Mulheres contam com mais programas de formação, apesar de serem minoria nos cargos de governança

A presença feminina em cargos de direção foi observada em apenas 39% das empresas com capital aberto na bolsa de valores brasileira, mas chegou a 55% nos Conselhos de Administração destas companhias.

flavia2Flávia Mello, investidora-anjo e criadora do Sororitê. (Foto: Divulgação)

Mesmo colaborando com pontos importantes como flexibilização, criatividade, inovação e aumento de diversidade, características femininas, as mulheres ainda são minoria em cargos de governança e liderança. Uma pesquisa apresentada no Summit ESG, evento on-line promovido pelo Grupo Estado, revelou que apenas 14,7% dos cargos C-Level são ocupados por mulheres atualmente.

A maioria das empresas com ações negociadas no mercado de capitais do país não tem mulheres em cargos de diretoria. Apesar disso, mais da metade delas já contam com a presença feminina em seus Conselhos de Administração, revela levantamento inédito da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. A presença feminina em cargos de direção foi observada em apenas 39% das empresas com capital
aberto na bolsa de valores brasileira, mas chegou a 55% nos Conselhos de Administração destas companhias. Diante deste cenário, empresas começam a investir na capacitação de suas colaboradoras para posições de governança.

“Temos um legado histórico, que só começou a mudar recentemente. Formamos ao longo das últimas décadas poucas profissionais aptas para cargos executivos”, explica Flávia Mello, investidora-anjo e criadora do Sororitê, grupo de mulheres investidoras que trocam experiências e mentorias.

Em termos de melhorias para o futuro, a executiva considera que as empresas só começaram a rever suas culturas organizacionais após entenderem o potencial gigantesco que as mulheres possuem. “As organizações estão prejudicando seus retornos financeiros ao não abrirem espaços para mulheres, já que está mais do que provado que diversidade é diretamente conectado a empresas com melhor performance”, sinaliza.

Mais diversidade

A operadora TIM é a primeira empresa brasileira no ranking Refinitiv Diversity & Inclusion Index de 2021, que mede o desempenho de mais de 11 mil empresas – o equivalente a 80% do mercado global – com base em iniciativas de diversidade, inclusão, e desenvolvimento de carreiras. O resultado da análise mostra ainda a empresa na 19ª colocação geral e liderando a lista de companhias do setor de telecomunicações de todo o mundo.

Giacomo Strazza, diretor de Desenvolvimento e Inclusão no RH da TIM, acredita que as empresas precisam olhar para suas culturas organizacionais, e ir além, incentivando o diálogo e promovendo educação para combater preconceitos, ao mesmo tempo em que investem em ações para capacitar e dar mais oportunidades para as mulheres.

“E justamente por entendermos isso, além das nossas ações internas, promovemos ações voltadas à socie dade, o TIM Convida, nosso evento digital que gera diálogo e conhecimento sobre temas de D&I a toda a sociedade, e em coerência com nosso olhar para o pilar Social do ESG, lança mos também o projeto Mulheres Positivas com objetivo de apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres, dentro e fora das empresas”, afirma.

Ações

Como forma de fortalecer os pilares de equidade e diversidade organizacional, a KPMG está elaborando um programa de liderança feminina. O projeto é realizado em parceria com a escola Conquer e tem como público as profissionais gerentes da empresa. O objetivo é preparar as executivas para liderar de uma forma ampla, bem como prepara-las no próprio desenvolvimento profissional.

Realizado em 12 encontros, o programa é formado por quatro pilares que são os seguintes: protagonismo, marketing pessoal, gestão 360, negociação e neurociência. Além de contar com o treinamento de diversos profissionais do mercado, as participantes podem trocar experiências com as líderes da KPMG.

foto27fin-101-solv-c10-1Luciene Magalhães, sócia de capital humano da KPMG. (Foto: Reprodução)

Cerca de 90 gerentes participaram do treinamento e há previsão de formação de novas turmas ainda este ano. Atualmente, a KPMG tem cerca de cinco mil profissionais, sendo 49% mulheres. Desse total, 353 são gerentes e 95 sócias.

“É uma das formas encontradas pela KPMG para intensificar a liderança feminina e de prepará-las no percurso para atingir o nível de sociedade mais robusto além de, desde já, posicioná-las como executivas no futuro próximo. Essas ações estão dentro do pilar social de ESG que abrange ainda meio ambiente e governança”, analisa Luciene Magalhães, sócia de capital humano da KPMG.

Inovação

A Huawei, líder global em Inovação e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), também lançou no final de outubro o projeto Women in Tech Brasil, uma iniciativa que tem como objetivo atrair mais mulheres e impulsionar a carreira de lideranças femininas na tecnologia.

“Como líder mundial em inovação e desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação, a Huawei busca promover iniciativas que visam desenvolver lideranças femininas no mercado de tecnologia por meio de projetos de educação, a fim de aumentar a diversidade no setor e capacitar jovens profissionais para inseri-las na eco nomia digital”, afirma Sun Baocheng, CEO da multinacional.

Preferência na contratação 

Na hora de promover a diversidade e inclusão, não basta somente ficar no discurso. Esse foi o pensamento da Mitfokus, empresa que em setembro completou cinco anos de existência. “Nunca tive uma causa ou uma bandeira, mas, para as mulheres costumo dizer que não sou feminista, sou realista e precisamos nos unir para sugerir transformações de estrutura para as mulheres. Penso muito numa 
palavra atualmente: sororidade. Percebo que a união entre as mulheres no mercado de trabalho é necessá ria e essencial”, afirma Júlia Lázaro, sócia-fundadora da companhia.