Artigo: Lideranças femininas: por que elas são importantes para as empresas?

Como mulher e fundadora da Vittude, já senti na pele várias dificuldades e preconceitos, ainda mais sendo empreendedora no ramo de saúde mental, uma área que ainda sofre com muitos tabus e falta de informação.

63306c66-4fff-444e-ae06-4bbcb6ab6c3cIzabela Yumi, CFO; Desirée Anid, Head de Operações; Tatiana Pimenta, CEO; Fabiola Ancioto, Head de RH; Camila Yu Mateus, CMO; Marina Zutin, Head de Produto. (Foto: Paulo Liebert/Vittude)

As  mulheres  enfrentam  uma luta diária para se firmarem em suas carreiras e terem as mesmas oportunidades que os homens, principalmente no que diz respeito às posições de lideranças nas empresas.

Como mulher e fundadora da Vittude, já senti na pele várias dificuldades e preconceitos, ainda mais sendo empreendedora no ramo de saúde mental, uma área que ainda sofre com muitos tabus e falta de informação.

Na luta pela equidade de gênero, não poderia estar mais feliz com o fato de que o time de lideranças da Vittude conta, em sua maioria, com mulheres. Afinal, infelizmente isso ainda não é algo tão comum no Brasil.

A pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, do IBGE, apontou que somente 37,4% dos cargos gerenciais eram ocupados por mulheres em 2019. A ONU Mulheres, por sua vez, revelou que apenas 7,4% das empresas na lista da Fortune 500, em 2020, eram dirigidas por mulheres.

Os números são brutais, não é mesmo? Por isso, falar sobre equidade de gênero deve ser uma  prioridade  dentro  das  organizações.  Precisamos entender as raízes deste contexto, quais são as dificuldades que as mulheres enfrentam e como é possível combatê-las diariamente.

Como chegamos até aqui: breve panorama da mulher no mercado de trabalho

Por muitos anos, mulheres no mercado de trabalho eram uma raridade, pois o homem era visto  como  o  único provedor do lar. Enquanto isso, elas ficavam apenas com as tarefas voltadas para a organização da casa e criação dos filhos, sem direito de trabalhar e participar de decisões importantes na sociedade.

A inserção da mulher no mercado de trabalho se deu inicialmente com a Primeira Revolução Industrial, momento em que elas passaram a ser vistas como mão de obra barata para os donos de fábricas. Já nessa época, ganhavam menos do que os homens para realizar as mesmas funções, um problema que persiste até os dias atuais.

Com o crescimento da industrialização no Brasil e o processo de urbanização, ocorreu a tendência de inclusão das mulheres no mercado ao mesmo tempo que as taxas de fecundidade foram caindo.

Enfim,  com  a  Consolidação  das  Leis  do  Trabalho (CLT), em 1943, surgiram as primeiras normas brasileiras de proteção ao trabalho da mulher e dos homens. Aos poucos, portanto, elas foram conquistando espaço no mercado de trabalho, assim como a sua inserção na política, com o direito ao voto em 1932.

Tatiana Pimenta, CEO da VittudeTatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude. (Foto: Divulgação)

Apesar dos avanços, o retrato das desigualdades de gênero permanecem

Já foram muitas as conquistas das mulheres em vários âmbitos, mas a luta ainda é longa. Segundo um relatório anual sobre a disparidade de gênero, do Fórum Econômico Mundial, o tempo necessário para reduzir essa disparidade entre homens e mulheres é de 135,6 anos.

Por isso, as empresas precisam urgentemente garantir estratégias de inclusão e equidade de gênero para reduzir as taxas de desigualdade no mercado de trabalho. Mas, para traçar estratégias eficientes, é necessário ter clareza sobre quais são os principais desafios que as mulheres ainda enfrentam:

Vieses inconscientes

As ideias preconcebidas, decorrentes de questões históricas, são os chamados vieses inconscientes que, em momentos decisivos, fazem os homens receberem preferência.

