Com o avanço da tecnologia e a futura chegada do 5G ao país, as rodovias inteligentes passam a ser uma realidade

Para tornar possível uma rodovia digital, é preciso investir em ampla infraestrutura tecnológica, que comporta equipamentos de detecção automática de eventos, circuitos de câmeras, painéis eletrônicos, sensores de pistas e até drones.

Fernando Frazão/Agência BrasilÉ preciso investir em ampla infraestrutura tecnológica. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Funcionando como uma grande rede digital, as rodovias inteligentes têm monitoramento contínuo de informações, que são enviadas em tempo real a um centro de controle operacional. A partir desses dados é possível aprimorar a comunicação com o usuário, melhorando a mobilidade e a segurança, não só das pessoas que trafegam pelas vias como das cargas. Os principais objetivos com esse monitoramento são aperfeiçoar a gestão de tráfego nas vias, diminuindo congestionamentos e emissões de poluentes, reduzir gastos com a manutenção das estradas e a minimizar acidentes fatais.

Para tornar possível uma rodovia digital, é preciso investir em ampla infraestrutura tecnológica, que comporta equipamentos de detecção automática de eventos, circuitos de câmeras, painéis eletrônicos, sensores de pistas e até drones. Em um estágio mais avançado, tais rodovias utilizaram a inteligência artificial para monitorar automóveis autônomos, asfalto com alto poder de drenagem e outras inovações tecnológicas, como grandes placas solares no piso para gerar energia elétrica.

“Para os usuários, viajar em rodovias monitoradas, tanto por operadores humanos quanto por inteligência artificial, assegura rápida reação em casos de emergências ou necessidades de atendimento, além de oferecer informações frequentes antes, durante e após a realização da viagem”, explica José Carlos Cassaniga, diretor executivo da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).

Na pista certa

No Brasil, as concessionárias investem regulamente em programas de modernização das rodovias, o que inclui a ampliação e renovação de tecnologias de monitoramentos. Algumas em operação já são baseadas no conceito de inteligência, como a Rodovia dos Imigrantes, administrada pelo Grupo EcoRodovias e a Nova Dutra, concessionária do Grupo CCR.

Alinhado com as mudanças do mercado, o Grupo CCR desenvolveu um sistema capaz de reconhecer veículos a partir de câmeras de monitoramento ao analisar suas características por meio da inteligência artificial, que permite identificar os carros em diferentes pontos do trecho.

“Esse mecanismo, que ainda está em fase experimental, aumenta a segurança nas rodovias. A companhia também está utilizando as câmeras de inteligência artificial que são capazes de detectar anomalias na operação da rodovia, alertando o Centro de Controle de Operação, favorecendo uma resposta mais rápida em caso de acidentes ou de bloqueios no fluxo de veículos”, explica Marcio Iha, Chief Global Business Services Officer do Grupo CCR.

O Rodoanel, também administrado pela CCR, conta hoje com 100% de imagens digitalizadas para a verificação remota de equipamentos, dispositivos ou sinalizações danificadas nos trechos, o que aumenta a eficiência e a agilidade nos processos de inspeção. Com essa tecnologia ainda é possível realizar uma logística para as obras de engenharia com maior precisão. Ao todo, a base de dados da CCR armazena informações para monitoramento de mais de dois mil viadutos e pontes nas rodovias concedidas ao grupo.

Integração

Do mesmo modo, buscando estar afinado com os sistemas inteligentes de transporte, o Grupo EcoRodovias lançou seu projeto Concessionária 4.0, desenvolvido para que a curto e médio prazos todos seus sistemas conversem entre si e estejam hospedados na nuvem. Com isso, a empresa acredita que terá mais flexibilidade para operar as rodovias concessionadas, antevendo incidentes e estando cada vez mais conectada com seus usuários por meio da tecnologia.

Parte do projeto foi uma parceria inédita com a fabricante de carros sueca Volvo para conectar os veículos da marca às rodovias controladas pela EcoRodovias. Por meio de dispositivo do computador de bordo, o motorista pode entrar em contato com a central de atendimento do Volvo on Call, serviço de segurança e conveniência da montadora, que, por sua vez, replica automaticamente para o sistema do centro de controle da concessionária informações como localização, dados de contato do condutor, do veículo e o tipo de incidente na pista. Essa comunicação de dados agiliza a ação das equipes. O dispositivo também funciona de maneira autônoma quando o airbag do veículo é acionado. Nesse caso, o próprio veículo envia dados para o centro de controle e a concessionária consegue prestar socorro sem que haja um chamado de voz.

“Estamos fazendo o uso da tecnologia para aumentar a segurança e diminuir o tempo de atendimento do usuário nas rodovias. Em alguns trechos, como o de Serra da Anchieta-Imigrantes, apenas os recursos de apoio da EcoRodovias podem acessar a rodovia. Então, quando nosso sistema acusa um incidente lá, o usuário é atendido mais rápido. Por isso, queremos levar a tecnologia para outras montadoras”, comenta Denis Henrique, coordenador de Sistemas da EcoRodovias Concessões e Serviços.

Com o futuro batendo à porta cada vez mais rápido, resta imaginar como serão as modernas rodovias brasileiras daqui a vinte anos. Para o diretor executivo da ABCR, as rodovias nacionais sofrerão um impacto tecnológico importante com a chegada da tecnologia 5G, com isso se espera maior conectividade, com interações mais precisas e mais rápidas com os usuários. “As rodovias também serão mais sustentáveis, inclusive com maior presença de fontes geradoras de energia para as instalações de pontos de apoio, sejam elas solar, cinética, ou outras, e fontes de energia para os veículos. Ainda há a tendência das estradas se transformarem em espaços para a correta convivência com veículos autônomos. Novas soluções de materiais para a infraestrutura, para a segurança viária e novas tecnologias de monitoramento do tráfego farão parte deste cenário”, finaliza José Carlos Cassaniga.

Pedágios inteligentes

Outra tendência das rodovias inteligentes é a cobrança das tarifas por quilômetro rodado pela tecnologia free-flow ou sistema de passagem livre. A diferença está no fato de que todos os usuários que trafeguem pela via concedida terão de pagar pela tarifa e não apenas aqueles que passem por uma praça de pedágio. A cobrança da tarifa se dá por identificação automática do usuário.

“Isso implica uma mudança bastante significativa. Dados atuais da concessão da Rodovia Presidente Dutra, por exemplo, revelam que apenas cerca de 10% dos veículos pagam pedágio, por percorrerem o trajeto mais longo. Esse número revela o impacto no universo de usuários pagantes que a adoção do sistema free-flow acarretaria. Outras modificações, já implantadas nas concessões mais recentes, são o custo menor da tarifa para usuários frequentes e o menor preço em horários com demanda mais baixa, de modo a incentivar a maior distribuição do tráfego”, explica a advogada Aline Lícia Klein, sócia do Porto Lauand Advogados.

Para que o sistema seja implementado no país ainda falta a aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei nº 886/2021, de relatoria do deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ). O projeto já foi aprovado em março pelo Senado Federal.

Mas a advogada alerta que além da previsão legislativa do sistema de livre passagem em si, é necessária a regulação dos seus riscos, em especial o de inadimplência. Isso significa definir como será garantido ao concessionário o efetivo recebimento dos valores das tarifas. “O PL prevê que o montante arrecadado por meio de multas aplicadas por evasão de pedágio será utilizado para a recomposição das perdas das concessionárias. Além disso, será necessário endereçar a questão dos veículos que trafegarem sem a utilização de tags, impedindo o encaminhamento da cobrança”, afirma Aline Klein.