Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP: 'Há um caminho para a sustentabilidade e você tem que fazer a coisa certa na hora certa'

Especialista no setor de transporte e infraestrutura, Christine Jeanne Ourmières-Widener foi CEO do Flybe Group, considerada uma das mais importantes aéreas regionais da Europa com operação no Reino Unido. A trajetória da executiva também inclui cargos de liderança na Air France-KLM. Nesta entrevista exclusiva, a CEO reflete sobre pontos essenciais para o futuro da empresa e do setor.

TAP_CEO_15DChristine Ourmières-Widener, CEO da TAP Air Portugal. (Foto: Divulgação)

No primeiro semestre deste ano, a TAP Air Portugal transportou mais de 640 mil passageiros, o que representa um aumento de 526% comparado ao mesmo período de 2021, sendo responsável por 28% dos passageiros transportados entre Brasil e Europa.

Com 3.129 voos realizados no primeiro semestre deste ano, é a primeira companhia aérea para Europa e a terceira maior internacional em número de decolagens, o que representa aumento de 130% comparado ao mesmo período de 2021.

No Brasil, a TAP Air Portugal está com cerca de 86% da capacidade, quando comparado com o período anterior a pandemia. Com uma rede de mais de 90 destinos em todo o mundo, o reforço do número de assentos é um forte sinal de retomada.

No controle

De acordo com Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP Air Portugal, o Brasil continua sendo um dos mercados prioritários para a companhia. Assim, até ao final do ano, a TAP aérea continuará investindo em seu compromisso de atender a passageiros brasileiros com segurança e pontualidade.

“O Brasil é o principal mercado, depois de Portugal, para a TAP. Temos 11 destinos diretos e devemos continuar investindo no compromisso de atender passageiros brasileiros, diferencial que a mantém como a mais importante companhia aérea internacional que conecta o país à Europa”, enfatiza a executiva.

Em manutenção

No início de 2016, a TAP Air Portugal anunciou uma nova era para alcançar investimento e renovação, de uma só vez. Desde então, a companhia se apresenta como aspecto mais moderno, inovadora e atenta à satisfação dos seus clientes, refletindo o espírito acolhedor de Portugal para outras nações.

As mudanças prosseguiram seu curso e, em 2021, Christine Jeanne Ourmières-Widener assumiu como CEO da empresa, tendo como principal objetivo a reestruturação financeira e estratégica da companhia, processo aprovado no final do ano passado.

“Na TAP, estamos no processo para sair de uma crise financeira, mas não é porque de repente temos mais clientes que nos tornamos rentáveis. Planejamos para 2023 o que estamos voando em 2022 e acho que foi uma boa decisão voar neste ano com capacidade 10% menor do que tínhamos em 2019. Mas temos desafios para operacionalizar esse crescimento, de organização, configuração e eficiência. Há muito a melhorar, mas a oportunidade existe”, pondera.

Christine destaca que até 2025, a TAP será uma empresa sustentável e rentável. “Esse é o nosso compromisso com o governo português e com a Comissão Europeia. Os primeiros seis meses de implementação do plano de reestruturação mostram que estamos no caminho certo, com um projeto definido. Estamos enfrentando alguns desafios, relacionados não só às operações, mas a um aumento de custos que não podemos controlar”, afirma.

Turbulência

Outro fato relevante, é que Christine possui histórico de projetos e condução de Fusões e Aquisições de alto valor para garantir a sustentabilidade de longo prazo das empresas onde atuou. Tal experiência tem ajudado a lidar exatamente com os impactos da atua crise econômica global nos negócios da empresa.

“A inflação tem impacto direto nas operações. Espera-se que os custos de combustível para a TAP sejam cerca de 300 milhões de euros a mais do que o previsto no início do ano e a inflação já está afetando diferentes itens, como alimentação e logística. Outros, como eletricidade, aeroporto ou custos de movimentação, até certo ponto protegidos por contratos, serão afetados em algum momento. As diferenças cambiais, como a valorização do dólar americano em relação ao euro, também influenciam”, avalia a CEO.

Para Christine Jeanne, há muitos desafios no plano de reestruturação da empresa, mas também muitas oportunidades no caminho ao longo dos próximos anos. “O transporte aéreo, bem como seus serviços de infraestrutura, está enfrentando enorme limitação de recursos em nível global, no momento em que as operações de voo passaram de praticamente de zero para cerca de 90% dos níveis do período pré-pandemia. Devido às restrições em vários aeroportos onde a empresa opera, muitos voos e toda a nossa operação foram afetados. Apesar disso, e da alta temporada turística, fazemos o possível para minimizar o impacto dessas contingências. Sabemos que não estamos oferecendo a excelência do serviço que planejamos, dada a crise que o transporte aéreo está passando, e esperamos um verão desafiador para todas as partes”, analisa.

Céu de brigadeiro

Segundo a executiva, até o final da década, os principais desafios do setor aéreo serão a digitalização e a flexibilidade. Ela pontua que investimentos estão sendo feitos em todo o mercado para permitir que os clientes experimentem uma experiência digital completa, tanto no pré como no pós-voo.

“A TAP está fazendo investimentos em sistemas de informação para permitir que os clientes gerenciem sua reserva on-line, por exemplo. Os clientes exigem mais flexibilidade em relação às suas reservas, e as companhias aéreas, como é o caso da nossa, estão lidando com essa necessidade. A companhia abraça a tecnologia que contribui para oferecer um melhor serviço e experiência aos consumidores, aumentar a eficiência operacional e a segurança e criar um ambiente mais sustentável”, finaliza.

Ping-pong

Quais são as perspectivas para 2022 e 2023 em termos de resultados?

Temos muitas incertezas que não podemos avaliar: o resultado da guerra, a erosão da taxa de câmbio, o euro contra o dólar, as eleições no Brasil. Ficarei mais confortável com o resultado do ano após setembro, até lá teremos uma perspectiva mais clara. As decisões estão ligadas não apenas ao que podemos pagar a qualquer momento, mas também à avaliação desse risco e das incertezas em certas áreas. Digo isso não apenas pensando na nossa empresa, mas também para as demais companhias aéreas, empresas com presença global onde o risco e a incerteza são agora bastante altos.

Como a pós-pandemia impactou as relações com profissionais do setor? Quais são os planos da empresa para treinar a força de trabalho e reter talentos?

Tem sido um período difícil para nossos funcionários e entendo o que isso possa significar para os sindicatos. Meu desejo seria seguir em frente sem os cortes salariais para todos, mas infelizmente eu não posso abrir mão disso. Há um caminho para a sustentabilidade e você tem que fazer a coisa certa na hora certa. Se estamos cumprindo nosso plano e podemos provar ao mercado e aos cidadãos portugueses que podemos entregar resultados ainda mais rápido do que tínhamos em mente, os funcionários têm que fazer parte desse sucesso. Mas é muito cedo para tomar tal atitude.

De que maneira a TAP tem lidado com questões como ESG e essa nova maneira de se relacionar com os clientes?

As empresas são mais propensas a terem sucesso e gerar excelente rentabilidade e criarem valor para todos os seus stakeholders. Acreditamos que uma empresa bem gerenciada e responsável que se preocupa com seus funcionários, clientes, investidores e meio ambiente é mais propensa a se sustentar melhor e superar seus concorrentes. É isso que planejamos prosperar.