Artigo: Benefícios corporativos se reinventaram na pandemia

Empresas têm oferecido aos empregados auxílio-home office, acompanhamento psicológico e mais.

Alexandre Fragoso - Briganti Advogados-49[42123]2Alexandre Fragoso Silvestre é sócio da área trabalhista do escritório Briganti Advogados. (Foto: Divulgação)

O teletrabalho realmente veio para ficar? Entendemos que sim porque, principalmente, atende grande parte dos trabalhadores e dos empresários.

E isso tem provocado adequações e inovações inerentes aos benefícios corporativos oferecidos aos trabalhadores.

Nos dias atuais já vemos empresas flexibilizando a concessão do Vale Alimentação (VR), usualmente utilizado nos mercados, e o Vale Refeição (VR), usualmente utilizado nos restaurantes, para unificar o cartão de forma que o empregado utilize ambos os valores como melhor lhe aprouver. Ou, ainda, usar o valor destinado ao combustível para fazer frente ao aplicativo de transporte.

O aumento com as despesas das residências passou a ser um ponto de reflexão. Luz, internet e ergonomia são despesas frequentemente debatidas e implementadas para aqueles que estão realizando o teletrabalho. É o chamado “auxílio home office”. Neste aspecto, é importante que as empresas estabeleçam regras, políticas, procedimentos para que não ocorra o desvirtuamento do benefício, nem discriminação, por exemplo.

Quanto aos aspectos dos benefícios, temos alguns que refletem custos financeiros diretos. Mas há vários outros, e não menos relevantes, pelo contrário, extremamente importantes, os quais são voltados para a saúde mental e física dos trabalhadores. Referimo-nos, por exemplo, ao bem-estar físico e emocional dos trabalhadores.

Ultimamente vem se estudando muito intensamente o burnout, inclusive tem se notado aumento em sua incidência neste tempo de pandemia. É verdade!

O estresse está alto. Muitas pessoas não conseguem se desconectar e acabam dedicando mais tempo ao trabalho do que antes, quando estavam na empresa e tinham um horário mais bem definido para se iniciar e encerrar a jornada de trabalho. Muitos gestores não permitem que seus times se desconectem de seus smartphone ou laptops. Há uma dependência e necessidade grande de permanecer disponível. Isso está cobrando um preço.

Para diminuir este risco e colaborar com a saúde das pessoas, as empresas estão adotando medidas e implementando políticas de bem-estar que se refletem em concessão de benefício para ser utilizado em academia, ou para ser utilizado pelo trabalhador como ele preferir, empregando este recurso financeiro para custear o ingresso e/ou participação em grupos de prática esportiva que se dedicam ao ciclismo, natação, corrida, enfim, o que o trabalhador quiser, mas desde que relacionado à prática da atividade física e em grupo – o que contribui também para a socialização, a qual ficou comprometida nestes tempos de isolamento social. Empresas estão disponibilizando ginástica laboral em casa, através de plataformas como zoom, por exemplo. Ou implementaram grupos e aulas para ioga, pilates, entre outros.

Podemos citar ainda o incremento de investimento para que os empregados passassem a ter um maior acompanhamento psicológico.

Houve também empresas que auxiliaram seus empregados com o pagamento de tutores de ensino para crianças. Oras, de um momento para outro, os pais e mães se viram precisando desempenhar também as funções dos professores. Não foi fácil. E, para auxiliar na dinâmica doméstica e “equilibrar os pratos” de trabalho, ensino, tarefas do lar, as empresas decidiram fornecer ajuda financeira para que os pais pudessem ter auxiliares nas tarefas com seus filhos.

Registrou-se também um aumento significativo no número de divórcios durante a pandemia, fruto de um estresse impulsionado pelas novas rotinas impostas, o que reforça a preocupação das empresas com o bem-estar psicológico e emocional dos seus trabalhadores.

Outra tendência em benefícios corporativas foi a adoção de aplicativos que incentivam a prática de esportes, de forma que pontos são acumulados e trocados por prêmios. Outros benefícios foram adotados para aumentar o tempo das licenças paternidade e maternidade, com o objetivo de que os cônjuges pudessem se ajudar por um período maior.

Após passados cerca de dois anos de pandemia, vemos como muito provável a manutenção do teletrabalho, do regime híbrido daqui para frente. Pudemos observar como o ser humano é capaz de se adaptar às mudanças e com uma rapidez impressionante. Claro, isso não quer dizer que não percebemos efeitos colaterais, mas o ser humano enfrenta, se adapta. Vale a reflexão sobre o  livro do Yuval Noah Harari, “21 lições para o século 21”, em especial na parte em que analisa o futuro do trabalho, a mudança nas profissões, as que deixaram de existir, as que deixarão, as novas; a influência da tecnologia, da inteligência artificial, a biotecnologia,  tudo nos ajuda a entender como estamos dependentes e conectados com tecnologia e, isso, de certa forma, diminuiu o convívio entre as pessoas, o que também traz consequências e, na sua imensa maioria, não desejáveis.

Em resumo, estamos mais uma vez nos adaptando e alinhando as expectativas entre o que é necessário, possível, desejável, indispensável, para que a relação entre empregado e empregador se mantenha no maior equilíbrio possível.

* Alexandre Fragoso Silvestre é sócio da área trabalhista do escritório Briganti Advogados