Chefe comprometido com valores públicos leva à maior permanência de funcionário

Estudo com escolas do Rio detectou que relação ocorre sobretudo em áreas inseguras.

imagem_2021-10-04_103858
Pesquisa indica que uma liderança carismática está associada ao comprometimento dos funcionários. (Foto: Pixabay)

Em ambientes de trabalho mais estressantes – marcados por pobreza e violência –, a presença de um chefe comprometido com os valores do serviço público está associada com a permanência mais longa dos funcionários numa mesma unidade de trabalho.

Essa hipótese, derivada da literatura da administração pública sobre profissionais na linha de frente, foi testada e confirmada pelos pesquisadores Gustavo Tavares (Insper), Filipe Sobral (FGV) e Bradley Wright (Universidade da Georgia) a partir de uma pesquisa aplicada a servidores da rede de ensino do município do Rio de Janeiro.

Publicado neste ano no “Journal of Public Administration Research and Theory”, o trabalho ficou em primeiro lugar no prêmio George Stigler.

Os valores compatíveis com os idealizados para a prestação de serviços públicos nas sociedades contemporâneas em geral estão associados a conceitos como integridade, prestação de contas, imparcialidade, abertura à colaboração, altruísmo e profissionalismo. Já a liderança carismática denota a percepção, pelos liderados, de que sua chefia inspira respeito, admiração e orgulho de pertencer à organização.

A primeira hipótese levantada pelo trio de pesquisadores é de que a percepção de uma liderança comprometida com valores públicos está positivamente relacionada com a percepção de uma liderança carismática. A segunda hipótese associa líderes carismáticos com maior permanência dos empregados naquele local de trabalho. Por fim, cogita-se que, em ambientes mais estressantes, é ainda mais forte a associação entre a liderança carismática e a redução da tendência a mudar de local de trabalho.

Para avaliar essas conexões, a pesquisa aplicou questionários a servidores de escolas de ensino fundamental da rede municipal do Rio, medindo a percepção deles sobre o perfil de liderança dos seus diretores –nos aspectos seja de comprometimento com valores públicos, seja de carisma. A amostra final abrangeu 874 entrevistados, de 87 escolas.

Dados da prefeitura alimentaram as bases sobre os índices de permanência dos servidores em cada escola. Com estatísticas de pobreza e violência, classificaram-se as regiões em que estão situadas as unidades de ensino quanto ao grau de estresse para o trabalho dos seus funcionários.

Os testes econométricos mostraram que há uma relação positiva entre o nível de comprometimento com valores públicos da liderança e a taxa de permanência de servidores nas unidades de ensino. Essa associação, contudo, demonstrou significância estatística só em ambientes de maior estresse, onde há incidência relativamente alta de violência e pobreza.