Nicola Cotugno: 'A digitalização da medição de energia permite construir tarifas para cada necessidade do cliente'
Nicola Cotugno, Country Manager da Enel Brasil, fala sobre o cenário do setor de energia nacional e as possibilidades para torná-lo mais limpo e benefício ao cliente comum.
Nicola Cotugno, hoje Country Manager da Enel Brasil. (Foto: Divulgação)
Nicola Cotugno, hoje Country Manager da Enel Brasil, tem uma história longa na companhia que iniciou ainda na década de 1990. Desde então, já passou por uma série de cargos em diferentes países da Europa, até chegar ao Brasil em 2018.
Essa vasta experiência em energia foi conversada no programa Show Business com a jornalista Sônia Racy. Ele explicou sobre o cenário do setor no país, as possibilidades de matriz limpa, sem deixar de lado a pauta do mercado livre que é uma das mais discutidas quando se fala em comercialização de energia.
Como é o cenário brasileiro de energia?
O Brasil é um país que tem uma matriz de geração muito limpa, sendo 85% da energia produzida por fontes renováveis, ou seja, água, sol, vento e biomassa. Destas fontes, mais ou menos 65% têm como provedora a água, mas que tem dois desafios: cumprir com a variabilidade do aporte hídrico- em 2021, por exemplo, tivemos uma crise hídrica forte que impactou a geração de energia do Brasil. Segundo ponto é pensar que é um país com crescimento demográfico e econômico, portanto, vai consumir mais. No entanto, é imprescindível reforçar as oportunidades encontradas aqui, com sol e vento e territórios que podem colocar usinas. Além da geração de energia, levaremos, com esses projetos, crescimento, renda, dignidade e desenvolvimento para as comunidades próximas.
É muito difícil fazer essa transformação sem investir em termoelétricas?
Acho que a transição é possível, mas uma crítica que se faz às energias renováveis é que se tem uma volatilidade no aporte. Isso ocorre quando temos só uma usina renovável, mas quando temos, e já temos, milhares delas em diferentes pontos do país, esse risco vai se balanceando. Já estamos vendo também a entrada de tecnologias que complementam e que rendem mais forte um conjunto enérgico, como as baterias, que permitem acumular energia e gerenciar nos momentos que temos menos geração renovável. Outra medida é a resposta da demanda, que pode reduzir. Por isso é uma certeza que é possível ter como solução essa alternativa mais limpa e mais barata para o país.
Como vocês estão nesta questão, ainda existe investimento em térmica?
A estratégia pilar do grupo no mundo é acompanhar a descarbonização e eletrificação. Temos metas de sair da energia em carvão em 2027 e sair da produção com gás em 2040, portanto, dez anos antes da meta global para chegar a uma situação de zero emissões. Tudo isso permeia profundamente nosso plano de desenvolvimento em cada país. No Brasil, estamos adiantados, saímos de uma produção térmica que tínhamos em Fortaleza, tendo um portfólio totalmente renovável. Somado a isso, estamos com projetos de grande crescimento de energia solar e eólica. Ano passado entregamos mais de mil MW de nova geração- isso significa alimentar uma cidade média. Mas a ideia é aumentar o aporte desta energia renovável, lembrando que somos líderes no segmento eólico e solar. Temos também no Brasil a usina solar e eólica maior da América Latina. Portanto, aqui é possível fazer essa transição rápida, barata e limpa.
O que a Enel espera nos próximos anos para o Brasil?
O país tem um Marco Regulatório muito forte que nos acompanhou no período da Covid-19. Agora, o que temos que pensar é na liberação do mercado e avançar todos os usos da energia. Por isso, um passo importante é reduzir mais o nível de consumo para tornar mais consumidores elegíveis no mercado livre, que hoje ainda é focado nos grandes. Para isso, é preciso definir quem pode vender a esses residentes e famílias e dividir a distribuição da comercialização. Sem esquecer do principal, que é ter um sistema de garantia para que o cliente seja atendido de forma certa. E para implementar esse fluxo, não falta conhecimento no mercado.
Quais benefícios o cliente comum terá com o livre mercado?
O poder de escolha é algo muito importante, permitindo optar pelo seu provedor. Nesta direção, o desenvolvimento da digitalização e modernização da infraestrutura de distribuição será fundamental. Outro ponto é a digitalização da medição de energia, com isso, podemos construir tarifas para cada necessidade e entregar um serviço com economia. Por isso, acredito que seja um mercado que tenha que se desenvolver rapidamente.
Na pandemia, o consumo foi diferente? A Enel já se recuperou?
Foi um período de grande desafio, o consumo caiu muito pela falta de produção das indústrias e, apesar de o residencial ter subido, em razão da presença nas casas da família, tivemos um resultado negativo. A crise impactou a economia e as pessoas ficaram em situação de inadimplência- que aumentou em dois dígitos ou mais dependendo da área. O que em 2019 girava em torno de 3% a 5%, chegou a 15%. Mas ficamos ao lado dos clientes apresentando possibilidades de renegociação, e hoje, posso afirmar que voltamos a situação de antes da pandemia.
Esse momento desafiador nos fez entender a importância da conexão e proximidade com o cliente e a relevância de evoluir na forma digital- um desafio cultural do país e nosso também. Essa transformação está entre nossas prioridades, pois o relacionamento com o cliente é a base do nosso negócio.