Pedro Guimarães: Caixa é gerida com métodos matemáticos, sem influência política

Em meio à digitalização dos serviços, o presidente do banco Caixa revelou as estratégias em torno da entrega de mais de 200 agências físicas e falou sobre os investimentos recentes.

Pedro Guimarães/Agência Brasil
Presidente do banco Caixa, Pedro Guimarães comentou sobre as inovações no modelo de gestão. (Foto: Agência Brasil)

No cargo desde janeiro de 2019, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, fala sobre o bom momento vivido pela instituição. Mudanças na equipe e investimento em tecnologia da informação foram apontados pelo gestor como dois conduítes para fazer com que as reestruturações se tornassem reais. Atualmente, os clientes se deparam com vários serviços à disposição, entre eles, atendimento para empresários do setor do agronegócio.

O presidente da instituição é enfático ao dizer que possui autonomia na tomada de decisões e que colabora para que o banco seja cada vez melhor para todos os brasileiros, e um dos homens de confiança do atual presidente. Para ele, o banco precisa se prestar a fazer o papel social. Esse conceito surgiu após visitas a lugares considerados remotos, como regiões do Amapá, algo que, segundo ele, ajudou-lhe a desenhar transformações significativas para modelo de gestão do banco que desempenha. "A melhor coisa que fiz, foi ter saído da comodidade deste andar onde estou, aqui em Brasília, e ter ido conhecer outras realidades". 

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A Caixa ampliou o espectro de empréstimos e, ao mesmo tempo, tem conseguido gerar lucros em cima disso, o que aconteceu para alcançar resultados expressivos?

 Isso acontece porque passamos a fazer escolhas matemáticas, ou seja, nós só realizamos empréstimos que atendam a critérios com garantias de retorno financeiro para o banco. É algo focado na transparência, algo presente nesta gestão. Nas iniciativas, trocamos os 105 dos 120 executivos que atuavam na companhia. As melhorias são evidente quando olhamos para os Fundo dos Trabalhadores (FGTS) e o Fundo de Investimento do Fundo dos Trabalhadores (FI-FGTS), todos esses tinham ressalvas nos seus balanços quando assumimos. Ou seja, os auditores foram categóricos ao dizerem que a instituição, da maneira em que estava, era ineficiente. Isso é emblemático, porque são dois fundos estavam com ressalva desde 2011, sem ressalva apenas em 2010. 

Quando você assumiu o banco não tinha balanço auditado?

Desde 2016, o balanço da Caixa estava com ressalvas e logo no segundo trimestre de minha gestão, elas foram removidas, pois realizamos provisionamentos, que não foram feitos anteriormente em empréstimos para empresas que, obviamente, não teriam condições de pagar e, provavelmente, entrariam em recuperação judicial. Nesta gestão fizemos tais provisões. Assinamos o balanço em 31/12/2018, algo que é normalmente finalizado dentro de 45 a 60 dias, demorou 90 dias para analisarmos minunciosamente e fecharmos nosso relatório. Quando assumi o cargo, no dia 2 de janeiro de 2019, sabendo que as provisões das administrações anteriores estavam erradas, foi necessário produzir um levantamento diferente. Ou seja, a partir do momento em que começamos a trabalhar para corrigir essa falha, as coisas começaram a ter resultados. E, Sonia, todos os provisionamentos se mostraram corretos e as empresas entraram em recuperam judicial e conseguiram fôlego para continuar.

Toda existência da Caixa tem o funding do FGTS rende um juro muito pequeno para o trabalhador, vocês pensam em fazer uma manutenção nesse pacote de serviço?

A Caixa não tem gerência sobre o FGTS. Isso cabe ao conselho curador do fundo, que em diretorias passadas fazia parte, e agora foi retirada por conflito de interesses. Somos gestores, mas não formulamos as políticas relacionadas a esse investimento e muito menos as remunerações da própria instituição. Antes, a Caixa recolhia 1%, já em 2019 esse índice diminuiu para 0,50% e, em 2020, caiu para 0,47%. Exemplificando, se nós fossemos aplicar esta taxa de remuneração de 0,47%, em todos os anos anteriores, teríamos prejuízos  entre 30 e 50% do lucro. Hoje, essa remuneração será 10% do resultado total. Explicando mais a fundo, a empresa dependia do recolhimento desse percentual para elevar receita. Antigamente, havia maneiras de o banco receber receitas que acabavam sendo compensadas por créditos para empresas, em especial as grandes, e que não nos pagavam. Atualmente, após mudanças no nosso modelo de negócios, esse tipo de dependência não ocorre mais.

