Fabricio Bloisi, do iFood: próximas grandes empresas do Brasil daqui a cinco anos ainda não existem
De inteligência artificial à biotecnologia, empresas dos mais diversos segmentos abraçam tendências sem tirar o olho da gestão de pessoas.
Presidente do iFood, Fabricio Bloisi. (Foto: Divulgação)
Empreendedorismo é iniciativa, inovação e risco. A pandemia testou essas capacidades em empresários e executivos de maneira nunca antes vista. Para continuar na briga, empresas tiveram de tirar da gaveta rapidamente projetos que vinham sendo adiados há tempos. Alguns hábitos antes impensáveis como trabalho 100% remoto e reuniões a distância assumiram protagonismo. Mas o que vem pela frente? O mercado está sempre de olho no que jovens empresários, fundadores de empresas disruptivas, têm a dizer. Para o presidente do iFood, por exemplo, empreendedores de diferentes segmentos devem estar atentos a sete áreas: energia, saúde, fintechs, educação, biologia genética, inteligência artificial e comida.
A justificativa de Fabricio Bloisi é a de que, em breve, o mundo terá 7 bilhões de pessoas com um smartphone em mãos conectado à internet, realizando tudo de maneira diferente do que é feito hoje. O executivo explica que nos próximos cinco anos haverá muito mais mudanças no mundo do que aconteceram nos últimos dez. “Algumas das próximas grandes empresas do Brasil daqui a cinco anos, ainda não existem ou estão sendo criadas agora”, disse Bloisi recentemente durante uma live.
De olho nas oportunidades, a Marpa Gestão Tributária (MGT), especializada na recuperação de créditos tributários, abraçou a inteligência artificial. Soa curioso o que um escritório de direito tributário possa querer com algoritmos, mas a resposta é simples: agilidade. Os sócios da MGT, Michael Soares e Eduardo Bitello, desenvolveram um sistema que realiza uma varredura no histórico tributário de qualquer porte de empresa em até cinco dias. Com o resultado em mãos, eles conseguem com que a companhia passe a pagar impostos corretamente, além de recuperarem os valores pagos indevidamente.
"Uma empresa precisa seguir mais de 4,6 mil normas para estar em dia com o Fisco, sendo que, a cada dia, 53 novas normas são criadas, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. É impossível estar totalmente atualizado sem a ajuda da inteligência artificial", afirma Soares.
Michael Soares e Eduardo Bitello. (Foto: Bruno van Enck/Divulgação)
Tudo em casa
Assim como a MGT, a BeCapital, especializada em investimentos, também se apropriou da tecnologia e mergulhou em um mundo que não tem ligação direta com o seu core business: o audiovisual. "Nosso objetivo é fazer cinema no mercado financeiro, trazendo informações de qualidade com foco em educação financeira e investimentos aliados a uma estética visual e fotográfica de personalidade", afirma Paulo Paiva, CEO da BeCapital.
A aposta é tão séria nos corredores da BeCapital que o audiovisual virou uma unidade de negócios dentro da holding. A companhia investiu em um estúdio próprio e recrutou alguns colaboradores para serem as estrelas dos vídeos produzidos, fornecendo dicas aos seguidores de suas redes sociais como verdadeiros influenciadores. "Em vez de contratar uma agência especializada, optamos por fazer tudo internamente para formar e desenvolver pessoas. Acreditamos nas soft skills como fatores singulares de crescimento profissional e pessoal. Ter uma equipe interna para a produção de conteúdo é desenvolver nossos colaboradores em sinergia com os valores da cultura da empresa", acredita Paiva.
E se existe um modelo de negócio conectado à cultura, transformação e tendências é o de startups. Conhecidas por adotarem um modelo de gestão descolado, as startups geralmente exigem alto grau de confiança de seus colaboradores e possuem baixíssima complacência. Atualmente, existem mais de 13 mil startups no Brasil, sendo que o crescimento desse tipo de negócio foi de 300% nos últimos cinco anos, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Finanças, saúde e educação são as áreas com maior procura para empresas de inovação, de acordo com a entidade.
Paulo Paiva, CEO da BeCapital. (Foto: Divulgação)
"Essas empresas atraem um tipo de colaborador altamente comprometido, que chegam a ser mais exigentes do que as próprias empresas. O caminho que as startups têm adotado está correto, pois cada empresa atrai o colaborador que merece e vice-versa. O desafio é ajustar a dose de exigência, impedindo colaboradores de cometerem excessos por diversos meios", afirma Marcel Scalcko, treinador comportamental e CEO do Grupo Scalco, consultoria em gestão para alta performance.
