Daniel Castanho, da Ânima Educação: se não evoluirmos nas habilidades humanas, seremos substituídos por robôs

Em entrevista para Sonia Racy, empresário e presidente do Conselho de Administração do Grupo propõe uma revolução no setor educacional brasileiro, que segundo ele, não começou a ter problemas apenas por causa da pandemia.

Daniel Castanho/DivulgaçãoDaniel Castanho, presidente do Conselho da Ânima. (Foto: Divulgação)

Há quase duas décadas, a Ânima Educação se lançou no mercado com a proposta de tornar-se uma das maiores organizações educacionais do Brasil. O objetivo era ser revelante em meio a um acirrado setor. Atualmente, a empresa dispõe de mais de 25 instituições, presentes em 12 estados.

Um dos desafios do grupo é de ajudar a criar novos valores para a educação. Essa meta inspira o presidente do Conselho da Ânima, Daniel Castanho, grande defensor do sonho de uma educação humanista, com garantias de qualidade, conhecimento e igualdade para formar brasileiros e futuros empreendedores. 

Como a pandemia tem afetado a transformação do setor educacional?

A pandemia antecipou a percepção de que várias mudanças eram necessárias, inclusive no setor educacional. Dessa observação, esperamos que as mudanças sejam feitas daqui para frente. Até aqui, existe chances de mudarmos pelo menos o termo ‘ensino à distância’, que deverá deixar de existir no futuro, porque passaremos a viver a era do ensino ‘permeável’, fluído, integrado e indissociável. Historicamente falando, o modelo de escola foi desenhado na época da revolução industrial, quando o propósito era migrar as pessoas do campo para a indústria, oferecendo o mesmo ensino para todos. Mas, tem algo muito ruim na padronização, pois o aluno acaba recebendo informações sobre coisas que não têm sentido para a vida ou carreira que escolheu. E, indo mais além na análise, a escola está estruturada para que você faça uma prova e decore conteúdo. Nós sabemos bem disso, sou um exemplo de que aprendi um monte de coisa que não me lembro ou não uso no meu dia a dia.

Salvo exceções no aspecto científico, porque é preciso aprender coisas novas, pois o cérebro se desenvolve com um conjunto heterogêneo de informações. Quem vai fazer medicina, por exemplo, precisa aprender física para trabalhar o raciocínio lógico. A área de exatas, nesse caso, se faz necessária para uma maneira holística. Por outro lado, ficou enraizado que o ensino é sinônimo de se decorar conteúdo. A consequência disso é o indivíduo que vai trabalhar para ganhar dinheiro e não para ser um empreendedor – digo isso no contexto estratégico, ensiná-lo a ser um agente resolvedor de problemas. E o que precisa ser colocado lado a lado é: dar significado ao aluno, fazendo-o entender por que ele está aprendendo determinada coisa. Mostrando, na prática, o exemplo do uso da regra de três numa receita de bolo. Decerto que isso fará mais sentido para este estudante daqui a alguns anos.

 Você avalia que o método de ensino e mantém o mesmo há quanto tempo?

Desde sempre. Justificando, não há incentivo para aumentar a qualidade da presença do aluno, além da física indo ‘de corpo e alma’. Por exemplo, estou aqui com você neste instante, e estou com pensamento focado no que está sendo dito, olhando olho no olho. E essa presença ‘integral’ é muito importante no ambiente escolar e traz benefícios. ‘O segredo da felicidade é você estar onde você estar’, já diz esse ditado indiano. A poetisa e professora Adélia Prado diz: Não quero faca eu quero fome. São dizeres que, para mim, refletem no convite ao aluno ter mais engajamento e desejo de aprender. O fato é que se aprende por curiosidade [conhecer algum tema] ou necessidade [de fazer receitas].  No entanto, a realidade é que a escola atualmente está estruturada no sistema de ‘ensino decoração’, isso precisa de uma mudança significativa a partir do sistema desse ensino ‘fechado’, com conteúdo igual para todos, em que o aprendizado não é personalizado. Depois, vem aquilo que falamos sobre o foco estar no que foi ensinado e não no que o aluno aprendeu.

