Oskar Metsavaht, precursor do conceito “Novo Luxo”, estilo que prima pela fusão entre ética e estética e preconiza a moda consciente
Multiempreendedor e ativista, Oskar Metsavaht sintetiza o melhor do Brasil em cada uma de suas iniciativas e mostra visão singular para o varejo omnichannel na Osklen.
Oskar Metsavaht mostra seu lado criativo ao desenhar novas tendências. Ele é também reconhecido internacionalmente como um dos precursores do Novo Luxo (Foto: Divulgação)
Médico, artista, ambientalista e profissional multidisciplinar, o empresário de alma criativa transita entre diversas áreas do conhecimento humano, razão pela qual foi reconhecido como visionário por defender e aplicar práticas socioambientais, isso desde a época em que esses valores ainda não estavam em voga.
Fundador e diretor de criação da Osklen, Metsavaht foi precursor do conceito “Novo Luxo”, estilo que prima pela fusão entre ética e estética e preconiza a moda consciente comprometida com a filosofia “ASAP - as sustainable as possible, as soon as possible”, que traz a urgência de agir da maneira mais sustentável possível no nosso dia.
Vesratilidade
Ativista ambiental, ele criou e preside o Instituto-E, Organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) que atua como hub entre empresas, organizações público- privadas, instituições acadêmicas e de pesquisa, aplicando conceitos do Sustainable Design Thinking para promover desenvolvimento humano mais eficiente e adequado com as necessidades do contemporâneo. Também liderando o OM. Group (que reúne Moda, Hotelaria, Alimentos, Energia, Design e Arte), Oskar Metsavaht foi apontado, junto com Elon Musk, da Tesla, como ‘Future Maker’, no estudo ‘Deeper Luxury’, promovido pelo World Wildlife Fund (WWF-UK).
Além dessas atividades, é diretor criativo do studio OM.art, ateliê de artes plásticas. O projeto possui um estúdio para desenvolvimento e produção de concepções artísticas, servindo de espaço para exposições. Este multiempreendedor ainda é membro dos conselhos consultivos do Instituto Inhotim e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), além de atuar como Embaixador da Boa Vontade da UNESCO para Cultura de Paz e Sustentabilidade.
O studio OM.art é utilizado para o desenvolvimento e produção de projetos artísticos e de branding. (Foto: Divulgação)
Novo método
Em meio a tantos projetos, iniciativas e responsabilidades, o empresário vive agora seu novo desafio e fase de transição. A Alpargatas – acionista da Osklen – comunicou no final de fevereiro, que a venda da totalidade da participação na marca, equivalente a 60% do capital social, para a DASS Nordeste Calçados e Artigos Esportivos foi aprovada pela Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O montante da operação foi de R$ 400 milhões.
“As pessoas acham que a Alpargatas comprou a Osklen há sete anos atrás, mas não foi isso o que ocorreu. Na época eu escolhi entre várias propostas um grupo estratégico com forte experiência em gestão e governança e para desenvolver e potencializar a marca, tanto que sempre tive meus 40%, participação no conselho de administração e domínio sobre o processo estratégico-criativo”, explica.
Metsavaht destaca que o Grupo Dass é uma empresa familiar com experiência em gestão corporativa. “Agora foi o mesmo, escolhi o DASS para me associar porque gosto da cultura da empresa, há mais de 30 anos eles produzem para marcas de exigência internacional, mantendo altíssimo padrão de fabricação. Essa experiência e core business da companhia se alia com a nossa visão. Acredito que ganharemos agilidade nas decisões. Além disso, vou agregar com nossa expertise em sustentabilidade e processo criativo. É um momento novo”, avalia.
Confira, na sequência, a entrevista exclusiva com o líder fundador da Osklen, passando por contexto sobre aprendizados e reflexões entorno da influência da tecnologia no varejo, avanço da pauta ESG e a situação da imagem do Brasil no exterior.
Como você encara esse novo momento do varejo, considerando o impacto das novas tecnologias e valorização da experiência dos clientes tanto no ambiente digital como físico?
O DNA da Osklen como negócio é o varejo, modelo bem clássico de empreendedorismo a brazilian style. Inclusive começamos nos anos 1990, em um período que não existia no país, a cultura de desenhar um business plan e a de levar a investidores e iniciar um projeto empresarial. Fomos amadurecendo ao longo desses 30 anos, ao ponto de a Osklen chegar a uma governança e gestão de altíssimo padrão. Gosto de dizer que em vez de eu ter ido até Havard fazer um curso de MBA, tive esse período de imersão riquíssimo, principalmente ao lado da Alpargatas e seus controladores.
