidos se destaca. (Foto: Divulgação/Copersucar) |
A mistura de gases produzida por decomposição biológica da matéria orgânica, o biogás, ainda corresponde a apenas 1% da matriz energética brasileira. Contudo, esse combustível alternativo tem um enorme potencial. De acordo com a Associação Brasileira do Biogás - ABiogás, o setor iniciou 2020 com um crescimento de 40% na comparação com o ano anterior, totalizando 400 plantas em operação. A produção atual é de aproximadamente 1,6 bilhão de m³/ano.
Alessandro Gardemann, presidente da ABiogás, diz que em um cenário de transição energética, com a busca pela maior utilização de energias renováveis, o biogás ainda é uma fonte nova, mas muito promissora. “Este gás tem origem na degradação de matéria orgânica e pode ser utilizado para a produção de energia na forma de eletricidade, calor e combustível, sendo equivalente ao gás natural fóssil. A diferença é que tem origem biológica, com reservas inesgotáveis e contribui para a descarbonização da matriz energética”, explicou.
O maior potencial para a produção de biogás no País está no setor sucroenergético (56,7 milhões de m³/dia), seguido da cadeia da proteína animal (38,9 milhões de m³/dia) e da agropecuária (18,2 milhões de m³/dia), setores extremamente relevantes para a economia nacional. Segundo Gardemann, todo esse potencial seria suficiente para gerar 40% da demanda de energia elétrica ou substituir quase 80% do diesel consumido no Brasil. “Temos um papel de liderança quando falamos em bioenergia, pela disponibilidade de terras para a produção de energia, sem afetar a produção de alimentos e, de forma ainda mais sustentável, com o aproveitamento energético dos resíduos, como é o caso do biogás", comenta Gardemann.
Na visão do executivo, apesar de toda a incerteza gerada pela pandemia do novo coronavírus, a expectativa da ABiogás para o ano é positiva. “No momento, temos empreendimentos de grande porte em andamento que somam investimentos da ordem de R$ 700 milhões e diversos outros saindo do papel.”
Novos projetos
A Raízen, que atua com biocombustíveis, é um exemplo desse movimento. A empresa recebeu, recentemente, autorização para efetuar a comercialização de energia elétrica de sua planta de biogás. A estrutura foi construída há dois anos e tem capacidade para produzir 138 mil megawatts por ano. Segundo informações da empresa, o objetivo é produzir energia e gás por meio da conversão da torta de filtro e vinhaça, subprodutos da cana-de-açúcar. A escala de produção de energia, de acordo com a empresa, é suficiente para abastecer o município de Guariba, no interior de São Paulo, que tem aproximadamente 39 mil habitantes. É lá que fica a usina da Raízen.
A operação e comercialização ficará a cargo da Raízen Geo Biogás, joint venture entre a Raízen e a Geo Energética, que trabalharam em parceria no desenvolvimento da planta, com capacidade instalada de 21MW.
Com esta autorização, a instalação passa a fornecer a energia gerada ao grid, praticamente um ano e meio antes do início do contrato firmado a partir do leilão de 2016, no qual a empresa foi vencedora, fornecendo 96 mil MWh da energia gerada. Já o volume excedente poderá ser negociado no mercado livre.
Segundo Antônio Simões, vice-presidente executivo de Logística, Distribuição e Energias Renováveis da Raízen, esse movimento é fundamental para aproveitamento máximo dos insumos e desenvolvimento contínuo de novas soluções para o setor. “Com o início desta operação, reforçamos nosso papel na vanguarda na geração de energia ao adotar a torta de filtro e a vinhaça como fonte de produção do biogás, destacando a capacidade da empresa de escalar tecnologias para plantas comerciais, o que significa uma grande inovação para o setor e um grande desafio para a companhia”, explica.
Termelétricas
O Grupo Solvi, que é formado por dezenas de empresas que atuam nas áreas de resíduos urbanos e industriais, engenharia ambiental e energia, tem três usinas termelétricas movida a biogás, uma em Salvador, na Bahia, Minas do Leão, no Rio Grande do Sul, e a maior de todas, no município de Caieiras, em São Paulo. Juntas, estas termelétricas geram 55 mil megawatts. Isso significa capacidade de geração de energia para 530 mil habitantes, o que equivale a população da cidade de Londrina, no Paraná, que tem um pouco mais de 500 mil pessoas, por exemplo.
A termoelétrica de Caieiras é movida a gás metano gerado em um imenso aterro sanitário com potência instalada de 29,5 megawatts. Marcelo Camargo, diretor responsável pela usina, destaca que ela é a maior deste tipo do Brasil e uma das maiores da América Latina, tendo consumido investimentos de R$ 100 milhões para sua instalação. “Sozinha é capaz de fornecer energia para 300 mil habitantes. A Termoverde Caieiras, que está localizada dentro da UVS Essencis, valoriza e trata o metano captado de cerca de 10 mil toneladas de resíduo orgânico recebido diariamente”, garante.
A usina termelétrica de Minas do Leão, operada pela Biotérmica Energia, gera 60 mil megawatts de energia por ano - o que significa atender 100 mil habitantes. É a primeira termelétrica a biogás de aterro gaúcha. O local recebe 3,5 mil toneladas de resíduos por dia e gera cerca de 6 mil Nm3 de biogás por hora, 24 horas por dia. Já a termelétrica de Salvador, na Bahia, está instalada no complexo da UVS Baltre e é o primeiro empreendimento do gênero localizado no Nordeste. São 19 motogeradores de 1.059 kw e uma linha de transmissão de energia de 7,8 quilômetros que faz a sua interligação ao sistema elétrico nacional. Ela tem capacidade para o abastecimento de um município de até 200 mil habitantes.
Segundo o diretor da termoelétrica de Caieiras, esse tipo de energia renovável tem apelo ambiental bastante expressivo e por isso muitas empresas buscam essa alternativa.“Ainda existem poucas dessas no Brasil. Além disso, há outras vantagens como possibilidade de realizar contratos mais curtos, pagar apenas pelo consumo realmente utilizado, preço definido e ausência do custo de distribuição”, avalia.
Iniciativa
Já a Copersucar - que atua na comercialização de açúcar e etanol - concluiu a certificação das suas 34 usinas associadas no programa RenovaBio. Criado em 2017 dentro da Nova Política Nacional de Biocombustíveis, o programa é uma maneira de expandir a produção de biocombustíveis no país e estimular a competição entre as usinas. A iniciativa busca participação dos combustíveis renováveis de forma compatível com o crescimento do mercado. O que se pretende é a implementação de uma política pública que traga previsibilidade ao mercado de biocombustíveis, em coexistência harmônica com os combustíveis fósseis, por meio de um estímulo à constante inovação, que busque a eficiência energética e ambiental de maneira continuada.
No total, as unidades da Copersucar podem gerar até 6 milhões de Créditos de Descarbonização (CBios) por ano, que já são escriturados pelo Banco Santander e estão disponíveis para comercialização no mercado financeiro.
Os créditos de Descarbonização (CBios) ou créditos de carbono são um ativo financeiro negociado em bolsa. É emitido pelo produtor de biocombustível, a partir da comercialização da sua produção (após a emissão da nota fiscal). Os distribuidores de combustíveis cumprirão a meta ao demonstrar a quantidade necessária de CBios em sua propriedade. Outros agentes (pessoas físicas e jurídicas) poderão comprar e vender CBios na bolsa, como forma de trazer maior liquidez a esse mercado.
Ainda de acordo com informações da Copersucar, suas usinas têm potencial para neutralizar mais 6 milhões de toneladas de CO2, na comparação com a produção e uso do combustível fóssil.