Penso que nós precisamos migrar o sistema de ensino para ecossistemas de aprendizado, centrando justamente no que o aluno não aprendeu. O raciocínio é, a prova [a ser decorada] tem gabarito - entende-se que existe um ‘algoritmo’ de respostas - podendo isso ser substituído por um robô. Refletindo mais além, nós estamos preparando nossos jovens para que eles sejam substituídos por inteligências artificiais, que, consequentemente reduzirão cada vez mais o espaço de mão de obra humanizada no mercado de trabalho.

Em relação à substituição dos humanos por robôs, faz algum sentido e é algo bem discutido...

Sim, Sonia. O pensamento é que a tecnologia vai demover as oportunidades de emprego. Mas, se tem algo que pode combater essa ‘concorrência’ – humanos vs. Máquinas – será a melhora no desenvolvimento de outras áreas, àquelas que pedem por mais criatividade, visão de mercado, solidariedade, curiosidade, porque são elementos que têm que estar presentes no ambiente escolar e serão compreendidos como diferencial no futuro do trabalho, por meio de ações humanas. Estamos no momento ideal para voltar esse assunto para o setor educacional, pois este passa por uma disrupção muito grande, onde disciplinas como artes são desmoralizadas, sendo que são imprescindíveis para o crescimento individual e corroboram com aquilo que eu disse sobre o futuro da educação. O fato é que existe a necessidade de exercitar a resiliência e ampliar a sensibilidade. Assim, você entende o futuro da escola, que prevejo será a junção do coading [tecnologia] decoding [meditação, entender as coisas com mais profundidade]. Ambos serão a base do futuro da educação no país.

Falando sobre conhecimentos técnicos, você acredita que eles estão sendo levados menos em conta no ambiente de trabalho atualmente? Que tipo de comportamento há por trás disso?

No campo educação podemos afirmar que a escola é mais homogênea, diferentemente do que vemos por aí nas redes sociais, ambiente onde os algoritmos são desenhados para mostrar o que você pensa – muito baseado no conceito do e-commerce. As redes nos mostram todo mundo que seguimos ou curtimos. E, no final das contas, existe uma polarização do pensamento, afinal, a tendência é imaginar que todo mundo pensa da mesma forma que você. Nisso, as pessoas estão cada vez mais contra a opinião do outro, há dificuldade de refletir ou criticar genuinamente sobre determinado assunto

Então você acha que a atitude de valorizar mais o comportamento é reflexo das redes sociais?

Sem dúvida é esse o contexto para sua resposta. E o papel da escola serve para ampliar a diversidade. As instituições precisam promover isso, preparando-nos para a pluralidade de pensamentos, para não ficarmos condicionados a uma bolha. A exemplo do que ocorre em escolas presentes em regiões da Califórnia, Israel, Crípton, lugares onde se valorizam a criatividade e oferecem ambientes educacionais mais fluídos e saudáveis às diferenças. Porque estamos entrando no mundo do pós-emprego, a tendência é as pessoas não trabalharem mais com o mesmo time, nos mesmos moldes, as coisas vão evoluindo. Aqui na Ânima, não temos mais a área de tecnologia, pois a tecnologia faz parte do que somos num todo. Nós somos dois mil colaboradores, de vários times, composto de pessoas diferentes. A nossa fórmula é a seguinte, nosso funcionário trabalhará por um projeto daqui para frente, mas não vai parar de estudar – sempre haverá a possibilidade dessa pessoa se atualizar – falando do conceito de life long learning, uma estrutura cujas universidades geralmente esquecem de aplicar. O intuito é desenvolver e incentivar que nossos funcionários trabalhem com essa fórmula pensando como se fosse num exercício de preparo e desenvolvimento para a vida.

Para você, os governos mantém uma postura ‘reativa’ na definição do que é importante para currículos escolares? E falando sobre diferenças, quando esses governos se tornarão proativos para fundamentar o discurso ligado à diversidade, na sua visão?

Em situações de risco, como quando existe um trauma coletivo – igual esta pandemia está causando, a tendência é sairmos com olhares e pensamentos diferentes, após passarmos por mudanças que foram impostas. Aproveito para lembrar do que dizia Millôr Fernandes: “o Brasil tem um enorme passado pela frente”. Isso reflete que precisamos fazer uma revolução neste país, levando-o para o futuro, a partir do momento em que compreendemos a importância da educação nessa finalidade. A tecnologia pode ser usada na metodologia, vide os moldes da educação síncrona, pergunta e resposta ou assíncrona, referente ao conteúdo que está gravado.

