Rubens Ometto: Para empreender com sucesso no Brasil, é necessário ser um inconformista com tudo
Personalidade marcante do mundo dos negócios, o presidente dos Conselhos de Administração da Cosan, Raízen, Compass Gás e Energia, Comgás e Rumo é respeitado pela visão inovadora e pela firmeza em opiniões.
Presidente dos Conselhos de Administração da Cosan, Raízen, Compass Gás e Energia, Comgás e Rumo, Rubens Ometto possui mais de 40 anos de experiência na gestão de grandes companhias. (Foto: Divulgação)
O inconformista, biografia de Rubens Ometto Silveira Mello, escrita em parceria com o novelista Aguinaldo Silva e lançada no ano passado pela Companhia das Letras, narra seu percurso de herdeiro de usinas no interior de São Paulo a controlador de um conglomerado internacional de empresas com influência global.
O título do livro simboliza exatamente como a paixão pelo desenvolvimento foi o que sempre o moveu e fundamentou seu estilo de liderança, que valoriza talento, engajamento, comprometimento e competência. Indissociável da trajetória da Cosan, empreendimento familiar cujo transformou num dos maiores grupos empresariais do mundo, o engenheiro piracicabano foi um dos pioneiros da modernização do setor sucro-alcooleiro no Brasil.
Trajetória
Atualmente, Ometto é presidente dos Conselhos de Administração da Cosan, Raízen, Compass Gás e Energia, Comgás e Rumo, além de acionista controlador das empresas. O empresário possui mais de 40 anos de experiência na gestão de grandes organizações, nas áreas administrativa e financeira. Antes de ingressar na Cosan, atuou de 1971 a 1973 como Assessor da Diretoria do UNIBANCO - União de Bancos Brasileiros S.A. e entre 1973 e 1980 como Diretor Financeiro da Votorantim. É graduado em Engenharia Mecânica de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Considerado um dos empresários mais atuantes no setor do agronegócio, Ometto é um dos fundadores da UNICA – Associação Brasileira da Indústria de Cana e, desde 2015, membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI).
O executivo foi eleito Empreendedor do Ano em 2010 pela revista Dinheiro; Personalidade do Ano em 2013, em Londres, pela Câmara de Comércio Brasil Reino Unido; Homem do Ano em 2014, em Nova York, pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos e Ferroviário do Ano pela Revista Ferroviária, em 2016.
“Para empreender com sucesso no Brasil, é necessário ser um inconformista com tudo. Eu mesmo sempre fui uma pessoa que nunca aceitou as coisas que apenas são como elas são. Tudo tem que ter uma explicação e uma razão. E se a razão não te convencer, procure fazer de uma maneira que lhe convença e dê sentido para as suas ações. A tendência das pessoas é obedecer. A minha, não, é desobedecer, é ir lá, discutir e tentar convencer. E o empresário brasileiro atualmente precisa ser assim para crescer”, constata.
Investimentos
O empresário avalia que o Brasil tem hoje a oportunidade de protagonizar duas agendas prioritárias e críticas para o futuro do mundo: energia limpa e alimento. “De longe, o nosso país tem a maior área de floresta tropical do planeta e precisa cuidar melhor da preservação dessa riqueza. O Brasil tem uma das trizes energéticas mais limpas do mundo, com mais de 80% da geração de energia a partir de fontes renováveis, com alta participação de biocombustíveis na matriz de transporte”, afirma.
Ometto destaca que o Brasil é responsável por parcela relevante da produção mundial de alimentos, especialmente grãos.
“Temos uma terra rica e agricultável, água e clima favorável. Podemos promover reflorestamento de áreas degradadas, não só plantando de volta as florestas, mas plantando madeira e cana, e criar mecanismos reconhecidos internacionalmente relacionados à remuneração pelos serviços ambientais prestados. O consumidor mundial está cada vez mais exigente sobre os atributos renováveis dos produtos e começa a pagar por isso. É importante que o Brasil reconheça também essas vantagens, em vez muitas vezes ir na contramão dessas tendências”.
