Artigo: Como a síndrome de burnout impacta as organizações?
O Brasil, infelizmente, é o segundo país com o maior número de pessoas afetadas pela doença. Por isso, essa inclusão é tão importante: dá visibilidade a um transtorno mental que impacta a vida de milhões de brasileiros e atrapalha o crescimento de várias empresas.
Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude. (Foto: Divulgação)
É uma grande conquista a notícia de que, em janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a síndrome de burnout na lista da 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), como um “fenômeno ocupacional”.
O Brasil, infelizmente, é o segundo país com o maior número de pessoas afetadas pela doença. Por isso, essa inclusão é tão importante: dá visibilidade a um transtorno mental que impacta a vida de milhões de brasileiros e atrapalha o crescimento de várias empresas.
Isso mesmo, não se trata de um problema apenas do colaborador, mas das organizações também. Afinal, o burnout é um fenômeno caracterizado pelo esgotamento mental provocado exclusivamente por condições de trabalho desgastantes. Ou seja: a empresa também tem um papel importante na prevenção e conscientização sobre o tema.
[H2] Qual é o impacto do burnout nas organizações?
O estado de exaustão permanente provocado pelo trabalho impacta drasticamente o bem-estar das pessoas. Existem vários tipos de sintomas que sinalizam que algo não vai bem, entre eles:
- cansaço extremo físico e mental;
- alterações de humor muito bruscas;
- insônia;
- irritabilidade;
- dor de cabeça;
- dificuldades para se concentrar;
- mudanças no apetite.
Além disso, há três elementos principais que caracterizam o burnout:
- exaustão: a sensação de que se está indo além dos limites e não há mais recursos físicos e emocionais para lidar com as situações do trabalho;
- ineficácia: o sentimento de incompetência, em que o indivíduo se enxerga como desqualificado e improdutivo;
- ceticismo: uma postura negativa diante de dificuldades e falta de interesse e preocupação com assuntos relacionados ao trabalho.
Ao mesmo tempo, os impactos para a empresa também não são pequenos, afinal, quando os colaboradores não estão bem, o trabalho que executam é afetado de forma negativa:
[H3] Queda da produtividade
Os sintomas da síndrome de burnout deixam a pessoa exausta física e emocionalmente, tornando-a menos produtiva, desmotivada e infeliz no trabalho. Tudo isso afeta o seu desempenho e resultados.
[H3] Problemas com a marca empregadora
Empresas que são conhecidas por um número muito alto de colaboradores que sofrem com esgotamento físico e mental perdem muito no quesito marca empregadora. Afinal, ninguém quer trabalhar em um ambiente assim, não é mesmo?
A síndrome de burnout afeta o recrutamento de novos talentos e afasta profissionais competentes que preferem trabalhar em um lugar mais saudável e equilibrado.
[H3] Clima organizacional ruim
É claro que o clima organizacional sofre muito nesses casos, pois o burnout é resultado de condições de trabalho desgastantes. Com isso, os funcionários se sentem mal e criam uma percepção ruim em relação à empresa.
[H3] Aumento de turnover e absenteísmo
Quando turnover e absenteísmo estão alta em uma organização, significa que algo não vai bem. Se o dia a dia de trabalho é insatisfatório e não oferece qualidade de vida, é possível que muitos profissionais comecem a faltar, pedir afastamento ou até mesmo demissão. E tudo isso afeta a balança financeira e a produtividade
[H2] O que as empresas devem fazer para lidar com esse cenário?
Todo mundo sai perdendo com o burnout. Por isso, deve existir um esforço contínuo de ambas as partes, colaboradores e empresa, para lidar com o problema da melhor forma.
Visto que se trata de uma síndrome diretamente relacionada ao trabalho, cabe à organização criar estratégias que visam desmistificar assuntos atrelados às questões de saúde mental e oferecer melhores condições de trabalho para os funcionários. Em seguida, confira alguns exemplos de ações:
Infelizmente, a falta de informação sobre a síndrome de burnout faz com que muitas pessoas que sofrem com a doença não saibam e a confundam com um cansaço comum. Dessa forma, não procuram ajuda e o quadro acaba se agravando. Por isso, é essencial munir os colaboradores com informações confiáveis e eliminar tabus sobre a saúde mental para que todos se sintam confortáveis para falar sobre o que estão passando.
Quando a empresa se posiciona sobre esses assuntos e levanta tais bandeiras, é natural que os funcionários deixem de esconder sintomas e problemas que estão enfrentando.
Uma das melhores maneiras de abordar o assunto é convidando especialistas, como psicólogos e psiquiatras, para palestrar. É preciso tratar o burnout com a seriedade que ele merece, por meio de evidências, cases e estatísticas reais.
[H3] Treinamento das lideranças
As lideranças precisam ser muito bem treinadas e orientadas também, afinal, são grandes referências dentro da empresa. Devem estar atentas em relação aos sinais de que membros do seu time não estão bem e criar uma abertura para que todos se sintam confortáveis para falar sobre os seus problemas.
É sobre ter líderes que entendem o que é o burnout, identificam quando o colaborador precisa de ajuda e apontam o caminho para a solução.
[H3] Ambientes saudáveis e equilibrados
Cultura organizacional tóxica, carga de trabalho excessiva, chefes abusivos, conflitos constantes e metas inatingíveis são apenas alguns dos fatores que podem contribuir para um quadro de burnout. Para um ambiente de trabalho se tornar saudável e equilibrado, tudo isso deve ser eliminado.
[H3] Programas de qualidade de vida
É preciso ir além das salas com escorregador e pufes coloridos. Tudo isso é muito bonito na foto, mas não agrega significativamente para a prevenção de transtornos mentais. Programas de qualidade de vida contemplam um conjunto de ações e técnicas com o objetivo de promover a satisfação e o bem-estar dos colaboradores no meio corporativo.
Isso é fundamental para prevenir casos de burnout e, entre as principais iniciativas, considere:
- psicoterapia como benefício corporativo;
- flexibilização de horários para maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
- incentivo aos cuidados com a saúde física e mental (descontos em academias, aulas de yoga e mindfulness etc);
- aulas de ginástica laboral.
[H2] Cuidar da saúde dos colaboradores é cuidar da saúde da empresa
Segundo a ISMA-BR, por volta de 30% dos profissionais brasileiros convivem com a síndrome de burnout. Ao ser classificada pela OMS como uma doença ocupacional, as empresas precisam ficar atentas ao problema, pois podem ser responsabilizadas caso não auxiliem seus colaboradores a frear o esgotamento mental.
Por mais que toda a culpa não possa ser transferida para o ambiente de trabalho e as pessoas também precisem reconhecer os seus próprios limites, não há como negar que as empresas têm certas obrigações.
Não há dúvidas de que o caminho é apenas um: cuidar da saúde mental dos colaboradores para cuidar da saúde e do crescimento da empresa, afinal, um depende do outro.
*Tatiana Pimenta é empreendedora, palestrante e podcaster. CEO e fundadora da Vittude, host e idealizadora do podcast Terapeutizados. É especialista em saúde mental e educação emocional. Possui formações que contemplam ciência da felicidade e aplicações da psicologia positiva para ambientes de trabalho como The Science of Happiness, da Berkeley University. Empreendedora premiada internacionalmente pela Cartier Women 's Initiative. É colunista dos portais Money Times, The Shift, Lide Futuro e Mundo RH, além de possuir diversos artigos publicados pelo jornal Estadão.