Artigo: Primeiro semestre registra mesmo nível de atividade de Fusões e Aquisições no país, mas desaceleração recente deve impactar no total de operações do ano

País mantém patamar em comparação ao mesmo período de 2021, porém volatilidade e incertezas globais e internas já impactam no número de operações. Junho foi o 4º mês consecutivo com redução no número de transações anunciadas. Perspectiva agora é para recuperação em 2023.

g_66_0_1_14012022103448Alexandre Pierantoni, Managing Director de Corporate Finance da Kroll. (Foto: Divulgação)

Diversos fatores originaram a crise econômica que, local e globalmente, estamos enfrentando. Após um período complexo causado pela pandemia da COVID-19, temos hoje, dentre outras situações, a guerra provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia, a quebra de cadeias de fornecimento e a inflação na casa dos dois dígitos (e consequente aumento de taxa de juros básicas). Internamente, o contexto político e a constante exposição negativa do país ao exterior (por exemplo em questões ambientais), causa aumento de ruídos e desafios aos investidores. São incertezas globais, combinadas com um cenário interno extremamente desafiador, que afetaram o volume de operações. O mercado de capitais também ficou restrito, com menor liquidez e registrando apenas seletivos follow-ons, de operações maduras e em setores mais resilientes.

Atividades de fusões e aquisições (M&A em inglês) - que na pandemia apresentaram um crescimento e volumes recordes de operações, tanto no Brasil, como no mundo - começa a dar sinais de desaceleração neste primeiro semestre de 2022. Ainda no mesmo patamar do mesmo período do ano anterior, tivemos 735 transações anunciadas no país nos meses de janeiro a junho. Em 2021, foram 752 operações, uma queda de apenas 2,3%.

Em 2020, o Brasil registrou 1.100 transações, e em 2021, 1.627 com um crescimento de 48% no auge da pandemia (movimento este de expressivo crescimento de números de operações foi registrado globalmente, principalmente em setores relacionados à tecnologia e suas verticais). Neste mês de junho, 94 transações foram anunciadas no Brasil, o que representa 19,6% de redução em relação ao mesmo mês do ano anterior (117). Os setores de maior atividade continuam sendo associados, direta ou indiretamente, à tecnologia, serviços financeiros (onde tecnologia também está fortemente presente), serviços B2B e B2C, logística, energia e produtos de consumo. Destaque também aos setores de educação e saúde, que continuam em movimento de consolidação. Observamos uma retração das atividades de M&A no setor de varejo.

Investidores estratégicos continuam liderando o número de transações anunciadas, estando presentes em mais de 65% das operações do período. As 20 maiores operações de M&A anunciadas no primeiro semestre somam R$ 61,6 bilhões.

O mercado de capitais não registrou nenhuma abertura de capital (IPO) com apenas 11 operações de follow-on (sem contar privatização da Eletrobras), movimentando cerca de R$ 13,5 bilhões. Estes volumes e valores são marginais quando comparados aos realizados em 2021, que registrou um recorde de operações de 70 IPOs e follow-ons e movimentação de R$ 130 bilhões. Empresas novatas tiveram maiores desafios, em um momento de correção global de preços – as empresas de tecnologia e de varejo foram as mais afetadas. Privatizações e concessões continuam na pauta do governo com o Programa de Parcerias de Investimento e as PPPs, em uma combinação de recursos com a iniciativa privada para investimentos em necessidades estruturais do país.

Dentre os follow-ons deste ano, destaque às operações da BRFSA (Alimentos) de R$ 5,4 bilhões, da Equatorial Energia (Energia) de R$ 2,8 bilhões, da Alpargatas de R$ 2,5 bilhões e da Arezzo (Produtos de Consumo) de R$ 0,9 bilhão, da CBA (Mineração) de R$ 1 bilhão, da Fras-Le (Indústria) de R$ 0,7 bilhão e da CVC (Turismo) de R$ 0,4 bilhão.

Incerteza é tudo que o investidor não quer. Os fatores mencionados, de impacto doméstico e global, com seus efeitos em preços de commodities e nas cadeias de fornecimento, acentuados por desafios internos do país, em mais um ano marcado por interferências e ruídos criados em períodos de eleição presidencial, causam esta incerteza e consequente incerteza.

Olhando para 2023, quando algumas destas variáveis estarão mais esclarecidas e, muito provavelmente, o país terá menos “ventos contrários”, a perspectiva é da retomada de atividades, mesmo com investimentos que continuarão seletivos.

Os dados demonstram que os investidores nacionais continuarão, junto com investidores estrangeiros que já conheçam o Brasil, ativos em processos de M&A – enquanto entrantes irão aguardar um cenário mais claro para definir uma estratégia de investimentos de longo prazo.