Mas o aluno poderá interferir numa aula gravada?

Não vai, porém, em compensação, nesse modo você desperta a curiosidade e incentiva a dinâmica de preparo para aquela aula, igual quando vamos para uma reunião de trabalho, podendo ter um resultado incrível no final. O aluno assiste e vai preparado para tirar dúvidas.

Dividindo com metade das aulas com o professor ensinado e, por outro lado, dando espaço para perguntas é isso?

Exatamente, mas com mais tempo para interação. O professor pode ter mais tempo para juntar a turma. Atualmente, é possível passar filmes e fazer perguntas sobre um filme, por exemplo. Imagina que mágico vislumbrar o professor perguntando: ‘agora por esta plataforma entrarão pessoas de outras nações, que são filhos de pessoas que vivenciaram a segunda guerra mundial’, já pensou o quão enriquecedor essa interação será para nossa educação?  Existe a possibilidade até o recurso do powerpoint [slideshow] ser substituído...

Power point dará sentido ao ‘People Point’, seria nesse sentido?

 Isso mesmo, Sonia. Até funcionaria como metodologia para análise de dados, no intuito de saber o que funciona. Agora, a grande revolução é quando passaremos a usar a tecnologia para criar comunidade de aprendizado. Meus filhos estudam com grupos da classe, que ótimo, então eu pergunto: por que não incluir alunos de outras regiões do país, fazendo parecerias com outras escolas, a exemplo que eu dei com o caso da Segunda Guerra? A grande revolução será quando metade desses alunos participantes nas aulas on-line forem de instituições públicas e privadas.

E quando você prevê que essa ‘revolução’ ocorrerá?

 Quando criarem nano ecossistemas, pegando as escolas privadas e públicas, criando parceria. Nesse contexto, os alunos do ensino médio poderão fazer interação com alunos do ensino fundamental. Consequentemente, isso trará estudantes mais preparados para a universidade, com alunos mais motivados e também ampliará as relações interpessoais entre os estudantes. Você criará um ambiente com entendimento de mundo e gerações diferentes. Além de desenvolver uma visão social responsável, serão alunos que passarão as habilidades que têm mais conhecimento. Exemplo, teremos formandos em engenharia que darão suporte e dicas em áreas como matemática; saúde, teremos aqueles abordando sobre conteúdo de biologia; em direito haverá conhecedores em história e por aí vai...

A revolução começa pelo próprio ser humano e, para aplicar esse preceito na prática, é preciso ter responsabilidade, não ter um professor para ter domínio, você concorda com esse ponto de vista?

 Para ser mais direto, se a pessoa não trabalhar com empoderamento, confiança ou accountability, a tendência é ela ser extinta do mercado. Tem uma grande semelhança entre o chefe que manda em todo mundo e o professor, que acha que sabe de tudo e isso são duas coisas ruins.

É aí onde eu quero chegar...

As características e habilidades consideradas positivas no ambiente escolar e em um escritório também podem ser parecidas. Há líderes que incentivam, provocam debates – da mesma forma em que há professores com esse perfil, no modo como ensinam. Temos que pensar que velhos paradigmas no método de ensino, na escola e o jeito que ela está estruturada atualmente, são coisas do passado. Ou as pessoas passam a crer que isso não dá mais, incluindo necessidades de mudança no espaço físico ou estagnaremos.

Será que essa pandemia vai mudar o ser humano a ponto de este assumir as responsabilidades sobre si mesmo? As pessoas parecem estar mais ansiosas por não perderem o controle e sem certas perspectivas.

Quais são os grandes ensinamentos dessa pandemia?, – indago. Talvez exista a necessidade de nos conectarmos com nós mesmos, fazendo um exercício de meditação. Sem apego ao controle e entrar mais no ‘flow’, ficar integrado à essência. Usamos máscaras, certo?  Isso significa que temos que olhar nos olhos uns dos outros. Nesse ponto, é preciso respirar fundo e entrar em contato com você mesmo e ‘enxergar’ a alma do outro. Para mim, analogia de privar certas áreas, amplia nossa capacidade de observar melhor, enxergando como as outras pessoas são e de olhar para si, são duas lições que esta pandemia nos traz. Um trecho do lindo texto ‘O Quase’, escrito por Luís Fernando Veríssimo remete que: ‘quem quase morreu ainda vive, quem quase vive já morreu’, o que acontece com as empresas pode ser baseado nesse pensamento.

