Por que carros clássicos estranhos estão chamando a atenção de mais colecionadores

Os clássicos mais estranhos geralmente se originam de esportes motorizados, onde a elegância não costuma ser recompensada. Mas ao longo do caminho eles também ganham uma tradição.

No leilão Les Grandes Marques du Monde à Paris da Bonhams em janeiro, foi basicamente business as usual: Porsches refrigerados a ar foram vendidos por um dinheiro previsivelmente alto, assim como outros investimentos blue chip como Bugattis e Ferraris . No entanto, espalhados na variedade esperada de lotes de leilão, havia alguns excêntricos que geraram algum interesse sério e preços de venda igualmente altos.

Talvez os colecionadores tenham se cansado do sortimento automotivo de rigueur que as casas de leilão montam — estou olhando para vocês, Porsche Carrera GT, Ferrari F40, McLaren F1 e todos os outros suspeitos de sempre. Talvez os carros estranhos estejam finalmente recebendo o que merecem. Só posso especular — e talvez este leilão seja uma anomalia — mas os resultados deste leilão são reveladores: o estranho parece estar na moda.

Tomemos como exemplo os quatro carros a seguir, cada um incomum à sua maneira, produzidos por alguns fabricantes menos conhecidos e todos vindos do mundo do automobilismo. Alguns são bonitos, alguns são brutos, mas todos eles representam uma fatia de tempo e tecnologia que contribuem para sua intriga. Sem mais delongas, vamos aos detalhes.

Continuação do Matra MS640 de 1969

O primeiro é este Matra MS640 de 1969, um carro de corrida de uma marca francesa que é um corte profundo até mesmo para entusiastas automotivos. Apesar de ser um fabricante menos conhecido, a Matra foi bem-sucedida em esportes motorizados, especialmente entre meados dos anos 1960 e meados dos anos 1970, quando competiu em F3, F2, F1 e até mesmo em corridas de resistência. O MS640 foi construído propositalmente como um carro de corrida de resistência aerodinamicamente eficiente com um foco singular nas 24 Horas de Le Mans, mas nunca acabou em competição devido a um trágico incidente de teste que deixou o único protótipo quase completamente destruído e seu motorista gravemente ferido.

Este não é aquele carro, no entanto — este é o MS640 Continuation, ou MS640-02, um carro construído usando o motor e a transmissão do original danificado, painéis da carroceria formados usando os moldes originais e construídos inteiramente de acordo com os projetos originais, até o chassi de estrutura de tubo de aço. Aninhado atrás do motorista está o lendário MS9 V12 da Matra, uma unidade de 3,0 litros que produz quase 400 cavalos de potência que cria um grito de quebrar os tímpanos ao produzir essa potência. Historicamente, carros de corrida não tiveram um desempenho particularmente bom em leilões, mas, dado que este é o único exemplo do Matra MS640, seu preço final de venda de quase US$ 530.000 parece razoável.

1985 Lancia Delta S4 Stradale

A Lancia é uma lenda, conhecida por seu domínio no rali do Grupo B ao longo dos anos 1980 com o 037 e o sucessor do 037, o Delta S4. O Delta S4 era de ponta na época, usando tração nas quatro rodas, um chassi reforçado de tubo de aço leve, um motor de dupla carga (turboalimentado e superalimentado), bem como carroceria de carbono kevlar. E foi bem-sucedido logo de cara, vencendo a primeira corrida oficial em que participou em 1985. Como parte das estipulações do Grupo B, a Lancia foi obrigada a construir 200 exemplares de rua para homologar o Delta S, cujo resultado foi o Delta S4 Stradale. Era um exemplo comparativamente mais manso do S4 de especificação de corrida completa que ainda apresentava o chassi de estrutura tubular, mas tinha sua potência limitada a 247 cavalos (no acabamento de corrida, o S4 desenvolvia até 493 cavalos) e um interior real.

Embora não haja um número oficial de produção para o Delta S4 Stradale, a Bonhams afirma que este exemplar é um dos 71, um número muito aquém dos 200 originais planejados. (Isso provavelmente se deve ao alto preço do S4 Stradale — este exemplar em particular foi vendido, quando novo, por £ 44.442 em 1987. Ajustado pela inflação e convertido para USD, isso dá um pouco mais de $ 162.000.) Com acabamento em Nero Metallizato, este exemplar de 1985 tem uma velocidade criminalmente baixa de 5.600 km no relógio. Sua condição excelente, baixa quilometragem e raridade ajudaram a atingir um preço final de venda de $ 677.000.

Protótipo de recorde de velocidade do Audi 5000 CS Quattro de 1986

Para espalhar a palavra sobre as pretensões esportivas da Audi no mercado norte-americano, a montadora alemã decidiu pegar um de seus sedãs despretensiosos e tentar estabelecer um recorde de velocidade para um veículo com tração nas quatro rodas no Talladega Superspeedway em 1986. Na forma padrão, nenhum Audi — nem mesmo qualquer Audi usado no automobilismo na época — chegaria perto de estar à altura da tarefa, então o sedã 5000 CS Quattro selecionado para a tarefa exigiu grandes melhorias. Com o foco na velocidade mais rápida possível, a Audi revisou a carroceria do carro para ser mais aerodinamicamente eficiente, colocou-o em uma dieta rigorosa e reforçou seu motor turboalimentado de cinco cilindros em linha de 2,2 litros para desenvolver 650 cavalos de potência. O carro tem mais do que apenas uma semelhança impressionante com o 5000 CS Quattro padrão; além de um chicote de corrida, um botão de turbo boost e alguns medidores extras aqui e ali, o interior parece original.

Atrás do volante do 5000 CS Quattro estava o herói de corrida americano Bobby Unser, que conseguiu atingir uma velocidade máxima de 206,3 mph no Talladega Superspeedway em 24 de março de 1986. Usado para várias outras tentativas de recorde de velocidade máxima nos EUA, o 5000 CS Quattro mais tarde se tornaria um centro de testes de pneus. Algum colecionador sortudo entendeu claramente o significado deste carro, que foi vendido por pouco mais de US$ 130.000.

1954 Autobleu 750 MM Coupé

Por último, e possivelmente o lote mais incomum apresentado aqui, está o Autobleu 750 MM Coupé de 1954. Um protótipo único, o 750 MM Coupé foi construído por uma pequena e efêmera montadora em Paris que começou criando e vendendo atualizações de desempenho e estética para o Renault 4CV. Eventualmente, ela ofereceria carrocerias completas para o 4CV, mas isso durou apenas alguns anos, terminando em 1957. Nos primeiros quatro anos de sua existência, a Autobleu construiu o 750 MM, que foi efetivamente uma ferramenta de marketing para promover a empresa com a Mille Miglia, o evento escolhido para sua estreia (daí, "MM").

Por baixo da carroceria suavemente moldada, há um chassi de estrutura tubular e um motor de 750 cc da Renault que foi soprado para ser competitivo no evento de 1.000 milhas. Quanto ao seu histórico de corrida no período, o 750 MM Coupé competiu em três eventos Mille Miglia consecutivos de 1954 a 1956, além de vários outros eventos de resistência. Nos últimos anos, o 750 MM Coupé participou da Mille Miglia Storica, uma versão moderna e muito mais segura da Mille Miglia em 2005, 2006, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2022 e 2023. Com uma restauração recente e uma longa história, o 750 MM Coupé é uma excelente escolha para o aficionado da Mille Miglia e uma pechincha relativa, tendo sido vendido por pouco menos de US$ 400.000.

Reportagem original: Why Weird Classic Cars Are Catching the Eye of More Collectors