Felipe Paiva: Perspectivas para 2023 - layoffs vs. contratações

Acreditamos que essa sequência de layoffs representa muito mais um ajuste de curto prazo do que uma mudança de tendência da quantidade de pessoas migrando para a área de tecnologia.

20230902-Foto_FelipePaivaFelipe Paiva, Founder & CEO Ada Tech. (Foto: Divulgação)

2022 foi um ano desafiador para todos nós. Evitaremos entrar na seara alheia, mas sabemos que o cenário econômico mudou, o crédito secou com o aumento de juros ao redor do mundo, acentuado por guerras e tensões geopolíticas. 

Diante destes desafios, o mercado de tecnologia consequentemente passou por uma instabilidade. Em termos práticos, verificamos o maior layoff dos últimos 8 anos no mercado americano — e provavelmente em diversas outras geografias.

Gráfico 1 - Layoffs (Variação contratações tech EUA)

Gráfico 2 - Layoffs (Quantidade de Colaboradores)

No Brasil, infelizmente, as estatísticas são precárias e não conseguimos identificar dados similares, porém, o Layoffs Brasil e outras notícias recorrentes nos fazem traçar uma situação paralela a dos Estados Unidos. No entanto, se analisarmos dados do Bureau of Labor Statistics, a empregabilidade em tecnologia cresce consistentemente desde o início de 2021 (período pós-pandemia).

Gráfico 3 - Layoffs (Empregos na Indústria Tech EUA)

Como podemos avaliar estes fatos?

Startups, Big Techs e Grandes Empresas

Notamos um comportamento diferente para cada perfil de empresa. As startups foram as que mais sofreram. O nível de maturidade e dependência de capital externo tornam o modelo mais exposto a correções e ajustes de cenário econômico. 

Durante o 2º semestre de 2022, recebemos atualizações de inúmeras startups cortando de 20% a 40% de seu quadro de colaboradores. De acordo com dados da TrueUp, em 2022 tivemos cerca de 1500 layoffs que impactaram aproximadamente  237 mil pessoas. Dentre estes números, estão incluídas big techs e outras empresas de tecnologia.

Gráfico 4 - Layoffs (Quantidade de Empresas)

As FAAMGs (pequena adaptação de FAANG com Microsoft) apresentaram comportamentos diversos. Facebook foi provavelmente a empresa mais agressiva em relação a cortes. Foram 4 eventos de layoffs no ano passado e um corte total de, aproximadamente, 11 mil pessoas (o headcount da empresa era cerca de 80 mil, depois de dobrar nos últimos anos). A empresa segue em hiring freeze até, no mínimo, 1T23. 

Nos últimos dias, Alphabet, Microsoft e Amazon anunciaram um planejamento de corte de funcionários. A Apple está contratando timidamente e não realizou layoffs relevantes em 2022 — provavelmente deve seguir nesse ritmo ao longo do primeiro semestre.

Por mais que os números de demissões em massa pareçam assustadores, este cenário apenas ressalta a grande onda de contratações feitas pelas Big Techs durante a pandemia. Na última semana, o Morning Brew fez um comparativo bastante interessante sobre este contexto:

  • A Microsoft contratou 40.000 pessoas de junho de 2021 a junho de 2022. O que, após os recentes layoffs, ainda são 30.000 funcionários a mais em 18 meses.
  • As 12.000 demissões da Alphabet representam aproximadamente 33% dos 36.751 funcionários contratados em um único ano até setembro de 2022.
  • Meta contratou mais de 26.000 funcionários em 2020 e 2021; e nas últimas semanas cortou 11.000 colaboradores. 

Os recentes layoffs nos levam a pensar que as grandes empresas, durante a pandemia, não esperavam essa futura onda de pessimismo, e, diante do cenário macroeconômico atual, as empresas precisaram ser mais cirúrgicas em suas tomadas de decisões e investimentos.

Mesmo diante deste contexto desafiador, a newsletter Pragmatic Enginner divulgou recentemente uma lista com mais de 1300 empresas que estão contratando em tecnologia (última atualização em 19-Dez-22). Com isso, podemos concluir que a percepção de risco é provavelmente muito influenciada pelo tipo de empresa e setor em que você está imerso. 

Confira a tabela aqui.

Outlook para 2023

Futurologia é uma atividade complicada, mas dividiremos aqui algumas percepções baseadas nos últimos meses. Para a maioria dos clientes que interagimos — que normalmente exclui startups por conta do nosso perfil de atuação — , notamos que 2023 será um ano de cautela, com crescimento tímido ou tamanho estável da equipe de tecnologia. As empresas tentam entender melhor a produtividade de seus times depois de um período de forte expansão de headcount.

As contratações serão focadas em reposição de turnover, e as iniciativas de Diversidade & Inclusão seguem também como uma pauta relevante para grandes empresas.

O número de vagas abertas em tech reduziu de um pico de 400 mil para cerca de 200 mil no último mês, mas segue num volume similar aos períodos de pré-pandemia. Este alívio, inclusive, impacta remunerações/senioridade irracionais que vimos nos últimos anos — principalmente em 2021.

Gráfico 5 - Layoffs (Vagas abertas em tech)

O cenário atual de recessão adianta o plano de ação das empresas em ajustar suas estruturas, e, além das demissões, este contexto também impacta nos futuros investimentos em tecnologia. Uma alternativa eficiente e de otimização que as empresas têm demonstrado interesse — e mais da metade já está colocando em ação — é nas estratégias de requalificação e upskilling. Como exemplo, podemos citar a fabricante de carros Mercedes-Benz, que em julho de 2022 anunciou um investimento de US $1,3 bilhão em opções de treinamento —incluindo um “Programa de Preparação Digital”.

Podemos dizer que o mercado ainda é escasso de talentos qualificados em tech, porém, segundo Jim DeLoach, diretor-gerente da Protivit, “o talento que as empresas precisam não está na rua”. Além disso, no relatório recente da McKinsey(2022) constatamos que mais de 50% das empresas entrevistadas consideram que está mais difícil contratar em cargos relacionados à Inteligência Artificial, se comparado a 3 anos atrás. 

Segundo o relatório Tech Trends 2023 da consultoria Deloitte, as empresas agora também buscam o “engenheiro de 10 empregos”, que pode ser considerado praticamente um especialista polivalente. Mike Betchel, futurista-chefe da consultoria, afirma que “se os empregadores contratam por características como curiosidade e atitude, então os talentos podem ser encontrados internamente.”  

Conclusão

Acreditamos que essa sequência de layoffs representa muito mais um ajuste de curto prazo do que uma mudança de tendência da quantidade de pessoas migrando para a área de tecnologia. 

Para que as empresas elaborem suas estratégias de requalificação e upskilling de maneira mais eficiente, é preciso fazer desde o mapeamento das habilidades desejadas até das que já possuem, para assim conseguir identificar quais lacunas precisam ser preenchidas — seja por meio de treinamento ou contratação (afinal, nem todas as habilidades podem ser aprimoradas). 

Quanto às tendências de profissões para 2023, podemos afirmar que Desenvolvimento e Dados seguem no topo da lista das profissões do futuro — e com ótimas perspectivas de remuneração e crescimento.