Antonio Vergara, da Roche: tiramos os departamentos para que eles coexistam e para que as pessoas tomem decisões mais rapidamente

A combinação ideal entre pesquisa, desenvolvimento e inovação requer muito mais que investimento e, por vezes, mais de um caminho.

Antonio Vergara, presidente da Roche Diagnóstica do Brasil  (Foto: Dvulgação)Antonio Vergara, presidente da Roche Diagnóstica do Brasil. (Foto: Divulgação)

Em apenas um ano, a multinacional suíça Roche Diagnóstica, por meio de parcerias e pesquisas, lançou seis testes para diagnóstico da Covid-19, sendo pioneira no Brasil, onde possui nove soluções. O resultado é fruto do forte investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que já faz parte da cultura da empresa globalmente. Apenas em 2020, a Companhia investiu 20% de seu faturamento global em P&D, aproximadamente R$ 72 bilhões.

Os números estão na contramão da realidade brasileira, no qual os investimentos na área representaram apenas 0,55% do Produto Interno Bruto (PIB) na média entre os anos de 2000 e 2016, variando de 0,48% a 0,70%, segundo dados do Ministério de Ciência Tecnologia Inovação e Comunicação. Se somados os investimentos privados, o valor fica em torno de 1,11% do PIB - abaixo da média dos investimentos realizados por países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que chegaram a uma média de 2,3% do PIB.

Uma das principais frentes para o investimento em P&D da Roche são os diagnósticos. As soluções criadas para a Covid-19 refletem esse foco, mas não resumem a importância dada ao tema na companhia. “A relevância do diagnóstico é anterior à pandemia e vai além, pois continuar contribuindo na luta contra qualquer tipo de doença é fundamental. No entanto, o investimento geral da indústria dedicado a essa frente ainda não reflete a realidade”, explica Antonio Vergara, presidente da Roche Diagnóstica do Brasil.

“Mundialmente, o investimento em diagnósticos representa apenas 2% do valor dedicado à assistência total de saúde, mas eles são responsáveis por mais de 70% das decisões médicas”, avalia ele, destacando o cenário brasileiro, onde essa proporção é ainda mais desequilibrada, chegando a 0,5%.

Para Vergara, este quadro não pode ser mantido, pois muitas doenças são evitáveis. Um exemplo é o Câncer de Colo de Útero, que ocorre por causa da infecção persistente do vírus HPV (papiloma humano), podendo levar de 10 a 15 anos para se desenvolver. Há décadas, a forma mais utilizada de rastreamento é o exame de Papanicolau, mas um terço dos casos de câncer ocorre em mulheres com resultados normais de Papanicolau, devido à baixa sensibilidade do exame (apenas 50%).

Metodologias

A combinação ideal entre pesquisa, desenvolvimento e inovação requer muito mais que investimento e, por vezes, mais de um caminho. “Temos a vantagem de termos a empresa que mais investe em inovação e novas soluções, mas como traduzimos isso para o mercado, depende de como estamos organizados”, pondera Vergara, que destaca a organização interna dividida em duas grandes frentes – uma voltada para o atendimento aos clientes atuais e outra para criar soluções, com foco em desenvolver novos sistemas de negócios.

Uma das formas adotadas para que o processo flua de maneira mais orgânica, rápida e de acordo com as necessidades do mercado é o uso de métodos ágeis, saindo do tradicional modelo centralizado e hierárquico para uma construção conjunta e colaborativa, como o RDB 4.0. Nas palavras do executivo da Roche, é uma gestão baseada em autogestão, colaboração e liderança coletiva.

“Estamos tirando completamente os departamentos para que eles coexistam e para que as pessoas que estão no campo e mais próximas ao cliente possam tomar decisões mais rapidamente, atuar com os departamentos que fazem sentido e levar soluções de forma ágil ao mercado. É um modelo operacional completamente disruptivo e colaborativo”, diz.

Um exemplo prático é o time multidisciplinar estruturado para acompanhar a atuação da empresa nos outros países para trazer ao Brasil as melhores práticas.