Pedro, a Caixa sempre foi acusada de ser gerida por questões políticas, agora vemos que isso não acontece, poderia explicar por quê?

Durante minha conversa com o presidente Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, fui bem claro: a Caixa será gerida com métodos matemáticos, sem influência política ou qualquer outra desse tipo. E garanto que esse é o retorno que estou tendo na minha administração. Mas julgo que o mais importante é mostrar que houve garantias da alta cúpula do Executivo que o banco seria gerido de maneira técnica. A partir daí, nas primeiras semanas da minha liderança, realizamos as trocas de pessoal.

As equipes de colaboradores da instituição são compostas por pessoas vinculadas ao banco, que não vêm de fora, está correta essa informação?

Funciona da seguinte maneira, Sonia, nós só podemos trazer pessoas de fora para cargos de vice-presidente. Para as baixas hierarquias isso não é possível. O que nós vimos nesses dois anos e meio, após as manutenções, é que temos a mesma qualidade dos outros bancos privados. Os executivos que trabalham conosco, mostram-nos resultados positivos. Nas posições de vice-presidência, mesclamos com 50% de colaboradores não vinculados e 50% eram de dentro da Caixa. Em especial, foram integrados colaboradores com conhecimento mais técnico, onde não tínhamos a expertise, como, por exemplo, na área de T.I. Também trouxemos pessoal para a área de banco de atacado que no passado  geraram graves problemas, resultando em prisões depois de denúncias. Tudo que eu estou falando são investigações do Ministério Público que levaram executivos à prisão e estão nas notas de balanço, são informações públicas. Mas a impressão que tenho é que as pessoas se esqueceram desses esquemas de corrupção e dos empréstimos que deixaram de ser pagos, o que gerariam rombos financeiros. E quando a Caixa é penalizada, o Brasil também é.

Falando sobre reformulações, retiramos patrocínios para os clubes de futebol. Agora, festas ou quais eventos que tenham envolvimento de ações sociais de estados municípios, esses sim serão levados para análise, a fim de saber se há ou não uma relação da nossa instituição com a prefeitura. É preciso haver uma reciprocidade tanto social, quanto financeira, porque as coisas ficam claras. Outro movimento nosso consiste na abertura de agências. Estamos abrindo 268 unidades pelo país, sendo 100 delas voltadas para o segmento agro, porque pelos próximos 50 anos, você tem um setor da economia brasileira com vantagem comparativa no mundo é agronegócio.

Por que a Caixa não tinha presença forte no setor do agronegócio?  Seria por que o Banco do Brasil já fazia esse tipo de atendimento especializado?

Matematicamente falando, faz zero sentido o maior banco do Hemisfério Sul não ter cross-selling básico com clientes que nós já nos relacionamos, concordo. Porque nós representamos 70% no volume de vendas do crédito imobiliário. Vários desses clientes têm correlação com o setor agro, ou seja, os próprios donos das fazendas ou pessoas que trabalham no segmento estão no nosso radar. O que aconteceu para justificar a nossa presença marcante no agrobusiness, é que há mais ou menos 10 anos, a Caixa tinha uma fragilidade, quando ocorreu o chamado instrumento híbrido de capital e dívida. Isso ficou no passado, porque atualmente a instituição tem solidez no lucro e receita. Por isso quando você faz uma gestão, digamos, baseada na ‘matemática’, você consegue desenvolver e somar com outras áreas. A consequência desse movimento, é que recentemente nós estamos entrando no agro. Temos à disposição depósitos que estão os títulos públicos, tendo total capacidade para alcançarmos nossos objetivos. Nós queremos a liderança do agronegócio em até três anos e é para isso nós estamos trabalhando.

