ARTIGO: Agenda Estratégica para o Agronegócio

Alimento Seguro, Logística, Comércio Internacional, Segurança Jurídica, Reforma Tributária e Imagem são os temas da Agenda Estratégica do Agronegócio, e terão grande influência nos caminhos da retomada do desejado retorno do crescimento econômico do Brasil.

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Mônika Bergamaschi, presidente do LIDE Agronegócios. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Há um ano, o tema do 8º LIDE Agronegócios, realizado em Ribeirão Preto, foi “A Inserção Internacional do Agronegócio Brasileiro”.

A escolha se deu pelo fato de que o Brasil, mesmo sem contar com acordos de comércio relevantes, em virtude da falta de vontade política, teve um vigoroso crescimento nas exportações do agronegócio. No ano 2000 foram cerca de US$ 20 bilhões exportados, e em 2019 mais de US$ 102 bilhões. Os destinos também se diversificaram, e os alimentos, energia e fibras aqui produzidos já abastecem um contingente que supera 1 bilhão de almas, em mais de 200 países mundo afora. Nesse período foram ampliadas as vendas para o Leste e Sudeste Asiáticos e para o Oriente Médio, que receberam mais de 54% das exportações do agro do Brasil, predominantemente a soja em grão destinada à China. Nestes mesmos 20 anos a relação Brasil-EUA seguiu em frio banho-Maria, e com a Europa foram importantes passos para a assinatura do Acordo Mercosul União Europeia, que ainda tem um longo caminho para ratificação nos parlamentos de todos os países envolvidos, mas que foi, sem dúvidas, uma grande e boa notícia.

Naquela ocasião também foi discutida a necessidade de abertura comercial, da retomada das negociações, uma condição para que haja maior integração do agro brasileiro. Estava e está muito claro que para conquistar novos mercados, daqui pra frente, será necessário muito mais do que grandes volumes de produtos a preços competitivos. Será preciso tratar de barreiras de toda sorte, como tarifárias, não tarifárias, técnicas, burocráticas, sanitárias, sociais, legais, ambientais, etc.

Com 2019 caminhando para o fim, teve início o plantio da safra de verão, e meses depois agricultores de Norte a Sul do país colheram aquela que seria a maior safra de grãos da história, 251,7 milhões de toneladas de cereais e oleaginosas, um volume 10% maior do que a anterior, graças, principalmente ao aumento da produtividade, com incorporação de tecnologias e melhor gerenciamento agrícola. Mas em meados de março a euforia deu lugar à apreensão, com o anúncio da Pandemia do Covid-19.

No início os preços das commodities subiram em todos os países, pelo clima de incertezas, por problemas de logística, por mudança de hábitos de consumo, pela estocagem nas residências, para citar alguns. Decorrido um mês, os preços arrefeceram, pois alternativas de comercialização e logística foram sendo rapidamente encontradas, e a população percebeu que não houve problemas de abastecimento. As exportações brasileiras durante a Pandemia bateram sucessivos recordes, graças à coragem de todos os agentes de todos os elos das cadeias produtivas do agronegócio, e aos protocolos sanitários aplicados no Brasil, que possibilitaram o cumprimento dos contratos, e a garantia do fornecimento de produtos seguros.

Em todo o mundo os preços das commodities retornaram aos patamares pré Pandemia, mas não no Brasil. A forte desvalorização cambial e o auxílio emergencial concedido pelo Governo, tiveram papel importante. Outros países como os EUA e os europeus também concederam auxílios financeiros, mas em volumes menores e por menos tempo. O auxílio emergencial injetou aproximadamente R$ 50 bi na economia brasileira, por mês, de abril a agosto. De setembro a dezembro o valor do benefício foi reduzido à metade. Grosso modo, mais de R$ 340 bilhões, em 9 meses, valor 10 vezes maior do que o concedido pelo Bolsa Família anualmente. As famílias que recebiam menos de R$ 200,00/mês passaram a receber de R$ 1.200,00 a R$ 1800,00, dependendo do tipo e do número de pessoas elegíveis ao benefício. A compra de produtos básicos, como arroz, feijão, macarrão e biscoitos aumentou, mesmo com os preços em alta, assim como também as peças de vestuário, materiais de construção, eletrodomésticos, etc. Com a redução do benefício, é provável que as famílias abram mão de outros produtos, mas deverão comprar alimentos. O programa de transferência de renda nesta magnitude é insustentável, e está abrindo um fosso no déficit fiscal do país, com reflexos já sinalizados pelo mercado financeiro, pelo câmbio, inflação etc. A ideia do Governo é cessar o auxílio em janeiro, e ampliar um pouco o Bolsa Família, mas certamente haverá gritaria, ranger de dentes e muitos impactos no mercado. A conferir.

Mas voltando à produção agropecuária, como a formação de custos da safra 19/20 ficou no previsto e os custos logísticos foram menores, houve ampliação da renda líquida e, portanto, maior capitalização dos produtores agropecuários, que puderam tanto investir quanto carregar estoques para venda na entressafra.

Apesar de parecer que o caminho de sucesso do agronegócio brasileiro está traçado, em virtude do ocorrido, é pouco provável que o filme se repita no ano que vem. O futuro indica que seguiremos com bons preços pagos aos agricultores, que possivelmente virão pelo aumento dos preços das commodities, em dólar, em decorrência da retomada do crescimento, pós Pandemia. A China já sinaliza essa retomada. No entanto, mesmo tendo sido um dos setores menos afetados pela crise mundial do Coronavírus, recuperar todos os efeitos gerados não será tarefa simples.

Se a safra de grãos 2020/2021 vier com produtividade normal, poderemos atingir novo recorde de produção e de renda, mas tudo sempre dependeu e seguirá dependendo do clima. Este tem sido um ano extremamente seco, que tem facilitado a propagação de incêndios no Brasil e em diversos outros países, e se assim persistir, pode haver também um atraso no plantio da safra. As culturas perenes e semi-perenes também estão sofrendo com o estresse hídrico. Portanto, ainda é muito cedo para qualquer estimativa.

Para o futuro, precisamos de medidas e reformas estruturantes. Precisaremos avançar nos Acordos Internacionais de Comércio, na melhoria da percepção sobre o agronegócio, garantir segurança jurídica, e atentar para as perdas de competitividade advindas do excesso de burocracias, que podem estar embutidas, por exemplo, na Reforma Tributária que se avizinha. Ninguém é contra a reforma tributária, desde que haja simplificação e não aumento da carga, já absurda. Tanto PEC 45/2019, quanto a PEC 110/2019, e a proposta encaminhada pelo Governo ao Congresso aumentam, em muito a tributação incidente sobre os produtos do setor. Parte disso, fatalmente, será transferida para os preços, aumentando ainda mais os gastos com alimentos, vestuário, combustíveis etc. Como nem tudo pode ser repassado ao consumidor, é fácil inferir que muitos produtores terão suas atividades inviabilizadas, notadamente os médios e pequenos, que poderão ser alijados do processo produtivo.

Além disso, é preciso combater energicamente o desmatamento ilegal, seja praticado por uma minoria, seja por madeireiros, grileiros e mineradores que mancham a imagem do agronegócio sustentável, desenvolvido pela esmagadora maioria dos produtores rurais. Cabe ao Governo fiscalizar, e aplicar a Lei!

Alimento Seguro, Logística, Comércio Internacional, Segurança Jurídica, Reforma Tributária e Imagem são os temas da Agenda Estratégica do Agronegócio, e terão grande influência nos caminhos da retomada do desejado retorno do crescimento econômico do Brasil.