"A diversidade trabalha os assuntos mais urgentes da sociedade", defende Amanda Ferreira, da Via

Grandes empresas encabeçam iniciativas pela inclusão LGBTQIA+ e contra legislação preconceituosa.

Nas últimas semanas, importantes marcas se juntaram para repudiar o Projeto de Lei 504/20, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que visa proibir a presença de pessoas LGBTQIA+ ou famílias homoafetivas em publicidade voltada para crianças. O movimento #PropagandaPelaDiversidade foi aderido por empresas de inúmeros segmentos, como Mastecard, Alpargatas, Ambev, Bayer, Coca-Cola, Mondelez, TIM, Unilever, 99, entre outras.

De acordo com a autora do PL, a deputada estadual Marta Costa (PSD), tais propagandas trariam “desconforto emocional a inúmeras famílias” e mostram “práticas danosas que influenciam na formação dos jovens”. Em comunicado oficial, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) afirmou que a proposta é inconstitucional por “impor discriminação à liberdade de expressão comercial e ao direito de orientação sexual”, além de ser uma tentativa de “censura de conteúdo, abrindo um precedente perigosíssimo para a liberdade de expressão e aos direitos de minorias”.

Em nota, a Alesp garantiu ser uma organização a favor de promover o respeito aos direitos LGBTQIA+ na comunicação e marketing, fortalecendo a construção de um ambiente empresarial socialmente responsável, ético, moderno e corresponsável por um mundo mais sustentável.

juliana-azevedo-pg-carreira-maternidade-empresaJuliana Azevedo, presidente da P&G Brasil. (Foto: Divulgação)

Atuação

Muito antes da repercussão do projeto, diversas empresas passaram a implementar políticas de gênero, ampliando o leque de ações internas e externas.

“A maioria das pessoas LGBTQIA+ ainda se sentem tolhidas nos seus ambientes de trabalho ou até mesmo com acesso restrito a determinados espaços considerados corporativos. Promover a empregabilidade é uma das nossas razões de existência. Entendemos que o acesso à renda por meios variados, não apenas o emprego, exige compromisso com o enfrentamento da LGBTIA+fobia, além de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural da sociedade”, diz Reinaldo Bulgarelli, secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.

Recentemente, a P&G lançou o movimento #PrideSkill para valorizar ainda mais a diversidade no mundo corporativo e celebrar o orgulho LGBTI+. A ação foi criada em parceria com a agência Grey Brasil e apoiada pelo Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. Uma das iniciativas é encorajar os candidatos a incluírem “Pride” como uma competência em seu perfil profissional no LinkedIn, facilitando a busca dos recrutadores, além de dar visibilidade aos membros da comunidade e gerar uma onda de postagens e compartilhamentos.

“Não vamos descansar até conseguirmos fazer uma diferença real na vida das pessoas. Seguiremos nossa trajetória intencional em busca de um mundo em que todos possam prosperar independente de orientação sexual, identidade de gênero, etnia, cultura e outros aspectos que nos tornam únicos”, diz Juliana Azevedo, presidente da P&G Brasil.

A Whirlpool, detentora das marcas Brastemp, Consul e Kitchenaid, também reforçou seu comprometimento com ações relacionadas com suas iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG). Sob o tema “Inclusão e Diversidade”, a empresa tem avançado no balanço entre homens e mulheres nos recrutamentos de novos talentos. No Brasil, 40% dos Trainees aprovados se autodeclararam negros, 20% autodeclararam LGBTQIA+ e 60% mulheres.

“Nossa responsabilidade vai além das atividades do nosso negócio. Sendo assim, como responsável pelas marcas presentes na maioria dos lares brasileiros, buscamos meios cada vez melhores para contribuir com nossos colaboradores, consumidores e comunidades em que estamos inseridos”, disse João Carlos Brega, Presidente da Whirlpool Latin America.

a89João Carlos Brega, Presidente da Whirlpool Latin America. (Foto: Divulgação)

Orgulho

No ano passado, a Havaianas lançou sua primeira coleção Pride, reafirmando o seu compromisso e respeito com a comunidade LGBTQIA+. A ação foi feita em parceria com a ONG All Out, a qual a marca destina 7% do lucro líquido das vendas da linha – chegando a R$ 260 mil arrecadados.

Agora, a marca celebra esse orgulho em ações que serão desenvolvidas o ano inteiro, incluindo a ampliação do portfólio em produtos, como sandálias, acessórios e vestuários.

“Queremos reforçar cada vez mais que o nosso compromisso com a comunidade LGBTQIA+ não acontece em só um momento do ano, ele é contínuo. Temos que sentir orgulho de quem somos o ano todo. Desde o nosso primeiro lançamento, reforçamos que gostaríamos de colaborar com a luta da comunidade de modo efetivo", afirma Fernanda Romano, CMO de Alpargatas.

Na linha de frente

A varejista brasileira Via deu um novo passo em sua área de governança e anunciou a contratação de Amanda Ferreira como Embaixadora de Diversidade da marca. Para este ano, a executiva prevê a expansão dos Grupos de Afinidade com foco em gênero, raça, PCDs e LGBTQIA+, além de iniciativas destinadas em apoio aos diferentes públicos que a empresa trabalha diariamente.

Com passagem pela Natura Cosméticos e atuação em projetos como a Feira Preta, Amanda faz parte da Comissão de Mulheres do Carnaval de Rua, no eixo de violência e proteção do público feminino, além de ser membro da Coalizão Negra de São Paulo. A luta pela dignidade e de vida dos direitos humanos a fez enxergar que sua missão está alinhada aos propósitos da Via Varejo.

"A diversidade trabalha os assuntos mais urgentes da sociedade. Dessa forma, estamos contribuindo com as pessoas, independentemente da circunstância. Ser a primeira Embaixadora de Diversidade da Via reflete o empenho da companhia em se tornar cada mais inclusiva", destaca.

embaixadora de Diversidade da Via Varejo, Amanda FerreiraAmanda Ferreira, Embaixadora de Diversidade da Via. (Foto: Divulgação)

Representatividade real

Na visão do CEO e cofundador da MField, agência especializada em estratégias de ativação de influenciadores e conteúdo nas redes sociais, a proibição da publicidade com pessoas ou famílias LGBTQIA+ deve ser repudiada constantemente. “Como estrategistas de campanhas temos a missão de estender a voz dessa comunidade durante todo o ano, não somente no mês de junho que potencializa o uso de muitos personagens ligados à causa por ser o mês do orgulho. A audiência consegue filtrar anunciantes oportunistas. Existe uma corresponsabilidade das marcas de inclusão. O desafio é se atentar para campanhas que não estejam só interessadas em ampliar o raio de consumo, mas sim, evidenciar e normalizar a causa”, pondera.