ARTIGO: A saúde em seu habitat natural

Ecossistemas permitem otimizar recursos, acabar com ineficiências e proporcionar melhores experiência e cuidado ao paciente.

Por Claudio Lottenberg*

Um ecossistema é um conjunto de recursos e serviços composto pelos participantes de uma cadeia de valor (clientes, fornecedores e plataforma e provedores de serviços). Fato é que por meio de um modelo comercial e de dados comum (habilitado por captura, gerenciamento e troca de informações de forma contínua) pode-se criar um consumidor aprimorado a partir das experiências das partes interessadas, a fim de resolver ineficiências.

Os ecossistemas criam forças que podem remodelar as indústrias. Eles surgiram em todos os setores porque, entre outras coisas: abordam ineficiências da indústria, otimizando o uso de ativos e recursos ou eliminando atritos na experiência do consumidor; os efeitos de rede oferecem um terreno favorável; criam mais valor para fornecedores; e transformam os dados que geram em conhecimento – e a lista não é exaustiva.

Na área da saúde, eles têm potencial de oferecer uma experiência personalizada e integrada aos consumidores, aumentar a produtividade do provedor, envolver cuidadores formais e informais e melhorar os resultados e acessibilidade – neste ponto específico, as ineficiências já levam inclusive a desafios, com impactos em resultados e na qualidade, além de proporcionarem uma experiência ruim ao consumidor.

Altas taxas de investimento em tecnologia de saúde vêm sendo alcançadas: de 2014 a 2018, houve mais de 580 negócios de tecnologia de saúde nos EUA, cada um com mais de US $ 10 milhões, chegando a um total de mais de US$ 83 bilhões em valor - eles têm se concentrado (desproporcionalmente) em três categorias: envolvimento do paciente; dados e análises; e novos modelos de atendimento.

Os gigantes da tecnologia estão travando uma batalha de investimento em P&D em suas plataformas para criar serviços para uma variedade de clientes e para uma variedade de aplicações que acelerem a inovação – análise preditiva, por exemplo. Além disso, parcerias ou aquisições, seja entre fornecedores de farmácias ou sistemas de saúde e empresas de tecnologia, refletem maior integração – bem como evidenciam preocupações quanto à privacidade do paciente. Operadores de saúde e novos participantes têm uma grande oportunidade de aproveitar essa inovação para ganhar espaço no mercado e, ao mesmo tempo, melhorar o custo e a qualidade dos serviços de saúde.

Os ecossistemas de saúde do futuro, como outros ecossistemas, estarão centrados no consumidor – neste caso, o paciente. As capacidades e serviços que formam os ecossistemas de saúde do futuro incluirão, por exemplo: modalidades de atendimento tradicional com atendimento direto; medicamentos administrados por prestadores, em locais tradicionais; ações a domicílio e autocuidado com envolvimento do paciente; autocuidado e atendimento virtual; monitoramento remoto e atendimento tradicional (que cada vez mais pode ser prestado até mesmo em casa); assistência social com redes sociais e comunitárias, com ações relacionadas à saúde holística do paciente – focadas em necessidades sociais não atendidas; atividades voltadas a ações e hábitos diários do paciente que promovam bem-estar e saúde, incluindo fitness e nutrição.

A meu ver, uma abordagem que integre o sistema dentro da perspectiva de criação de ecossistemas trará uma ação direta em cima justamente do que compromete a qualidade e a eficiência: a fragmentação. O ideal, além desta visão holística, será o dia em que passarmos a ser remunerados para cuidar, e não tratar, das pessoas – tratamentos que são, diga-se, um grande estímulo ao desperdício, que pode representar até 33% dos gastos em saúde.

f9cc2147-10fb-4709-b25c-f773f929b42c *Claudio Lottenberg é presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.