Mundo corporativo repensa suas lideranças com foco no diálogo, na empatia e na construção de valores que ultrapassam o próprio ambiente empresarial

Embora a transformação digital não seja um assunto novo dentro da maioria das companhias, a adesão ao trabalho remoto exigiu atenção para que a competitividade e desempenho do capital humano não fossem afetados.

Ana-Claudia-ContinentalAna Cláudia Oliveira, vice-presidente de Relações Humanas para Brasil e Argentina da Continental. (Foto: Divulgação)

Equalizar a produtividade e o bem-estar do capital humano em tempos de crise nunca foi uma tarefa fácil para as corporações. Com a aceleração tecnológica demandada em grande parte pela pandemia do novo coronavírus, apostar na melhora da integração com os colaboradores passou a ser fundamental. De acordo com o relatório da Businessolver’s Workplace Empathy Monitor, o exercício da empatia impacta diretamente na produtividade, lealdade e engajamento dos funcionários. Nesse levantamento, 77% dos funcionários entrevistados estariam dispostos a trabalhar mais horas em uma empresa empática e 60% deles aceitariam a redução de seus salários pelo mesmo contexto.

Para Ana Cláudia Oliveira, VP de Relações Humanas para Brasil e Argentina da Continental, ter um olhar atento para a gestão de pessoas e uma cultura organizacional sólida ajuda a fomentar potencialidades.

“Sempre acreditamos que para atrair e reter os melhores talentos a organização precisa ter um ambiente inspirador, justo, onde as pessoas possam ser exatamente quem são, para assim conseguir utilizar 100% de seu potencial. É claro que a pandemia impôs novos e inesperados desafios. Temos enfatizado muito a importância da empatia e a liderança precisa identificar e compreender esses momentos. Essa é a verdadeira valorização do colaborador”, enfatiza.

Em pesquisa de clima realizada no ano passado, a companhia obteve resultados significativos, pois 81% dos colaboradores mostraram-se motivados e engajados, 92% externaram a sensação de ser apoiado pela empresa durante o tempo de pandemia, 82% sentiram que podiam compartilhar abertamente as preocupações e receberam respostas apropriadas e que 86% da liderança foi capaz de liderar e fornecer o apoio necessário durante a pandemia.

Tecnologia X capital humano

Mônica Hauck, especialista em tecnologia no RH da Sólides, com formação em inovação e empreendedorismo pela Universidade de Stanford, também faz uma análise das quebras de paradigmas em relação aos avanços tecnológicos.

“Sim, a transformação digital forçada que nós tivemos que viver nos últimos tempos, trouxe algumas mudanças em relação ao comportamento humano, colocando-o em destaque. Na minha opinião, não existe uma regra para as pessoas trabalharem, ou seja, dizer que todos funcionam bem no formato home office ou presencial é errado, pois, essa característica depende muito do indivíduo e de um conjunto de ações que no cenário atual”, reflete Mônica e complementa:

“Contudo, quando olhamos evolutivamente, a tecnologia traz a substituição, reacomodação e muitas vezes a redução de trabalho, que com o passar do tempo, geram necessidades humanas. Com isso, é possível distinguir que esse momento que estamos vivendo, nada mais é que a substituição de um trabalho totalmente operacional. Diante disso, é possível observar atividades mais operacionais sendo extintas, mas, por outro lado, será possível criar oportunidades. De qualquer forma, acredito que a tecnologia não sobrepõe o capital humano, mas sim sobrepõe e ajuda a melhorar o sistema”.

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Jane Campos, CEO da Radici Plastics. (Foto: Divulgação)

Em relação a gestão humanizada, Mônica levanta uma questão interessante.

“Normalmente, as pessoas têm uma dimensão muito romântica e quase bucólica da gestão humanizada, quando na verdade, ela nada mais é do que entender qual é o ativo que você realmente está gerindo. Em linhas gerais, o ativo que você gere é o humano, por isso, é preciso entender ainda mais sobre as pessoas. Está ficando cada vez mais claro que os papéis de uma pessoa se confundem no dia a dia, mas não podemos descartar a ideia de que eles conversam o tempo todo. A gestão do capital humano nada mais é que entender o homem em sua integralidade, mecanismos de funcionamento e sobretudo conhecer profundamente suas necessidades”.

Novo padrão

Embora a transformação digital não seja um assunto novo dentro da maioria das companhias, a adesão ao trabalho remoto exigiu atenção para que a competitividade e desempenho do capital humano não fossem afetados.

“Acreditamos que a tecnologia vem para somar e não substituir. Obviamente temos mais reuniões on-line, porém não deixamos de lado a importância das pessoas e o respeito como são tratadas. Sentimos que os colaboradores mais jovens se adaptaram a aceleração digital rapidamente e os mais maduros, absorveram aos poucos com o tempo. A régua subiu, o padrão é mais alto agora e as pessoas precisam ser resilientes para sobreviver dentro das organizações”, avalia Jane Campos, CEO da Radici Plastics.

Pedro Iglesias, sócio e business development da consultoria Team Upp analisa que o processo de transformação ajuda a repensar e até criar padrões de comportamento dentro das empresas.

“No estudo que conduzimos no ano passado, 1º Benchmark Brasil de Employee Experience, confirmamos que houve uma intensificação de iniciativas que demonstram a preocupação das empresas em entender a experiência completa de seus colaboradores, promovendo apoio financeiro, jurídico, psicológico e outros aspectos que não estão restritos ao horário de trabalho. Tudo isso afeta o engajamento das pessoas e atuar ativamente diante destas questões também vai impactar em indicadores estratégicos para as organizações”, sinaliza.

Cliente S/A

Para Gisele Paula, CEO do Instituto Cliente Feliz, hábitos foram perdidos e outros achados com o advento da pandemia.

“O colaborador mudou, repensou sua vida e suas prioridades, o que realmente importa para ele. O tipo de líder autoritário e controlador teve que abrir mão do seu controle para o home office, onde ele não vê o que o colaborador está fazendo o tempo todo. Precisamos de relações de trabalho de confiança e não de controle. O cliente está mudando a cada dia, sendo mais exigente com as marcas, priorizando a experiência e analisando atributos que cada vez mais fazem parte do processo de decisão de compra como inclusão, responsabilidade social e diversidade. O cliente está mais intolerante, impaciente, emotivo e questionador. A pandemia abriu questionamentos que antes não eram feitos e nem tínhamos tempo para tal diante da correria desenfreada”.