Wilson Ferreira Jr, da Vibra Energia: vamos sempre consumir petróleo, mas não podemos manter o ritmo que a gente está hoje
Nessa entrevista exclusiva, ele conta sobre os bastidores da reestruturação da BR Distribuidora no mercado, e faz uma análise sobre os desafios do setor energético brasileiro.
Wilson Ferreira Jr, presidente da Vibra Energia. (Foto: Divulgação)
Engenheiro, ele está há mais de três décadas no setor de energia. Passou pela Companhia Energética de São Paulo, Rio Grande Energia, CPFL e foi presidente da Eletrobras.
Nessa entrevista para Sonia Racy, no Show Business, Wilson Ferreira Jr, presidente da Vibra Energia, conta sobre os bastidores da reestruturação da BR Distribuidora no mercado, e faz uma análise sobre os desafios do setor energético brasileiro.
Vou começar uma explicação simples ao nosso telespectador. Por que a BR Distribuidora, que era Petrobras Distribuidora, virou Vibra Energia?
Bom, logo que viemos para a companhia, a Petrobras ainda detinha 37% no capital da companhia. Isso fez parte de um processo de privatização da BR que a Petrobrás fez um IPO, na sequência fez um follow on. Já a privatizou, mas tinha uma participação relevante. E o terceiro e último movimento follow on que nós fizemos agora no final de junho e a partir daí a Petrobras não tem mais nenhuma ação da companhia. Transformamos a antiga BR em Vibra.
Só se ela quiser comprar no mercado, né?
Na verdade, foi uma operação muito grande. Na verdade, nós vendemos isso por quase 12 bilhões de reais. Foi extremamente bem-sucedida a privatização da BR. E a partir daí, nós passamos a avaliar a estratégia da compra de longo prazo. A companhia completou 50 anos agora em novembro e nós, com o apoio de consultoria internacional, com participação importante do nosso conselho, que é totalmente independente, é uma Corporation, soltamos agora, em começo de setembro, uma estratégia de longo prazo que considera basicamente... Quer dizer, a Vibra Energia, hoje, é a a maior distribuidora de combustíveis do Brasil.
Ainda sob o selo BR.
Eu vou explicar por quê. Em verdade, ela é uma companhia que tem a maior rede de postos de gasolina do Brasil. São 8.200. Aqui nós temos 30 milhões de consumidores todo mês na companhia. Hoje, no Brasil, são 40 mil. 8.200 marca BR Petrobras, que é uma marca licenciada. Então nós temos um contrato de licenciamento com a Petrobras de 10 anos, mais dez anos com direito de uso dessa marca, que é uma marca reconhecida, top of mind no Brasil, uma marca de confiança. Isso significa 60% do negócio Vibra hoje. 40% é uma atividade que nós temos de suprimento de combustíveis, todo o tipo de combustíveis para indústrias, para grandes empresas. São 18 mil no Brasil que tem relação conosco, e isso significa 40% da companhia. Agora, evidentemente, nós vivemos aqui agora, mais recentemente, a época da emergência climática, e isso vai estabelecer o que a gente chama no processo de transição energética, ou seja, alguns combustíveis mais pesados, tipo óleo combustível e óleo diesel, vão ser substituídos ao longo do tempo por combustíveis mais amigáveis com o meio ambiente. Você vai ter, por exemplo, o próprio gás natural, o gás natural liquefeito. Você vai ter o biometano, já tem o biodiesel, o etanol. Você vai ter o hidrogênio mais à frente. Muita gente vai modificar os processos para a área de energia elétrica. Então, quando nós fizemos essa reflexão estratégica nós avaliamos de que maneira esse comportamento coletivo global das pessoas e das empresas, governos, vai afetar o consumo de combustíveis e que combustíveis, especialmente, vão ser utilizados nessa transição energética? Transformamos, então, a antiga BR Distribuidora na Vibra Energia uma empresa agora, posicionada...
Para os próximos 50 anos.
