Fusões e aquisições em tecnologia crescem 87% em um ano, aponta relatório
O número de transações cresceu 87% entre janeiro e julho de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Número de transações cresceu 87% entre janeiro e julho de 2021. (Foto: Agência Brasil)
As fusões e aquisições (M&A) de empresas e ativos no setor de tecnologia estão em pleno vapor. O número de transações cresceu 87% entre janeiro e julho de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado, no Brasil, segundo relatório divulgado pela consultoria Transactional Track Record (TTR).
“Com o advento da pandemia da COVID-19 as plataformas de streaming, provedores de software na nuvem, jogos eletrônicos e demais plataformas tecnológicas de comunicação acabaram se tornando as melhores ferramentas para manutenção, de forma remota, das atividades profissionais e do entretenimento da nossa sociedade”, diz o sócio do escritório VDV Advogados, Daniel de Paiva Gomes, que atua nas áreas de economia digital e criptoativos.
Segundo o advogado Rodrigo Loureiro, sócio e head do Desk França do Briganti Advogados, quatro em cada dez empresas com atividades de M&A afirmam adquirir principalmente empresas de tecnologia ou ativos digitais. “E entre as empresas mais ativas, que realizaram cinco ou mais transações nos últimos dois anos, mais da metade das transações foi relacionada à aquisição de tecnologias de recursos digitais”, explica Loureiro.
“Em geral, há ainda bastante disponibilidade de recursos para investimentos, apetite a riscos e o setor de tecnologia continua em evidência. Importante dar atenção ao movimento de alta nas taxas de juros e a possíveis instabilidades políticas e econômicas, mas ainda parece haver bom potencial para crescimento das operações envolvendo negócios no setor de tecnologia”, destaca o advogado Emerson Drigo da Silva, sócio-fundador do VDV Advogados.
Venture capital
Os fundos de venture capital, voltados a investimentos em empresas de médio porte e grande potencial de crescimento, têm performado com notoriedade no cenário de M&A em tecnologia. O relatório da TTR aponta que eles já investiram R$ 30,6 bilhões até julho de 2021 no mercado transacional brasileiro.
“Os fundos aparentam ter maior concentração de recursos e cada vez mais exigências para transações. De fato, o ambiente brasileiro tem correspondido a expectativa, com organização, eficiência e mudanças legislativas que auxiliam esse tipo de transação”, analisa Leonardo Briganti, sócio-fundador e head do Desk Espanha do Briganti Advogados.
Disputas após o M&A no setor de tecnologia
As características das transações de venture capital e private equity, como as que acontecem no setor de tecnologia, são propícias para disputas posteriores. Essa é a percepção do advogado Ivo Bari, sócio do BVZ Advogados e especialista em resolução de disputas empresariais.
“Muitas delas não são feitas com pagamento e precificação unicamente no closing (fechamento da transação). Diversas vezes existe um componente não desprezível do preço de aquisição que fica para um earn-out (compensação sobre lucros futuros) dos fundadores. Esses earn-outs muitas vezes se tornam controvertidos, como condução dos negócios durante o período de apuração do earn-out, cálculos financeiros na hora de apurar, etc.”, explica Bari.
Ainda segundo o advogado especialista no contencioso societário e de M&A, essas não costumam ser transações para aquisição de 100% da empresa, levando o fundo a se tornar sócio do fundador. “Nessa dinâmica relacional podem ser gerados inúmeros conflitos, especialmente pois é uma dinâmica nova, com fundadores não necessariamente acostumados a conduzirem seus negócios tendo que administrar a existência de um sócio”, analisa o sócio do BVZ Advogados.
Características do M&A em tecnologia
Há setores com peculiaridades para a hora de negociar e fechar uma transação de M&A. No caso de tecnologia, não é diferente. “A começar pela linguagem dos players desse setor e pela maior celeridade e dinâmica das operações. Estamos falando de um setor em constante transformação e com inovações que surgem em ritmo acelerado, o que culmina inclusive em sucessivas reorganizações societárias. Além disso, muitas vezes se trata de atividades pouco ou nada reguladas, o que demanda um exercício de adequação dessas atividades à legislação e regulação já existentes, de forma a garantir maior segurança às transações”, explica Emerson Drigo da Silva, do VDV Advogados.
“Para uma empresa, uma estratégia de M&A só terá verdadeiro sucesso se esta conseguir aplicar as tecnologias digitais aos seus próprios processos, conferindo-lhe assim uma vantagem competitiva na definição e condução do seu programa de aquisições, tanto digital como tradicional”, explica Rodrigo Loureiro, do Briganti Advogados.
Alta em criptoativos e tokens
“Uma análise holística da evolução econômica desde março do ano passado demonstra que, para além do aquecimento de temas relacionados a tecnologias já conhecidas do público mainstream, tais como software, streaming, plataformas de reuniões remotas, testemunhamos também uma alta histórica relacionada ao mercado de criptoativos e tokenização, o que tende a aumentar ainda mais com a entrada de investidores institucionais”, diz o advogado Daniel de Paiva Gomes, do VDV Advogados.