Daniel Knopfholz, do Boticário: 'Estamos olhando para profissionais em escala global em um dos maiores polos de tecnologia do mundo'

Os motivos que levaram Portugal a se tornar um ambiente propício para empreendimentos na área criativa e tecnológica.

Daniel K_2444 (1)Daniel Knopfholz, vice-presidente de Pessoas, Digital e Tecnologia do Grupo Boticário. (Foto: Divulgação)

Portugal é hoje um dos mais vibrantes hubs de startups da Europa e os dados mostram essa realidade. Um levantamento feito pela associação Startup Portugal indica que o ecossistema de empreendedorismo português contribui com mais de 1% do PIB. Nos próximos três anos, a projeção é positiva, com estimativa de chegar a 1 bilhão de euros em investimento, com 5 mil startups em incubação e uma contribuição acima de 2% na economia. Para 2022, o país espera investir 12 bilhões de euros em tecnologia, o que representa o grande interesse que a economia portuguesa possui no segmento.

O Programa Portugal 2030, que visa ampliar o desenvolvimento da indústria 4.0 no país, é mais uma iniciativa que deve aproveitar os bons ventos deste clima. Por isso, o momento tem atraído grandes empresas nacionais, todos de olho na verdadeira “vitrine” que a nação europeia representa atualmente para o mercado do continente.

StefaniniMarco Stefanini, CEO Global e fundador da companhia. (Foto: Divulgação)

Terra de gigantes

Presente em 41 países, a Stefanini é uma multinacional brasileira de tecnologia com 34 anos, sendo a quinta empresa transnacional mais internacionalizada, segundo ranking da Fundação Dom Cabral. De acordo com Marco Stefanini, CEO Global e fundador da companhia, a primeira estratégia de expansão da Stefanini foi direcionada para as Américas e depois para Europa e Ásia.

“Com cerca de quatro mil colaboradores no continente, estamos em 20 países europeus, mas com forte presença subsidiária devido a um avançado modelo de internacionalização, o que incluí o desenvolvimento de produtos. Em Portugal começamos há uns 15 anos e contamos com 200 profissionais alocados”, detalha.

Com ofertas robustas e alinhadas às tendências de mercado como automação, cloud, Internet das Coisas (IoT) e User Experience (UX), o executivo explica que o país europe se destaca por fazer parte de uma proposta chamada de nearshore - por meio do país a companhia vende serviços para mercados maiores como Alemanha, Inglaterra, França e Espanha. “Um ponto interessante é que Portugal começou a ser destacar na área de tecnologia, além disso o profissional português fala outras línguas, o que favorece o intercâmbio. Acredito que este seja o futuro do país, mas alerto que ele ainda precisa passar por alguns processos de modernização e desburocratização”, completa o CEO.

Marcelo Sicsu 1Marcelo Sicsu, CEO da Moove+ Portugal. (Foto: Divulgação)

Em movimento

Há mais de 30 anos no Brasil, o Grupo MOVE3 é uma referência no mercado logístico. Atualmente, é responsável pelas empresas Flash Courier, Moove+, Moove+ Portugal, a gráfica JallCard, a fintech M3Bank, a startup goX Crossborder e a transportadora Rodoê. O início das operações no continente Europeu se deu, em 2020, por meio da Moove+ Portugal, operadora logística no mercado de entregas com foco nos meios eletrônicos de pagamento e no transporte de encomendas urgentes. Sediada na cidade portuguesa de Maia, a subsidiária é dedicada à melhoria dos fluxos operacionais, por meio de tecnologias como robótica, mobile, big data, automação e sharing economy.

A Moove+ Portugal atualmente oferece uma diversidade de serviços. Entre eles, o Same Day Delivery e Next Day Delivery, com a entrega de produtos no mesmo dia da compra e no dia seguinte; o Ship From store, com a transformação de lojas em pequenos centros de distribuição para o e-commerce; entre outros serviços até a chegada do cliente final, com foco também, no pós-venda.

“Sempre tivemos a ideia de internacionalizar a empresa. Toda empresa, quando domina bem o território nacional, tem esse objetivo. Já tínhamos alguns clientes com a intenção de iniciar operações em Portugal e aproveitamos a deixa. O país é uma porta de entrada muito boa no continente europeu pelo fator cultural. De lá, podemos expandir a operação para outros países, como Espanha e França”, conta Marcelo Sicsu, CEO da Moove+ Portugal.

Classificada como uma operadora 3PL, a empresa se responsabiliza pelo transporte e armazenamento dos clientes, além da gestão e organização de ambas as atividades. A companhia garante espaço seguro de armazenagem, sendo possível enviar encomendas com peso superior a 40kg de Portugal para toda a Europa com agilidade e segurança. “Tivemos um aumento enorme no fulfillment (processos de compra e pós-venda) dos clientes vindos do Brasil. Em janeiro deste ano, tínhamos um armazém com 300 posições palete, que criamos como um teste e que lotou em 3 meses. Hoje, estamos em um armazém com 2000 metros quadrados e 2000 posições palete e, em menos de 3 meses, estamos com 75% de ocupação. Para esse semestre, planejamos dobrar a capacidade de armazenamento”, informa Sicsu.

Já a internacionalização e gestão full commerce das marcas brasileiras na Europa é realizada pela goX Crossborder, que oferece uma infraestrutura completa para viabilizar a operação, contemplando serviços como canais de vendas em marketplace, site próprio da marca, análise de mercado, precificação, pagamentos, gestão de estoque, distribuição, B2B entre outros. “Com o investimento na goX Crossborder esse ano, esperamos um crescimento de 50% em 2023, com a adição de clientes da startup”, revela o CEO.