Para os próximos 50 anos. Eu falo assim: o parceiro de cada um desses clientes na sua transição energética. A gente acredita que isso vai correr ao longo dos 20 dos próximos 20 ou 30 anos, já até por conta dos compromissos climáticos que nós temos com net zero até 2050.
O quê que a Vibra Energia faz em relação ao meio ambiente? Quais são as ações que vocês promovem hoje? Porque o combustível, o petróleo, a gente sabe que, não tem jeito.
É uma excelente pergunta. Tal como a maior parte das empresas, nós assumimos um compromisso de net zero. Vocês sabem que esses compromissos de zerar ou de descarbonizar sua operação são um compromisso que se assume em três escopos. Então temos o ter escopo direto. Aquilo que você usa para fazer uso de combustíveis e emite como emite gases de efeito estufa na sua atividade. O segundo, naquilo que você compra de terceiros, por exemplo, você compra a energia elétrica de alguém e essa energia elétrica é muito possivelmente. No caso brasileiro é pouco, mas 17% dela pode vir de combustíveis e há uma emissão. Por conta disso, tem que também assumir compromisso de zerar o de compensar isso. E o terceiro é o próprio produto que você vende, no nosso caso, combustíveis, cuja emissão acontece através de um terceiro que compra da gente. Então, quando a gente vai fazer, por exemplo, hoje nós assumimos um compromisso de até 2025, no caso de Vibra, tanto o escopo 1 direto quanto o escopo 2 e indireto nós vamos zerar. Nós vamos substituir todos os processos que emitem gases de efeito estufa ou vamos compensá-los.
Compensar seria crédito de carbono?
Você vai adquirir crédito de carbono. No nosso caso, está muito mais focado na parte redução de, de fato, de eliminação desse consumo que a gente tem processos mais modernos estamos implantando para de fato zerar. E o do combustível, seria o escopo três, é um processo mais complexo, seria em parceria com os consumidores e por isso estamos disponibilizando os ônibus ao longo desse período combustíveis que são mais amigáveis com o ambiente. Vou te dar um exemplo. Fizemos um acordo comercial com uma empresa chamada Brasil Bio Fios e nós vamos produzir o diesel verde na Amazônia, onde o.
O que é o diesel verde?
O diesel verde é um diesel de origem vegetal, e esse diesel verde é importante porque você tem uma emissão muitíssimo menor de gases de efeito estufa, então é essa contribuição que você tem que dar e especialmente porque ele vem de origem vegeta, ele já captura carbono. O que nós vamos fazer para produzir esse diesel é uma plantação de cerca de 120 mil hectares na Amazônia em áreas degradadas na Amazônia. Ela ele já tem esse benefício. E vai produzir um combustível que emite muito menos do que o diesel normal. Então é assim que você faz a chamada compensação. É um balanço muito favorável ao meio ambiente. Nós não estamos fazendo só isso. Vou te dar um outro exemplo bacana: o Brasil é hoje o segundo maior produtor de etanol do mundo, o nosso etanol é produzido a partir de cana de açúcar. Um dos resíduos da cana de açúcar e vinhaça. O que nós fizemos? Nós nos associamos também com uma empresa chamada Zerg e esta empresa ela desenvolveu um processo em que a vinhaça, que é um resíduo, pode gerar por biodigestão o biometano, que é o gás que substitui o gás natural, só que com uma enorme vantagem sob o ponto de vista do balanço de emissões. E esse gás vai ser um combustível importante, por exemplo, na área rodoviária. Você vai substituir o diesel por veículos que consomem biometano com uma enorme vantagem somente do ponto de vista da emissão.
Wilson, ouvindo você falar, acho que nosso telespectador deve estar com uma dúvida cruel. Qual vai ser o destino do petróleo?