Um dos vieses inconscientes mais comuns diz respeito à ideia de que, em algum momento, as mulheres irão deixar de priorizar a carreira por conta dos cuidados com a família, tornando-se  menos  eficientes  e produtivas. Além disso, também são vistas como muito sensíveis, como se tal característica fosse uma fraqueza no dia a dia de trabalho

Insegurança e baixa autoestima

O contexto de desigualdade de gênero e vieses inconscientes gera muitas inseguranças para a mulher. Um estudo do LinkedIn revelou que, se comparadas aos homens, elas têm uma propensão 20% menor de se candidatar para uma vaga de emprego.

Dados como este, revelam que as mulheres se cobram muito mais do que os homens e, em muitos casos, não se enxergam como capazes de alcançar uma oportunidade de promoção ou emprego.

Assédio

O assédio no trabalho é um problema que muitas mulheres já enfrentaram. São situações que impactam o emocional e, em muitos casos, levam ao pedido de demissão.

Infelizmente, ainda se trata de um assunto que precisa ser discutido mais abertamente para que  elas  se  sintam  confortáveis  para sinalizar  ao  RH  quando  há  algum  problema. Impunidade, descaso e medo de exposição costumam ser as principais barreiras.

Maternidade

As mulheres que optam por, em algum momento de suas vidas, se tornarem mães, precisam lidar com os desafios de conciliar vida pessoal e profissional. Muitas empresas são pouco flexíveis em relação a isso, o que torna o dia a dia de trabalho muito mais difícil.

Os vieses inconscientes costumam entrar em cena nesse tipo de contexto e, infelizmente, há organizações que não entendem que os cuidados com a família não tornam uma profissional menos competente e responsável com as demandas do trabalho.

Qual é o papel das empresas na equidade de gênero?

O cenário só irá mudar se houver uma luta diária para que a desigualdade de gênero seja cada vez mais uma memória distante. As empresas, por sua vez, têm um papel fundamental para que mais mulheres assumam cargos de liderança e sejam respeitadas.

Algumas iniciativas que podem ser colocadas em prática são:

  • igualdade de salário para homens e mulheres que exercem as mesmas funções;
  • políticas de licença parental que apoiem mães e pais;
  • representação igual de mulheres e homens nas salas de reuniões;
  • flexibilidade de horários para equilíbrio de vida pessoal e profissional;
  • comitê de diversidade;
  • palestras e eventos sobre o tema para conscientização dos colaboradores;
  • políticas de  tolerância  zero  para  o  assédio  sexual  e  a  violência no ambiente de trabalho;
  • reestruturação de processos seletivos para eliminar vieses inconscientes;
  • suporte psicológico.

 Mais mulheres na liderança, melhores os resultados

Segundo a ONU, empresas com maior número de mulheres, principalmente em cargos de lideranças, têm melhores resultados. Além disso, algumas características das mulheres também são positivas para o desenvolvimento do time e crescimento da empresa.

A questão da sensibilidade, por exemplo, faz com que tenham mais facilidade para gerir pessoas, praticar a escuta ativa e incluir os membros da equipe nas decisões. No geral, elas buscam por um ambiente organizacional mais harmônico, colocando o time em primeiro lugar.

Além  disso,  estudos  apontam  que  são  ótimas  solucionadoras holísticas de problemas e assimilam  detalhes  com  mais  rapidez, sendo  capazes  de  organizar  as  informações  em padrões mais complexos.

É claro que todas essas características variam de uma profissional para outra, mas, no geral, não podemos negar que as mulheres são muito valiosas para o crescimento de uma organização.  Ambientes  com  equidade  de  gênero  abrem  oportunidades  para diferentes perspectivas e, assim, decisões muito mais justas.

E não podemos nos esquecer: toda vez que uma mulher alcança o seu espaço profissional e assume um cargo de liderança, ela se torna referência e inspiração para muitas outras que desejam chegar lá também.

*Tatiana Pimenta é empreendedora, palestrante e podcaster. CEO e fundadora da Vittude, host e idealizadora do podcast Terapeutizados. É especialista em saúde mental e educação emocional. Possui formações que contemplam ciência da felicidade e aplicações da psicologia  positiva  para  ambientes  de  trabalho  como  The  Science  of  Happiness,  da Berkeley University. Empreendedora premiada internacionalmente pela Cartier Women 's Initiative. É colunista dos portais Money Times, The Shift, Lide Futuro e Mundo RH, além de possuir diversos artigos publicados pelo jornal Estadão.