No Brasil, faz tempo que estamos atrasados. Qual perspectiva que você pode oferecer sobre um futuro melhor para a nossa audiência?

 Primeiro temos que pensar que educação para um país não pode ser prioridade, e sim premissa. É o alicerce e projeto estruturante para prospectar um futuro e repensar uma nação. O aprendizado é também um intervalo entre o nascer e o morrer.

Quem perde a curiosidade por aprender pode ser considerado um morto, como você frisou...

 Exatamente. O que é viver? Viver é aprender e viver é sonhar. Trabalhamos com o que há demais nobre no ser humano que é a capacidade de sonhar. De maneira pragmática, a escola tem que ser personalizada, fazendo o aluno desenvolver qual o real propósito no futuro. Nesse tema, sou muito apegado à palavra japonesa ‘Ikigai’, que significa ‘razão de ser’, uma confluência entre o que você faz bem, com o que ama fazer, passando pelo que o mundo precisa e o que o paga para que você faça. Todo jovem precisa descobrir o seu ‘ikigai’. Depois vem o autoconhecimento que pode contribuir positivamente nisso e interferir na capacidade de escolhas. É preciso mostrar que errar também é um ponto importante e deve ser entendido como desafio. Os pais e escolas não podem ser punitivos diante dos erros, pois isso traz aspectos negativos. Existe fracasso bem-sucedido para o aprendizado e evolução do ser humano.

Como esses conceitos que você comentou são aplicados pela Ânima?     

Não temos mais as disciplinas como matemática 1 contabilidade 1..., por exemplo.  Hoje, temos ‘This is Plan’ para dar significado ao aprendizado e há espaço para interatividade. Parte dos professores estão na instituição e nas empresas. Porque é algo simbiótico e indissociável. Não desenvolvemos conteúdo, mas competências. Nossa educação é híbrida – primeiro os alunos ampliam o repertório para depois ter um repertório agradável. O aluno aprende ativamente, colocando a mão na massa, com laboratório, espaçomaker e atividades em grupo. Nas salas de aula em alguns módulos, independentemente da área escolhida, o estudante terá disciplinas para aplicar o pensamento crítico e ética, com base a oferecer criatividade. Além da integração com alunos de outras faculdades para ampliar a diversidade na área do saber. Muitas opções para se redesenhar a universidade e assim definir um percurso para o estudante, que sempre estará incentivado a aprender.

O Ministério da Educação reconhece os cursos de acordo com o currículo nesses moldes?   

Sim. O Ministério da Educação propõe requisitos, que são cumpridos. Há flexibilidade de escolha, exemplo, aquela pessoa que deseja aprender contabilidade porque tem interesse em trabalhar com um hotel ou por preferir o mercado financeiro. Cada pessoa aprenderá essa disciplina dentro do parâmetro da área preterida. Isso é possível fazer na universidade ou na escola, seguindo o conteúdo da ABNCC. Mas ainda é um desafio.

Qual melhor termo define o método educacional da Ânima?

É um ecossistema de aprendizagem. Sou um dos sócios da escola Lumiar que é tão revolucionária quanto, assim como na Castanheiras... são exemplos possíveis de serem implantados em instituições como escolas e universidades.

Poderia especificar como funciona esse ecossistema?

Somos curadoria. O que oferecemos tem que ser tão importante para o dia de hoje, mas antecipando o futuro. ‘O que será que um engenheiro precisará daqui a cinco anos?’ ‘Que tipo de médico deverá ser formado aqui a seis anos?’ – são os questionamentos que nos movem. A nossa preocupação é antecipar tendências de mercado junto à área pretendida para ter um leque de possibilidades e nosso papel está nessa curadoria. Em seguida, vem a mentoria, no ajudar a fazer as escolhas nesse percurso formativo. A terceira coisa é avaliação, enquanto um assessment, para que o estudante avalie e reflita sobre onde será preciso evoluir, pensando nisso como se fosse um avanço de fase, com a missão de chegar a 100% – igual ocorre em um game. Com inúmeras chances de cumprir etapas repensando estrategicamente em cada processo para se conseguir chegar até o final.

