Fórum Econômico Mundial lança paper de métricas e relatórios para ESG; saiba mais sobre a tendência
A comunicação com o mercado e demais públicos estratégicos é um ponto-chave na estruturação do programa ESG.
Adriana Dantas: vivemos em uma nova era onde valores éticos devem ser assegurados. (Foto: Divulgação)
A sigla não é nova no meio empresarial, mas ganhou larga notoriedade durante a pandemia de covid-19. Os conceitos Ambientais, Sociais e de Governança (ASG, em português, e ESG, em inglês) tomaram o debate público devido à importância que investidores internacionais passaram a destacar como critérios de tomada de decisão, deixando em alerta empresas que ainda precisam adequar-se à tendência.
Para amenizar o desafio das empresas em criar formas tangíveis de mensurar desempenho ESG e reportá-las para seus públicos estratégicos, o Fórum Econômico Mundial lançou a publicação ‘Measuring Stakeholder Capitalism’, com orientações sobre métricas referentes ao planeta, às pessoas, aos princípios de governança e à prosperidade.
“A elaboração de métricas é um ponto sensível ao ESG. Existirá uma enorme dificuldade do mercado na análise dessas informações, uma vez que não existem padrões definidos de métricas para o ESG. Nem mesmo o seu conceito e abrangência são uma unanimidade. A sigla tem diferentes significados para os stakeholders e isto por si só já é um problema. Some-se a isso diferentes regimes regulatórios ao redor do mundo, que dificultarão a obtenção de informação consistente, comparável e que possa ser verificada/auditada de forma adequada. Além disso, não há definição clara e objetiva se o ESG deverá ser utilizado com avaliação de risco ou avaliação de desempenho ou ambos”, explica o sócio e CEO da LCC Auditores e Consultores, Marcello Lopes. Para o especialista, as empresas deverão adotar procedimentos e análises ESG com o melhor propósito possível e correspondente à cultura empresarial em que estão inseridas, e integrar toda a informação disponível no mercado. “A informação deverá ser transparente, adequada, confiável e comparável”, explica.
De acordo com a advogada Adriana Dantas, especialista em compliance e comércio internacional, sócia-fundadora do escritório homônimo e membro do Comitê de Integridade da Petrobrás, “vivemos em uma nova era onde ética, sustentabilidade e governança devem ser valores assegurados por qualquer negócio. Trata-se de uma exigência do mercado, dos investidores e consumidores que, juntamente com as autoridades, certificarão sua observância. É um movimento, na minha visão, sem volta”.
Como implementar um programa ESG?
Nesse novo cenário, o desafio, ainda segundo Marcello Lopes, é entender rapidamente quais são as métricas e indicadores-chaves de desempenho para cada empresa em relação às demais do mesmo setor. “A resposta a essas questões e a qualidade do reporte serão vitais para o sucesso desse processo”, diz o especialista em auditoria e consultoria.
Tratando-se de um tema estratégico, o primeiro passo na implementação do ESG é introduzir efetivamente o conceito na cultura da empresa, conforme as melhores práticas de mercado. “Como a liderança tem papel fundamental neste processo, deve demonstrar claramente onde a empresa quer chegar”, diz Lopes. Para Maria Beatriz Armelin Petroni, diretora jurídica em uma holding de investimentos e membro do conselho empresarial do Instituto Brasileiro de Direito Empresarial (Ibrademp), “não é impossível as empresas desenvolverem e refletirem sobre os seus impactos, seus propósitos e seus objetivos de longo prazo. Cabe ao Conselho de Administração e a diretoria incluir uma nova pauta em suas reuniões e reservar tempo e recursos para tanto, se desejarem sobreviver”.
Na sequência, é fundamental olhar para a estrutura interna de profissionais e parceiros da empresa. “A integração de métricas ESG pode despertar riscos e oportunidades e demonstrar medidas urgentes a serem tomadas. Porém, sem analistas capacitados e experientes, a avaliação dos fatores ESG é prejudicada”, afirma Marcello Lopes.
Em outra etapa relevante, as empresas devem ouvir o que dizem todos os stakeholders, visando atender as expectativas dos atuais e futuros clientes, capazes de satisfazer as necessidades e preferências de diferentes segmentos de mercado. “Isso levará as empresas à ressignificação de ‘retorno financeiro’ a curto prazo, assimilando uma forma abrangente de risco, não apenas financeiro e econômico, mas também social, ambiental e de reputação”, aponta Lopes. Já a diretora jurídica Maria Beatriz Armelin Petroni afirma que “a busca pelo retorno financeiro, unicamente avaliada no passado, passou a ser acompanhada por novas métricas qualitativas de impacto do ponto de vista ambiental, social e de governança. Ou seja, atreladas a objetivos de longo prazo que garantam uma maior perenidade das empresas e reduzam riscos importantes”.
