Artigo: Os prós e contras do home office

Pesquisa do IEL mostra as transformações provocadas pela pandemia nos contratos de estágio.


O home office alcançou cerca de 11% dos trabalhadores brasileiros durante a pandemia em 2020. (Foto: Reprodução/Agência CNI)

O home office alcançou cerca de 11% dos trabalhadores brasileiros durante a pandemia em 2020, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mas esse número poderia ser muito maior. O percentual de pessoas em potencial de teletrabalho é de cerca de 22,7% da população ativa, o que corresponde a 20,8 milhões de indivíduos, segundo outro estudo divulgado pelo Ipea no mês de outubro.

“A pandemia nos ajudou a enxergar o trabalho remoto de outra maneira. Muitos funcionários passaram a render mais com o home office do que com o [trabalho] presencial, sem falar na redução do estresse por não precisar pegar trânsito todos os dias e pelos custos com transporte”, relata Flávia Mello, assistente de RH da ATI Automação e Tecnologia da Informação. 

A empresa mineira tem sede em Belo Horizonte e conta, atualmente, com 30 colaboradores. Entre eles, dois profissionais realizam trabalho remoto, um no Rio de Janeiro e outro no Ceará, este contratado após o início da pandemia. A experiência tem sido tão positiva que, ao receber o currículo para uma vaga de estágio de uma pessoa que não mora na capital mineira, a empresa seguiu com a seleção. Uma estudante que mora na Paraíba foi contratada em novembro, tornando-se a primeira estagiária em trabalho remoto da organização.

Jennifer da Silva, 24 anos, é de São Paulo, mas mora em Cajazeiras, cidade que fica a 475 km da capital João Pessoa. Estudante do curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal da Paraíba, ela conta que o home office não é uma realidade distante, já que é bastante comum em sua área.

“Se não tiver uma boa equipe e uma boa comunicação, isso pode ser bem desafiador. Às vezes sinto falta da comunicação direta, pois, querendo ou não, se torna um trabalho solitário, mas as vantagens são muito atrativas”, diz a jovem. Apesar de gostar da ideia do formato híbrido, Jennifer afirma que prefere o trabalho totalmente remoto.

A possibilidade de contratar pessoas de outras cidades ou estados para o formato remoto beneficia tanto empresas quanto estagiários e profissionais. “Estamos vendo que é algo que dá certo, e fica muito mais fácil encontrarmos o perfil que melhor se encaixa para cada vaga”, destaca Flávia Mello, da ATI. 

 
“Hoje todos estão mais abertos a repensar o formato de trabalho, principalmente em áreas como a de Tecnologia da Informação”, diz Eduardo Vaz (IEL).

Transformações positivas

Uma pesquisa feita pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), entidade que faz parte do Sistema Indústria, com profissionais envolvidos no processo de contratação das empresas e gestores das atividades de estágio das universidades revela que a pandemia acelerou a digitalização de processos e a utilização de ferramentas para o trabalho remoto. Além disso, as empresas e as universidades apontaram mais pontos positivos do que negativos nessa nova maneira de trabalhar.

Contratar o estagiário – desde o processo de entrevista até a assinatura do contrato de forma virtual – ficou muito mais ágil e transparente. O fim das fronteiras geográficas, como é o caso da Jennifer, que mora na Paraíba e trabalha para uma empresa de Minas Gerais, foi apontado como outro fator positivo no levantamento do IEL. 

Ainda segundo a pesquisa, o trabalho remoto faz com que os estudantes se organizem melhor entre aulas e trabalho. As empresas, por sua vez, começaram a identificar a necessidade de treinar os estagiários sobre como usar seu tempo no home office e adquirir habilidades comportamentais a distância, alguns dos maiores desafios desse formato."A adoção desses modelos depende da formação e da atividade, mas hoje todos estão mais abertos a repensar o formato de trabalho, principalmente em áreas como a de Tecnologia da Informação", destaca o superintendente nacional do IEL, Eduardo Vaz. 

Segundo ele, a instituição tem atuado justamente para atender às transformações da sociedade, auxiliando empresas, universidades e estagiários a se adaptarem às novas demandas provocadas pela pandemia. “Todos nós vínhamos trabalhando sob modelos que foram criados há décadas. Com a pandemia, fomos forçados a nos modernizar, e o que ficou claro é que há muitas possibilidades a serem exploradas”, afirma Vaz.

Uma das novidades do IEL em 2021 foi o lançamento da websérie Foco na Carreira. Organizada em temporadas e episódios, similar ao que é feito por plataformas de streaming, seu objetivo é promover o desenvolvimento de estagiários de forma mais lúdica, com uma formação totalmente digital. A websérie, inclusive, acaba de ser premiada: ganhou o título de Melhor Programa de Desenvolvimento para Estágio do país, em premiação organizada pela LEO Learning, multinacional especializada em aprendizagem online.



A websérie Foco na Carreira, produzida pelo IEL, promove o crescimento de estagiários e já ganhou o prêmio de Melhor Programa de Desenvolvimento para Estágio do Brasil.

Lei do Estágio

Para que a nova realidade do estágio passe a ser uma possibilidade permanente, é necessário alterar a Lei nº 11.788/2008, conhecida como Lei do Estágio. Uma nota publicada pelo Ministério Público do Trabalho em março de 2020 autorizou o trabalho remoto para estagiários de maneira temporária, devido à pandemia. No entanto, o IEL pretende propor mudanças na lei para que ela passe a prever o estágio híbrido, em função das experiências positivas deste último ano.

“A digitalização e os novos modelos adotados fizeram com que o match das empresas com os estagiários também fosse beneficiado, pois ficou mais ágil e assertivo. É nesse caminho que queremos seguir”, pontua Eduardo Vaz.

 

Fonte: Agência CNI de Notícias