O especialista tem entre seus clientes uma startup que, para evitar que seus colaboradores prejudiquem seus momentos de descanso e vida pessoal, corta a energia elétrica do escritório a partir de um determinado horário. "Há um incentivo na busca pela vida plena, que tenha espaço para o trabalho pesado, mas que também respeite os momentos de folga e lazer", completa Scalcko.
As cifras corroboram a opinião de Scalcko de que as startups estão no caminho certo. Segundo levantamento da comunidade independente Distrito, elas receberam por meio de 22 aportes de grandes empresas realizados entre janeiro e julho de 2021, mais de US$ 622 milhões, valor três vezes maior do que o total captado durante todo o ano de 2020 em 27 negociações.
Desde 2000, quando começou a medição da Distrito, o país acumula 212 rodadas de investimentos de empresas em startups. Desse total, 162 tiveram os valores revelados, somando US$ 1,3 bilhão. As startups de varejo se destacam: receberam 17 aportes que somaram US$ 206 milhões.
Remote-first?
As mudanças verificadas nas empresas a partir de março de 2020 são inúmeras. "Home office em muito mais funções, redução significativa de custos com viagens comerciais, além de treinamentos por conta da adoção massiva de apresentações on-line são características desses novos tempos", diz Scalcko, que também aponta que as empresas estão mais ágeis para rever e implantar processos e que, uma das maiores lições do mundo corporativo nos últimos tempos, foi a necessidade de uma política de caixa mais austera e conservadora.
Com muitas empresas retornando às atividades presenciais, a questão do trabalho remoto ainda parece uma dúvida. A última edição do Liga Open Innovation Summit, um dos maiores eventos de inovação do país, procurou responder dúvidas como essa. Em três dias, os participantes chegaram a uma lista com 21 insights, que seriam as principais tendências de inovação para diferentes mercados. Ela abrange desde inovação corporativa na prática, corporate venture e tecnologias emergentes, até equidade de gênero, ESG e experiência do consumidor.
Em termos de gestão, uma das tendências apontadas é a de que toda empresa pode ser remote-first, o conceito que privilegia o trabalho remoto como principal opção para os funcionários. "Para o negócio, a vantagem é permitir significativa redução de custos e atração de talentos mais maduros e responsáveis, sem a limitação geográfica. Já para os colaboradores, há um incremento na qualidade de vida, além de acesso às melhores oportunidades na carreira, também pela falta de barreira geográfica", diz Scalcko.
Biotecnologia ganhou novos holofotes durante a pandemia. (Foto: Divulgação)
Nada de bolha
A biotecnologia ganhou novos holofotes com o desenvolvimento de vacinas em prazos recordes e deve ser uma promissora área de investimento. Isso se deve ao crescimento do número de pessoas de terceira idade, que aumentam a demanda por novos medicamentos, e ao próprio amadurecimento do setor. "Biotecnologia não é uma moda passageira que explodirá como a bolha especulativa da internet dos anos 1990. Ela é a expressão industrial de um movimento poderoso na história da ciência, que já está há 60 anos em formação", escreveu Suy Rebouças, gestora de biotech na JGP Asset Management, em artigo recente.
Atuante nesse mercado, a Superbac investiu R$ 100 milhões no Superbac Innovation Center. ”Ele representa uma mudança em nosso modelo de negócios e coloca o Brasil como uma das principais referências internacionais em biotecnologia”, garante Luiz Chacon Filho, CEO da Superbac. A nova biofábrica é estratégica, tanto para a fabricação internalizada e verticalizada dos diversos produtos atuais da Superbac, como para produção de componentes (proteínas, enzimas e microrganismos). Além dos defensivos, a empresa atuará em saúde, fármacos, probióticos e IFAs, os insumos para fabricação de vacinas. O plano da companhia é crescer 25% ao ano na próxima década.
15 tendências para diferentes mercados
-
Intraempreendedorismo como chave para ser uma empresa Inovadora
- Equidade de gênero não é uma boa ação, é uma estratégia de negócios
- As universidades são catalisadores da inovação
- Precisamos equilibrar o tempo da academia e o do mercado
- Society-centric: a inovação centrada na sociedade
- Comunidades e periferias são potências que devem ser incluídas no desenvolvimento econômico
- Mobilidade aérea e urbana: voando até 2040
- 5G como habilitador para tecnologias de precisão
- LGPD e inovação: indispensáveis e indissociáveis
- Sandboxes: um passo para o mercado funcionar como um sistema operacional
- Os dados só são úteis quando você consegue tirar insights próprios
- O customer experience vale tanto quanto a marca
- O relacionamento com o consumidor depende do contexto
- Mercados hiperpersonalizados e mercados massificados: caminhos que apontam para a mesma direção como oportunidades para a inovação
- A logística como conveniência
Fonte: Liga Open Innovation Summit