A comunicação com o mercado e demais públicos estratégicos também é um ponto-chave na estruturação do programa ESG. Na esteira da maior relevância dos conceitos ESG, o mercado naturalmente caminha para uma preferência em investir em empresas que estejam inseridas nesse contexto. “Isto representa uma maior responsabilidade às empresas na forma de reportar os fatores ESG. As companhias deverão informar ao mercado sobre a evolução desses fatores em sua estratégia e atividade e como poderão beneficiar a rentabilidade da empresa no médio e longo prazo”, diz o CEO da LCC Auditores e Consultores.
Marcello Lopes: é preciso entender quais são as métricas e indicadores-chaves. (Foto: Divulgação)
Quais demandas têm aumentado a importância dos conceitos ESG?
“No Brasil, o fator [ESG] que impacta são os fatores de governança”, disse o diretor-executivo para América Latina da Fitch Ratings, Rafael Guedes, de acordo com apuração do jornal Valor Econômico, durante painel online da agência de classificação de riscos. Para a advogada Adriana Dantas, “a conduta ética é, por seu turno, um pilar de todo e qualquer investimento ESG. Na medida em que Compliance é um garantidor da ética, tem-se que Compliance e ESG estão interligados”.
Segundo Marcello Lopes, da LCC Auditores e Consultores, houve uma alteração do perfil dos consumidores, influenciados por uma forte pressão das gerações Millennials e Z, que estariam cada vez mais preocupadas com o meio ambiente, especialmente em razão do aumento da sensibilidade às questões relacionadas a eventos decorrentes de negligências no impacto ambiental e desastres que ocorreram em razão de uma avaliação inadequada de risco. “Os indivíduos dessas gerações estarão inseridos diretamente nas empresas e serão os consumidores, investidores e os líderes do futuro. Para essas gerações, as empresas deverão assegurar a sustentabilidade das gerações futuras”, completa.
Para a advogada in-house Maria Beatriz, nota-se, inclusive, “um aumento do número de consumidores que estão dispostos a pagar mais caro por produtos que comprovam cuidado com a ética e com o meio ambiente. Considerando que a confiança nas instituições está abalada, os consumidores, empregados de uma empresa e investidores e, a sociedade como um todo, têm uma expectativa muito maior nos líderes empresariais e cobram deles que se envolvam em questões sociais e ambientais”.
Quais são os benefícios do ESG para as empresas?
Dentre os benefícios gerados pela adoção do ESG para grandes, médias e pequenas empresas, é possível destacar “um aumento na confiança dos stakeholders, uma maior capacidade de gerir e antecipar-se a crises, reduzindo o risco regulatório e de reputação, e a possibilidade de transformar a gestão do ESG em uma vantagem competitiva, por meio da criação de novos produtos que cumpram as expectativas dos Millennials e Geração Z, além da redução do desperdício e aumento da eficiência”, explica Lopes.
Para o especialista, as empresas adequadas aos conceitos ESG terão um maior reconhecimento das marcas perante a opinião pública, principalmente por uma avaliação positiva das empresas por parte dos investidores.
De acordo com Maria Beatriz, “marcas que não se preocupam com o meio ambiente ou com questões sociais que refletem o nosso dilema atual, correm sérios riscos de terem problemas reputacionais, incluindo fornecedores que se utilizam de trabalho escravo ou mesmo maior chance de estarem envolvidas em desastres ambientais, ou ainda, caso de corrupção”.
Como ficam as empresas que passaram por problemas de governança, sociais e ambientais?
Adicionalmente, para companhias que celebraram um acordo de leniência que, via de regra, versa sobre crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e crimes correlatos, ou que celebraram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) referente a violações às leis ambientais, há a obrigação de realizar um monitoramento de compliance, nos requisitos de um Programa de Integridade Efetivo com esteio no Decreto 8.420 e na Lei Anticorrupção, não em conceitos ESG.
“Por outro lado, um Programa de Integridade Efetivo está intimamente ligado com governança e sustentabilidade, pois uma governança fraca pode comprometer tanto a solidez do Programa, como a sustentabilidade dos negócio”, conclui a advogada especialista em compliance, Adriana Dantas.
(Fonte: LETS Marketing)