Sobre o varejo, estamos vivendo disrupturas como o metaverso, por exemplo, que nos coloca em outro desafio. Todos nós já imaginávamos lá atrás que isso iria acontecer. Quem compreende a lógica da tecnologia e da comunicação, percebeu com a ascensão da internet, todas as possibilidades de integrar a questão financeira, logística e, ainda, a comunicação com a sociedade e com os clientes.
Mas o metaverso será a realidade no mercado da moda?
A tecnologia deverá funcionar principalmente para alguns modelos de negócios, em que você cria um produto, antes apenas físico, em um universo digital. A partir disso, devem surgir maneiras de “tangibilizar” esses itens por meio de avatares que, por exemplo, devem manifestar os mesmos interesses e desejos de consumo que permeiam a humanidade, nos moldes físicos. O nosso desafio será compreender os valores intangíveis neste processo, ou seja, como tornar concreta ideias abstratas, valores, cores, formas, que existem em um produto real para um mundo virtual.
Valores, cores, formas fazem parte do processo criativo para criação de novos produtos do Metsavah (Foto: Divulgação)
Você acredita que com isso o conceito de ominichannel ganhará outra proporção, principalmente para uma marca como a Osklen?
Atuamos há alguns anos na questão do ominichannel, pois nossa força é no varejo, são quase 70 lojas. Quando você é varejista, sua operação, objetivos, estratégias, lógica, tudo é pensado para operar no segmento. No entanto, no mundo digital, no e-commerce especificamente, isso muda em vários pontos, tanto na questão logística até a percepção do produto. E a moda precisa do palpável. Cada loja nossa é uma pequena Disney – você seduz seu cliente, você se aproxima dele, sugere e fornece. Somos criadores de elementos de design para as pessoas, essa é nossa função. Claro que a roupa tem sua função utilitária, proteger do frio, do calor, praticar um esporte, mas moda é onde o indivíduo se expressa imageticamente.
O omnichannel é uma estratégia irreversível e avalio que o metaverso vai conseguir separar bastante as marcas que têm criadores, das que fazem roupas copiando de outros. Na moda, como em outros segmentos, a marca tem aura, tem o lifestyle. A palavra moda vem de modos e comportamentos da sociedade, não é fazer roupa. Entender de moda é entender de comportamento da sociedade, estar mergulhado no zeitgeist (espírito de época). Fomos os primeiros a entender isso, levando a sustentabilidade como um valor.
A pandemia e conflitos, como os que estamos acompanhando no leste europeu, podem atrapalhar a evolução e desenvolvimento de soluções sustentáveis na economia como um todo? Qual será o papel das empresas nesse aspecto?
As negociações e protocolos sobre luta contra as mudanças climáticas já foram prejudicadas. Acredito que o século 21 começou realmente em 2020, com a pandemia de covid-19. Houve uma revolução e transformação digital ampla, e a sociedade está mudando, pois temos uma geração com novos hábitos de consumo. A instituições estão falando o que estão fazendo, mas tudo isso ainda tem espaço para crescer. Os protagonistas da COP-26 foram as empresas, creio que estamos mais amadurecidos e o segmento financeiro passou a acreditar na sustentabilidade, o que é essencial para impulsionarmos as ações propositivas.
Gosto de dizer que mudei meu discurso. Em vez de apontar o dedo para as empresas, eu percebo que hoje elas mudaram muito mais nesses últimos 20 anos, que a própria sociedade de consumo e governos. No entanto, a grande mudança deverá ser cultural, pois um produto sustentável, muitas vezes, não traz status. Para o consumidor fazer a escolha por um item inovador, com matéria prima exclusiva, é preciso ter espirito altruísta, essa é a grande virada.
Qual sua avaliação sobre a imagem do brasil no exterior?
Existem duas questões, um governo que está atualmente no controle do país e promove determinada mensagem, e as instituições como um todo que não pensam da mesma forma. Não é possível institucionalizar para a nação o que o governo pensa e pratica. Nossas possibilidades econômicas são grandes lá fora, graças a nossa riqueza, biodiversidade e agronegócio, estamos assim em um bom caminho, e somos potência verde. Defendo que possamos reunir projetos de sustentabilidade, de iniciativas empresariais, de pesquisas acadêmicas, o trabalho de ONGs e ações governamentais dentro de um único selo, um Made in Brazil, com foco em promover nosso país com duas vertentes sinérgicas. A de nossa expertise em recursos naturais de origem sustentável aliada ao que eu chamo de brazilian soul: Somos bonitos, felizes, alegres e saudáveis, e mantemos uma boa relação com a natureza. Vendemos vida e o mundo quer isso, que sejamos a nação que cuida da Amazônia e que transforma a sua biodiversidade em produtos sustentáveis para o bem-estar do planeta.