Falta equidade de gênero no caminho até liderança feminina
Empresas precisam estruturar as oportunidades para mulheres em todos os níveis, declarou Claudia Massei, CEO da Siemens de Omã, durante webinar promovido pelo LIDE Mulher com apoio do WAHI, comitê feminino da Câmara Árabe.
Claudia Massei, CEO da Siemens de Omã, durante webinar “Lideranças femininas e retomada dos negócios”. (Foto: Reprodução)
O caminho para mulheres evoluírem na carreira tem como percalços a falta de representatividade e de oportunidade, principalmente em cargos de gerenciamento médio. Foi o que apontou a brasileira Claudia Massei (foto acima), CEO da Siemens de Omã, durante webinar “Lideranças femininas e retomada dos negócios”. O evento ocorreu nesta terça-feira (30) no final da tarde, com promoção do LIDE Mulher e apoio do WAHI, comitê feminino da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
O encontro virtual fez parte da agenda do LIDE Mulher Talks, que convida mulheres líderes em negócios para debater diferentes temas. Participaram do evento Nadir Moreno, presidente do LIDE Mulher e da empresa de entregas UPS Brasil, Celia Pompeia, vice-presidente executiva do Grupo Doria e vice-presidente do LIDE Mulher, e Geovana Quadros, membro do Comitê do LIDE Mulher. Além de Massei, também palestraram no evento a presidente do WAHI e diretora comercial da H2R Pesquisas Avançadas, Alessandra Frisso, e Patricia Molino, sócia e responsável pela área de Cultura e Gestão de Mudanças na KPMG Brasil.
Para Massei, mesmo em empresas onde há cotas para ter mulheres nos conselhos diretores, ainda resta uma lacuna entre o início e o topo na carreira delas. “Acho que isso ajuda, entretanto nesses casos, o que acontece é que você tem mulheres lá em cima, e muitas mulheres na base. Mas na gerência de médio nível você tem um ‘gap’. Acho que deveria ter cota na escada inteira. Mas ter mulheres no conselho já ajuda. Ela ali consegue ajudar a quebrar preconceitos e vieses que já existem”, pontuou a executiva.
Frisso também vê a falta de oportunidade como um empecilho para o crescimento profissional de mulheres. “Para as mulheres, a lacuna entre o nível operacional e depois gerencial e depois o topo da liderança, é uma pirâmide difícil de subir, está quase na vertical”, disse.
Com experiência profissional em outros países, como a Alemanha, Massei vive hoje no Golfo e vê ainda muito espaço para ser conquistado por mulheres na região. “É difícil falar sobre liderança feminina quando você não tem tantos exemplos, mas os poucos exemplos que temos aqui são de mulheres simplesmente admiráveis. Você percebe que para as mulheres aqui serem bem-sucedidas elas têm que fazer um esforço a mais que os homens, acho que isso é uma realidade no mundo inteiro”, frisou a brasileira que também é Young Global Leader do World Economic Forum e Linkedin Top Voice 2020.
Patricia Molino, que também palestrou no evento, destacou que a dificuldade nessa escalada até a liderança passa pelo acúmulo do chamado trabalho não remunerado, que engloba atividades como os cuidados e a educação dos filhos e os trabalhos domésticos. “Temos uma indicação da ONU de que as mulheres fazem 75% de todo trabalho não remunerado, de cuidado. Acho que a pandemia trouxe uma disrupção porque fala sobre risco. As pessoas que cuidam ficam na linha de frente. E quando esse trabalho aumenta, ele fundamentalmente recai sobre as mulheres. Também sabemos que nas épocas de crise os direitos das minorias são ameaçados. Há uma quantidade de mulheres que simplesmente pediu demissão porque não tinha condições de executar esse trabalho sem um apoio. É a chamada ‘shecession’, a recessão feminina”, disse.
A solução pode estar nas ações concretas das próprias companhias. “Há empresas em que você tem que ter 50% de gerenciamento de mulheres nas áreas operacionais”, afirmou Nadir Moreno. De acordo com a executivo, isso está relacionado com a afinidade da liderança feminina em tomar decisões em determinadas áreas. “É muito importante que as empresas se engajem colocando metas e [decidindo] que tipo de programa pode acelerar essa meta [de equidade de gênero]”, afirmou no evento.
Para Celia Pompeia, ter no evento mulheres que atuam nos países árabes, como ocorreu no LIDE Mulher Talks desta terça-feira, enriquece o debate. “É importante para nós porque começa uma longa parceria”, afirmou ela sobre o apoio do comitê feminino da Câmara Árabe. “Somente unindo forças nós conseguimos uma sociedade melhor”, concluiu Geovana Quadros.