Experiência

O intercâmbio entre os países tem realmente facilitado a criação de oportunidades para empresas brasileiras. Primeira farmacêutica brasileira a exportar medicamentos para a Europa, em 2005, a EMS tem mais de 100 patentes concedidas pelo mundo, mais de 400 registros de medicamentos no exterior e, desde 2013, tem uma empresa instalada em território norte-americano, sendo a primeira companhia brasileira do segmento a apostar para o intenso mercado de inovação nos Estados Unidos, país responsável por mais de 70% do desenvolvimento de medicamentos inovadores no mundo. São mais de R$ 1 bilhão que vêm sendo investidos para levar produtos inovadores para autorização/aprovação da Food and Drug Administration (FDA) - agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

EMS - DivulgaçãoMais de 60 projetos de pesquisa clínica estão em desenvolvimento na EMS. (Foto: Divulgação)

A proposta da EMS é registrar terapias inovadoras nos Estados Unidos e, posteriormente, submetê-las ao registro e à aprovação de agências regulatórias no Brasil e em outros mercados. Hoje, a EMS, por meio dessa empresa nos EUA, localizada em Maryland, possui 13 parcerias vigentes em áreas como oncologia, cardiologia, sistema respiratório, doenças neurodegenerativas, metabólicas e autoimunes. A companhia mantém, ainda, um intenso intercâmbio de conhecimento por meio da atuação integrada dos mais de 400 pesquisadores do Centro de P&D do Brasil com a equipe do laboratório de pesquisas MonteResearch, localizado na Itália.

Neste ano, mais de 60 projetos de pesquisa clínica estão em desenvolvimento, 50% a mais que em 2020.

“Os investimentos em inovação trazem inúmeros benefícios aos pacientes em diferentes frentes, principalmente na qualidade e eficácia de novos medicamentos que contribuam para que os tratamentos sejam cada vez mais assertivos. Acreditamos que investir em pesquisa, inovação e tecnologia é, acima de tudo, continuar garantindo o acesso da população a terapias e soluções que contribuam para melhorar a qualidade de vida”, afirma Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS.

Por mais dados

Startup desenvolve plataforma exclusiva de validação de dados epidemiológicos para o Instituto Butantan

As startups de saúde, as health techs, possuem papel fundamental para ajudar a combater a pandemia no Brasil. Além disso, muitas empresas tiveram que antecipar e se adequar às atualizações tecnológicas, já que o momento atual exige adaptação e um enfrentamento rápido contra o coronavírus.

Como uma das formas de atuar no combate da Covid-19 e ajudar o Brasil na testagem em massa de sua população, a Hilab, health tech que desenvolveu o laboratório remoto Hilab e que tem como missão democratizar o acesso à saúde no país, se juntou ao Instituto Butantan para a realização de diversos projetos voltados para o controle e triagem epidemiológica do coronavírus no país.

A parceria entre a Hilab e o Butantan acontece há um ano e já resultou no desenvolvimento de 13 projetos. O trabalho em conjunto segue neste ano com ações que visam expandir ainda mais o acesso à saúde, principalmente neste período de pandemia.

Instituto Butantan - Divulgação Instituto Butantan, em São Paulo. (Foto: Divulgação)

Plataforma Tainá

No início da pandemia, o Instituto Butantan tinha o desafio de criar uma plataforma de processamento de exames de Covid-19 e monitoramento dos resultados em tempo real. Para ajudar na centralização das informações da covid-19 e validação de todos os dados epidemiológicos do Instituto Butantan, a Hilab co-desenvolveu uma plataforma exclusiva chamada Tainá. Na plataforma são compilados todos os resultados dos exames de covid-19 realizados pelo Butantan, incluindo exames de fornecedores de testes rápidos, PCR e exames Hilab.

A Plataforma Tainá é composta de cinco sistemas de informação que integrados permitem a gestão dos dados, enviados pelos diversos centros no Brasil, e a visualização de informações para o apoio na tomada de decisões. Atualmente a plataforma também auxilia nos dados epidemiológicos da Coronavac.

"O projeto Tainá foi criado pela equipe de desenvolvedores da Hilab, em parceria com o Instituto Butantan, com o objetivo de monitorar os dados epidemiológicos dos exames laboratoriais de covid, auxiliar na realização dos mesmos e emitir os laudos com os resultados das análises. Temos muito orgulho do crescimento da plataforma, que hoje também engloba novos procedimentos como: notificação de casos positivos para os órgãos responsáveis e a troca de dados por um canal seguro para a disponibilização dos mesmos para os coordenadores dos projetos", aponta Figueredo.