Helô Pinheiro, Tom Jobim e Vinicius de Morais: os 60 anos da canção Garota de Ipanema

 

Nas memórias de seu doce balanço a caminho do mar, Helô Pinheiro arranca risadas ao contar como reagia quando ouvia o “psiu, psiu” de Tom Jobim e Vinicius de Morais na rua Montenegro, em Ipanema. “Eu me empinava mais”, ela ri, ao contar suas lembranças históricas ao psicanalista Jorge Forbes em um almoço em São Paulo. Em 1962, o seu balançado, como diz a canção que ganhou o mundo, era mais que um poema no olhar dos artistas que estavam no Bar do Veloso, hoje Vinicius de Morais, e viam Helô passar na flor de seus 16 anos.

 

Nos 60 anos da canção Garota de Ipanema, a musa inspiradora mais longeva do país, Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, virou tema do congresso da Associação Mundial de Psicanálise, em Paris, na conferência “Que Vem e que Passa” do psicanalista Jorge Forbes, sobre “a mulher que existe”.

 

 

O encontro internacional tem como tema central a frase do psicanalista francês Jacques Lacan “a mulher não existe”. Personagens femininas icônicas como Alice no País das Maravilhas e Mafalda também serão discutidas no congresso. Mas só Helô é musa de carne e osso.

 

Aos 76 anos, belíssima, Helô Pinheiro é a mulher que existe por trás do mito da moça do corpo dourado do sol de Ipanema. “Eu não me via como a Garota de Ipanema. Mas foi um presente da vida, de Vinicius e Tom.” Ela se diverte com as memórias do passado que a levaram ao topo do mundo pela modernidade da bossa nova.

 

 

A fama era tanta que chegou a ser convidada para ser recebida pela rainha Elizabeth II no Palácio de Buckingham, mas recusou. Ela teria o aniversário da família do marido em Londres no mesmo dia. Hoje leva a mão à cabeça por não ter dado um jeito de ir. “Eu não entendia o que estava acontecendo”, diz.

 

Helô nasceu no bairro do Grajaú e mudouse com a família para Ipanema na adolescência. Só foi saber depois que a música era para ela por conta da revista Fatos e Fotos, que propôs e cobriu o primeiro encontro oficial entre Vinicius e a musa inspiradora. “Eu era muito tímida, entrava para comprar cigarro e não respondia aos elogios. Minha mãe não me deixava ser modelo, meu pai era militar.”

 

 

Depois, nesse encontro, eu fiquei muito nervosa. Era a primeira vez que eu falava com eles.” Aos poucos Tom e Vinicius viraram seus grandes amigos. Tom se apaixonou por ela, mas Helô nunca quis namorá-lo. Seu coração era de Fernando Pinheiro, com quem é casada há mais de 50 anos e teve suas três filhas, Kiki, Jô e Ticiane Pinheiro.

 

Para quem se dedica a estudar a mulher que existe, que vem e que passa, a pedido de Jorge Forbes, Helô Pinheiro cantarolou Garota de Ipanema em vídeo para fechar o encontro da Associação Mundial de Psicanálise e dos divãs do mundo. Quem sabe na esperança de que o mundo inteiro de novo se encha de graça e fique mais lindo por causa do amor.