Artigo: O “cheque em branco” que pode recolocar o Brasil no contexto mundial de negócios

SPCAs. Essas quatro letras estão transformando o jeito como os investidores e as empresas captam recursos e abrem capital nas bolsas de valores.

ppAlexandre Pierantoni, Managing Director e Head of Brazil Corporate Finance. (Foto: Divulgação)

SPAC significa Special Purpose Acquisition Company e são sociedades recém-constituídas que fazem captações e são conhecidas como empresas “cheques em branco”. Os gestores, que normalmente têm um histórico de sucesso de investimentos bastante respeitado no mercado internacional e financeiro, são chamados de sponsors e abrem o capital da empresa para atrair investidores, utilizando os recursos deles para adquirir empresas que já existem e que têm potencial de consolidação e crescimento.

O apelido “cheque em branco” qualifica bem o momento da SPAC quando da abertura de capital, porque, a princípio, não se sabe exatamente qual empresa-alvo será objeto de aquisição – esclareço, naquele momento, não há necessidade de apresentar aos investidores qual o setor, ou empresa ou mesmo o país em que a empresa alvo tem operações. Com a aquisição de uma participação na SPAC o investidor garante uma opção de investimento adicional na operação.

A operação se popularizou nos Estados Unidos e, desde o ano passado, tem sido uma forma ágil de empresas abrirem seu capital no exterior. Desde janeiro de 2020 até março de 2021, foram realizadas 89 operações envolvendo SPACs. O volume resultou em mais de US$ 145 bilhões em transações.

Para entender o momento dessas atividades, segue um breve resumo: o número de IPOs de SPACs quadruplicou em 2020 em relação a 2019, e o total realizado no primeiro trimestre de 2021 supera o volume do ano passado. Em termos de valuations, os múltiplos têm estado na faixa de 9 e 11 vezes EBITDA, considerando, por exemplo, os setores de indústria e produtos de consumo e performado acima de índices como o S&P 500.

Um dos fatores que tem impulsionado esse mercado é a atual liquidez dos mercados mundiais, em combinação com as taxas de juros reais mínimas e uma extrema necessidade de investimentos para recuperação da economia mundial. Para a empresa alvo de uma SPAC, há vantagens quanto à rapidez em acessar recursos, da alavancagem financeira e operacional, e, também, do impacto positivo sobre as atividades de M&A.

Essa iniciativa vai competir com investidores estratégicos e financeiros. Mas atenção: cada empresa tem seu momento. Uma transação com uma SPAC pode ser a solução ideal, mas ainda existem casos em que o melhor parceiro pode ser o próprio investidor financeiro.

No Brasil, a CVM está em processo de consulta pública até junho. Regulamentar no país as SPACs colocará o Brasil no contexto mundial de negócios e atrairá capital para investimentos na economia real e desenvolvimento da economia nacional, pontos fundamentais para a nossa recuperação. Já vimos neste ano investidores brasileiros realizando abertura de SPACs nos EUA e com certeza estes recursos beneficiarão investimentos na economia real no Brasil.