Expansão concreta
Buscando expandir soluções de energia e produtos renováveis, a Raízen é um bom exemplo do que diz Ometto. A companhia está investindo no uso de GNV nas frotas agrícolas, como um primeiro passo para utilização de biometano nas operações. Recentemente, a companhia aplicou dois projetos piloto nos Parques de Bioenergia Araraquara e Paraíso, no interior de São Paulo, nas operações de transporte de cana-de-açú-car e apoio. A solução, que contribui com as metas da companhia de reduzir a intensidade de carbono de suas operações, chega como mais uma alternativa da empresa, que utiliza a cana como matéria-prima em diversos processos produtivos, como na produção de etanol de segunda geração (E2G) e de bioenergia a partir de bagaço.
“A questão das mudanças climáticas e a necessidade de agir rápido para reverter uma tendência que pode ter consequências muito sérias para todos nós traz oportunidades muito interessantes de investimento, e uma criação de valor para as nossas empresas no Brasil e lá fora. A Raízen, por exemplo, que é a nossa joint-venture com a Shell, está presente em todo o Brasil, na Argentina e no Paraguai, levando para os seus clientes as melhores alternativas de descarbonização a partir da cana-de-açúcar, a planta mais eficiente que existe na transformação de energia solar em carbono, com práticas de sustentabilidade reconhecidas internacionalmente. Exportamos nosso açúcar, nosso etanol – incluindo o de segunda geração – mundo afora, capturando preços superiores aos do Brasil pela contribuição desses produtos na redução da pegada de carbono”, afirma o executivo.
Em entrevista, executivo premiado fala sobre sua trajetória profissional em sua biografia escrita por Agnaldo Silva. (Foto: Divulgação)
Entrevista
Ano passado, foi lançada sua biografia escrita por Agnaldo Silva. Que dica daria hoje a nova geração de líderes empresariais?
Nunca trabalhe sozinho (risos). Logo que assumi a presidência da empresa, os estatutos permitiam que o presidente assinasse sozinho. Primeira coisa que eu mudei foi isso. O presidente tem que assinar com outro diretor, porque ninguém está livre de perder a cabeça, de fazer uma loucura. Quando você tem que dividir, você tem que argumentar. E se você quer crescer, você tem que delegar. E para delegar, não pode ser só o CEO. Claro, primeiro, você precisa ter um grupo de executivos de alta qualidade, ter confiança neles. E lembrem-se: ninguém é dono da verdade. E tem que trabalhador duro sempre, ter coragem e sabedoria para fazer escolhas acertadas nas encruzilhadas do caminho!
Quais as principais apostas da Cosan para os próximos anos?
Um desafio que não é só da Cosan, mas de muitas outras empresas: de continuar investindo em soluções para um país que possui um potencial enorme. No Grupo Cosan, vamos seguir tendo a agenda ESG como o principal drive do nosso crescimento, direcionando nossa visão de futuro e norteando nossas tomadas de decisão. Seguimos com o desafio de manter nossa busca de resultados financeiros calcada na oferta de uma energia limpa, transição energética segura, logística eficiente e confiável, com foco nas pessoas e uma sólida estrutura de governança.
Como avalia o cenário global da transição energética nos dias de hoje?
O desafio de transição global para reverter a questão das mudanças climáticas é gigantesco, complexo e diverso. Seria quase que uma ingenuidade acreditar que alguém seria capaz de desenvolver uma solução única, capaz de resolver tudo de uma só tacada. Simplesmente não é possível eletrificar o mundo de uma hora para outra, até porque se eletrificar tudo e não produzir energia de forma sustentável e renovável também não adianta nada – é como ter um carro elétrico movido com energia a carvão. Além disso, os países têm vocações naturais e prioridades socioeconômicas diferentes. O entendimento dessa questão de forma ampla é essencial na construção de soluções. Todas as tecnologias e opções disponíveis são necessárias, são complementares e têm níveis de prontidão diferentes. Nessas condições, é preciso agir rápido e de forma eficiente.