E sobre o slogan ‘Banco da Matética’, fiquei curiosa e quero saber mais a respeito disso com à transformação dos negócios da empresa.

É importante frisar que a Caixa é o banco da Matemática, da Inclusão, segmentos complementares no nosso slogan. E reforço que a instituição está de portas abertas para todos os brasileiros, não só para alguns, tampouco é voltada para as grandes empresas – principalmente àquelas que descumpriram com seu compromisso com nosso serviço de crédito. Mas voltando ao que você perguntou, o básico é que assumimos os balanços do banco, do FGTS e do fundo de investimento desse fundo, todos com ressalva, isso há quase 10 anos. Foram mudanças apegadas aos conhecimentos técnicos. Fizemos ações muito positivas a ponto de notarmos diferenças no quesito qualidade de serviços e melhora no fluxo de operações, quando comparamos com às administrações passadas. Quem disse isso são os auditores, que nos deram feedback necessário.

O Banco do Brasil passou a funcionar de maneira mais técnica quando decidiu abrir o capital financeiro, a Caixa também tem essa pretensão?

Nós estamos abrindo capital. Recentemente abrimos a Caixa Seguridade que foi um sucesso. E estamos avançando fortemente, mas temos que ter as autorizações internas para viabilizar maior abertura. Isso permite que a sociedade brasileira entenda melhor o que está acontecendo nas nossas operações e reduza, na minha opinião, o potencial político ruim da Caixa. Nós não temos autorização para abertura de capital banco. E nem dá tempo, o foco agora é na abertura da Caixa Assset e da Elo que está debaixo da Caixa Cartões, duas operações que nós nos debruçamos para obter resultados já nos próximos meses.

Quais mudanças ocorreram na sua vida após assumir a presidência do banco?

Quando fui nomeado para o cargo, pessoas tinham vários preceitos sobre mim, por exemplo, que meu propósito consistia em privatizar o banco ou que eu não duraria um mês no cargo. Dei de ombros. Cheguei à liderança para realmente ajudar a fazer inovações. Me prontifiquei a checar relatórios e notei que a Caixa havia perdido milhões com empréstimos malfeitos, colecionando páginas policiais do que nas páginas econômicas e sociais, o que mudou.

Outra mudança foi na atitude, porque passamos a viajar pelo Brasil por lugares pouco explorados. Foi o caso das viagens aos estados de Roraima, Amapá, Acre. Graças a essas expedições, pude olhar um Brasil muito diferente do que a gente está acostumado. Sou carioca, e conheço a Rocinha que tem uma condição de vulnerabilidade social conhecida e preocupante. Já atuei com projetos por lá no voltar, como várias campanhas de doação de sangue e voltadas para a educação. A mudança começa pelo fato de eu ter passado a dar menos valor às financeiras e estar atento às questões sociais. E para mim isso é algo que ampliou muito com o auxílio emergencial.

Vimos que o banco inteiro focado em ajudar a população, abrimos cedo e aos sábados. Mais de perto, observamos a necessidade de pessoas que não conseguem nem utilizar um terminal bancário, e esse foi o motivo para que nós seguíssemos abrindo novas agências físicas, apesar de temos o aplicativo para o banco digital. É um recurso prático, mas que não é de serventia para clientes que utilizam barcos para se locomoverem, pois vivem em regiões remotas no interior da floresta Amazônia, por exemplo, onde o sinal não funciona tão bem. A melhor coisa que fiz, foi ter saído da comodidade deste andar onde estou, aqui em Brasília, e ter ido conhecer outras realidades.

E como foi possível proporcionar mudanças, quando estamos falando de uma empresa que pode ter pessoas envolvidas e com uma visão mais conservadora?