Como trabalhar a reflexão ou ampliar a percepção do indivíduo, passando pelos propósitos na sua visão?   

Não ‘aumentamos’ a consciência, pois acreditamos que o futuro da escola e da universidade está baseada no coading – tudo que envolve tecnologia. Para mim, é aquilo que engloba possibilidades de se produzir algo mais barato e de forma mais ágil. E como a tecnologia pode nos ajudar numa eventual revolução? Não será melhorando um processo obsoleto decerto. É preciso mirar o olhar para o futuro, pensando na escola como quebra de uma estrutura de dogmas antigos. Tem ainda o *descoding que significa a relação com a natureza e outras pessoas, fazendo o educando entender qual é o papel dele na sociedade, uma forma de trabalhar o autoconhecimento em favor da evolução pessoal, para aprender, fazer a diferença e deixar um legado no mundo. O pensamento é: muito mais importante de quem você é, é o que você deixa. Se todos tiverem essa consciência, será incrível e uma escola onde não terá chamada, sem prova, ninguém receberá uma escola no final, mas todos participam e são presentes com o desejo de aprender. O que perdemos muito neste momento é porque tentamos replicar as salas de aula nas videoconferências e isso não foi possível. Então, tenho uma sugestão: esquece mais quinze dias do conteúdo. Os professores têm que sentar com todo mundo e questionar: quais foram os aprendizados com essa pandemia? O que cada um se tornou? Como vamos transformar este ambiente?  O que você aprendeu? O que você fez ou deixou de fazer? Trago essas indagações como formas importantes de refletirmos sobre o que não abriremos mão e saberemos quais serão os legados desta pandemia. O objetivo é reconstruir as escolas, que passam pela ampliação das pessoas.

Para quem está há décadas longe da escola, existe algum projeto para resgatar essas pessoas?

Parto do princípio de que não existe ex-aluno. Na verdade, não é necessariamente quem está fora da escola. É preciso manter a postura de aluno, de mestre e aprendiz o resto da vida. Sempre com o pensamento voltado ao treinamento. Fui CEO 15 anos, hoje, sou presidente do conselho – sempre com status: ‘em treinamento’. Por que é necessário ter sede de aprender, a vida tem que ser pautada pela curiosidade e capacidade de sonhar... Quem não sonha já morreu. É isso. Quem sonha, prospecta algo maior que aquilo que é possível de se realizar num determinado momento, diante de um delay [intervalo entre ação e vontade] entre o que você deseja e o que consegue realmente fazer. E quando não houver esse delay é porque a pessoa morreu. Ou quando houver um delay gigante, é porque a pessoa  se fechou no utópico, paralisou. É preciso haver um equilíbrio entre desejos e conseguir fazer. Sempre pergunto: você faria o que faz de graça? Senão, mude o que está fazendo. A segunda coisa: quando foi a última vez que você fez alguma coisa pela primeira vez? Se houver um intervalo de muito tempo, será necessário repensar sua vida. Caso você faria de graça e sempre se propõe a fazer algo novo, então significa que as escolhas da sua vida estão valendo a pena.

Última provação: olhamos com certo mal-estar entendendo que nossos avós e bisavós conviviam de maneira harmônica com a escravidão, e isso é algo impensável hoje em dia. Acho que nossos tataranetos terão o mesmo sentimento em relação a nós e entenderão que nós convivíamos de maneira harmônica com dois tipos de escola. Para as futuras gerações, uma dessas escolas será para nossos filhos, enquanto a outra unidade servirá para àqueles que trabalham na nossa casa. Então, faz-se necessário despertar a sociedade. Não podemos nos limitar a ter somente dois tipos de escola. É preciso entender que educação é premissa, não prioridade. Entendendo que não é aceitável ter instituições com duas qualidades: uma que oferece muitas oportunidades e outra que, teoricamente, é melhor. Chegamos ao ponto de não podermos ficar indiferentes a essas nuances.