Wilberto BLAZE RetratoWilberto Filho, cofundador e CEO da Blaze Information Security. (Foto: Divulgação)

Talentos pelo mundo

Grupo que mantém a sólida operação das marcas O Boticário, Quem Disse Berenice?, além do seu e-commerce em Portugal, também acaba de internacionalizar a sua área de tecnologia e inovação, inaugurando a hub tech em Lisboa. A iniciativa tem como objetivo atrair um pool global de talentos já residentes em Portugal visando aumentar as oportunidades de contratação na área e potencializar o desenvolvimento de soluções digitais e tecnológicas para o negócio.

“Olhamos constantemente para as tendências e movimentos do mercado digital e isso inclui incorporar novas iniciativas para atrair os melhores talentos para o Grupo. Somente entre 2020 e 2021, triplicamos as contratações em tech, resultando em um aumento de 206% do time. Hoje, contamos com mais de dois mil profissionais dedicados ao desenvolvimento de soluções e inovações digitais e tecnológicas, desenvolvedores, especialistas em dados, UX, CX data analytics e dentre outras tantas atribuições com atuação transversal ao nosso ecossistema”, explica Daniel Knopfholz, vice-presidente de Pessoas, Digital e Tecnologia do Grupo Boticário e complementa: “Lançar o hub tech em Portugal amplia as nossas possibilidades, já estamos olhando para profissionais em escala global em um dos maiores polos de tecnologia do mundo”, complementa o executivo.

Unicórnios de DNA português

OutSystems

A OutSystems foi fundada em Portugal, em 2001, com a missão de dar a todas as organizações o poder de inovar através do software. Assim, as ferramentas de alta produtividade, conectadas e assistidas por IA da plataforma de aplicativos ajudam os desenvolvedores a criarem e implementarem rapidamente uma gama completa de apps em qualquer lugar do mundo. Com mais de 435 mil membros da comunidade, mais de 1500 funcionários, 350 parceiros e clientes ativos em 87 países e 22 indústrias, a OutSystems atinge uma escala global.

Farfetch

A Farfetch Limited é a principal plataforma global de tecnologia para a indústria da moda de luxo. Fundada em 2007 por José Neves pelo amor à moda e lançada em 2008, a Farfetch começou como um mercado de comércio eletrônico para boutiques de luxo em todo o mundo. Hoje, o marketplace conecta clientes em mais de 190 países a itens de mais de 50 países e mais de 1.400 das melhores marcas, boutiques e lojas de departamento do mundo.

Taldesk

A Talkdesk, criada em 2011 pelos portugueses Cristina Fonseca e Tiago Paiva, em São Francisco, nos EUA, é uma empresa líder global em experiência do cliente para empresas obcecadas no cliente. A solução por meio de contact center oferece a melhor para empresas e clientes interagirem uns com os outros. A velocidade de inovação e atuação global da companhia refletem nosso compromisso em garantir que empresas em todos os lugares possam oferecer melhores experiências ao cliente por meio de qualquer canal, resultando em maior satisfação do cliente, economia de custos e lucratividade.

FuturecomEduardo Zaidan, COO Global da Futurum Capital. (Foto: Divulgação)

Ecossistema de inovação além-mar

  • A Aluga.com, empresa de aluguel de equipamentos de TI, anunciou a expansão de seus negócios e passa a realizar o serviço de locação para empresas portuguesas que buscam mão de obra no Brasil. São nove empresas em Portugal no ramo de Tecnologia da Informação (TI), a maioria nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que atendem 62 funcionários contratados no Brasil. “Atualmente, as empresas que atendemos contratam desenvolvedores e programadores brasileiros para trabalharem remotamente, e nós entregamos os computadores na residência de cada colaborador, como tem sido o nosso padrão de atendimento ao longo da pandemia”, explica Ricardo Marcelino, fundador da Aluga.com.
  • A Blaze Information Security tem se destacado não somente no mercado brasileiro, mas também em solo europeu. O feito foi obtido depois que a companhia passou a pensar como os cibercriminosos, antecipando atividades maliciosas e possíveis brechas em seus clientes. Em 2021, a Blaze viu sua receita crescer 127% e, atualmente, 70% de seu faturamento é concentrado em Portugal, onde fica uma das suas bases operacionais de consultoria em cibersegurança. “Hoje, a empresa possui colaboradores na América Latina e Europa, e mais da metade está em terras portuguesas”, diz o co-founder e CEO da Blaze Information Security, Wilberto Filho.
  • A Meetz, startup especializada em inteligência comercial e prospecção b2b, entregando reuniões agendadas em um curto espaço de tempo entre o time de vendas e tomadores de decisão estratégicos, inaugurou no final de 2021 um escritório em Lisboa. No local, são definidas as estratégias da companhia, mirando a expansão projetada para o mercado brasileiro e europeu. Além disso, a empresa já atua diariamente atendendo diversos clientes que buscam abrir mercado na Europa e quer se consolidar como parceira estratégica de parceiros visam a internacionalização de seus negócios para países como Portugal, Ucrânia, Reino Unido e Alemanha.
  • A Futurum Capital, venture developer brasileira especializada em startups early stage, anunciou a inauguração de uma nova sede em Lisboa, com o objetivo de fomentar e desenvolver negócios com empreendedores e empresas locais (corporate venture), bem como de internacionalizar empresas brasileiras e europeias. “A chegada da Futurum Capital em Lisboa faz parte de uma estratégia de expansão global. Portugal é a porta de entrada para o mercado europeu e nosso objetivo é fazer um intercâmbio tecnológico, internacionalizando empresas brasileiras e, ao mesmo tempo, trazer empresas europeias que tenham fit com o nosso mercado, para o Brasil", revela Eduardo Zaidan, global chief operating officer da Futurum Capital.