Você acha que os empregados se orgulhavam da Caixa patrocinar 22 clubes de futebol de 12 estados? Não tinha nenhum clube de regiões como do Amapá e Roraima, em compensação, havia equipes do Rio de Janeiro. O Flamengo não precisa do nosso patrocínio. Tanto que quando foi rescindido, coincidiu com o melhor ano do time, desde a era Zico. Hoje, mudamos nossa visão. Os funcionários demonstra um orgulho enorme por patrocinamos manutenção das florestas, as orquestras compostas por crianças - muitas vezes vítimas da violência  - isso é o mais importante para nós,  em vez de financiar duas ou três empresas consolidadas em R$ 30 bilhões de reais. Nós usamos esse dinheiro para financiar 500 mil Micro e Pequenas Empresas (pelo Pronamp) com microcréditos. Esses conjuntos de ações o banco inteiro vem junto. Porque a essência do nosso funcionário é social. E continuamos abrindo as agências, a partir das 8 horas da manhã. E um ponto importante: percorremos às agências, para conhecer como funciona suas estruturas e para incentivar a união entre os colabores, que confiaram nessa mudança, em vista que tivemos 40 mil deles como compradores das ações da Caixa Seguridade.

Qual o tipo de blindagem que você está fazendo na troca de liderança? Na questão de planos futuros, você tem pretensão de se lançar na política?

A maior blindagem que podemos fazer é abertura de capital das subsidiárias. Mas com preocupação na transparência, Sonia, pose entrar um gestor que repetirá as ações das governanças passadas, isso será ruim. A segunda maior blindagem é mostrar o relatório sobre os anos anteriores. Por isso que no próximo trimestre vamos fazer comparações detalhadas com o timbre do auditor. Chegou o momento de mostrarmos o porquê das nossas ações.

Como por exemplo, por que estão quando os funcionários enquanto os bancos privados estão demitindo?

Exatamente, trabalhamos atrelados à transparência, afinal qual é único banco que paga o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, ou basicamente empresta no’ Minha Casa Minha Vida’ (Casa Verde Amarela)? Somos nós. E são operações que precisam ter presença do cliente pessoalmente. A visão estratégica é aplicada à realidade, já que, em regiões distantes das áreas urbanizadas, dificilmente os bancos digitais operarão por lá. Sâo lugares onde vivem pessoas humildes que precisam viajar vários quilômetros para serem atendidas na agência bancária ou em uma lotérica. Muitas vezes, o cliente não possui carro, mas vai a cavalo até as nossas unidades – já testemunhei isso. Na verdade, Sonia, presenciei condições diversas. Lembro-me que ouvi críticas porque estava visitando cerca de 40 lixões, porque não tinha noção de como alguém vivia ali. É diferente do lixão da novela, na realidade, de noite o cheiro de chorume sobe e inunda tudo. Há pessoas dormindo em condições precárias. 

E é preciso expandir o acesso ao saneamento básico, num país como o nosso, 70% das residências ainda não usufruem disso.

A Caixa pode ajudar nesse ponto, fazendo projetos e promovendo financiamentos para ampliar o saneamento. E podemos contribuir na oferta de microcrédito. Neste caso, a finalidade é incentivar a comprar de máquinas que poderão auxiliar os catadores a venderem suas mercadorias, nós temos parcerias com prefeituras para abrir editais e realizem, em especial empresas privadas, para eliminar o lixão e transformá-lo em aterros sanitários.

Não há intuito de sua parte de entrar na política, mas qual é sua meta de vida diante das experiências vividas?

O meu foco está concentrado na Caixa Econômica Federal, Sonia. Tenho outros planos futuros sim, depois que eu deixar a liderança. Penso que as experiências que vivi podem contribuir para que a sociedade. Tive o privilégio de conhecer um Brasil distante do que as pessoas geralmente imaginam. E vem mais emoção por aí. No radar serão 160 finais de semana viajando o país, com objetivo de auxiliar a população. Futuramente, poderei ter algum papel de decisão, talvez como Pedro, e não como presidente da Caixa. Mas as metas também dependem dos planos do presidente Jair Bolsonaro, quem tenho total apoio e o admiro,  alguém que prezo pela lealdade. Isso muito antes de conhecê-lo pessoalmente, pois entendia na época o intuito dele em mudar o país. Deixando o amanhã de lado e projetando o agora, meu foco é a Caixa Econômica por tudo aquilo que ela representa, porque a instituição é o braço social. É o maior banco do Brasil, é o maior também na oferta de benefícios e de crédito imobiliário. Nesse rol de serviços, há muitas melhorias e planos para serem desenvolvidos e estou com pensamento voltado nesse sentido.