Eu sempre falo: a era da pedra, a Idade da Pedra, não acabou por falta de pedra, assim como a do petróleo não vai acabar por falta de petróleo. Nós vamos sempre continuar a consumir petróleo, que nós não podemos é consumir no ritmo que a gente está hoje. Se a gente for olhar, nós temos um aumento de temperatura de 1,1, 1,2 graus, e os compromissos ambientais dão conta de que a gente, para não ter problemas que a gente chama de extremos, a gente tem que suportar um aumento de temperatura até 2050, de um 1,5 só. Nós já temos um 1,1, portanto, nós só podemos aumentar 0,4. Para que isso ocorra, o nível de emissões projetadas tem que cair mais ou menos 50%.
Mas o Brasil não é responsável.
O Brasil tem uma responsabilidade. Agora, acho que vale a pena esclarecer para o nosso telespectador: primeiro, no mundo, 70% das emissões de gases de efeito estufa se dá pela produção de energia elétrica. No caso brasileiro é só 6%.
Sim, porque nós temos as hidroelétricas, a água.
A matriz elétrica brasileira, 83% dela é renovável. No mundo, isso é 25%. Nós já demos uma contribuição importante ao mundo ao produzir energia de forma renovável. Há um segundo, que eu queria colocar, e é importante, que é a emissão de gases de efeito estufa pelo uso rodoviário. Usar tantos veículos de carga quanto os veículos leves.
O Brasil é responsável somente por 3% dos gases de efeito estufa do mundo do mundo. É esse o número?
Sim, é esse. Número.
É que a gente é tão culpado no mundo inteiro de tudo...
O segundo exemplo que eu dou é exatamente o tema relativo. No caso brasileiro, 14% de nossas emissões, portanto, mais até do que o setor de energia, é exatamente um os veículos pesados e leves. E aqui nós somos um outro extraordinário exemplo para o mundo, que é o segundo maior produtor de biocombustível e etanol. Mas a nossa é a nossa gasolina é misturada com 27% de álcool anidro. Nós emitimos menos, por cada quilômetro rodado, mesmo com gasolina. Nós temos uma frota, quase 60% dela flex, portanto, pode e usa etanol com grande frequência. Num carro, o etanol emite metade quase de um carro à a gasolina, por exemplo, da Europa, o diesel. Há uma terceira coisa que é o próprio diesel: o nosso diesel é misturado com biodiesel, com óleo vegetal. Então nós, no caso brasileiro, desses 14%, 20% do volume inteiro é de biocombustível e até 2028 vai quase 30%. Então, não é aqui o nosso problema. Qual é o nosso problema? Qual é o nosso desafio sob o ponto de vista do tema global? Para além de continuar essa trajetória que a gente vem fazendo aqui, de produção de biocombustível de energia renovável? É o tema do desmatamento, que foi assumido o compromisso de zerar até 2030. Então, eu acho que nós estamos no caminho. Nós precisamos ser muito sérios, é uma coisa que depende da sociedade inteira, do governo, da academia, das empresas. Quando nós fazemos negócio, por exemplo, com o diesel verde, nós estamos contribuindo para que você torne a floresta melhor em pé do que desmatada.
Wilson, você acha que mereceria uma campanha para esclarecer o que o Brasil já tem feito nesse sentido?
Nos dois principais usos que emitem gases de efeito estufa o Brasil é um exemplo para o mundo: na produção de energia é uma das matrizes mais limpas do mundo, e na produção de combustíveis é aquele que utiliza mais biocombustíveis no mundo, um dos que mais utiliza. Sem dúvida nenhuma, nós somos exemplares nisso. Agora, evidentemente, é um grande desafio. Você tem uma floresta que é do tamanho da Europa. Você tomar conta dessa floresta num momento econômico de grande dificuldade, onde é muito difícil você fazer a fiscalização do uso legal... Mas na medida em que ela acontece, você viu agora no Rio Madeira, ela imediatamente combatida. Mas é muito difícil, precisa de muito dinheiro. Eu acho que o Brasil tem uma coisa que é importante agora na COP 26, talvez a principal conquista seja o chamado artigo sexto, que vai disciplinar o tema relacionado aos créditos carbono e à negociação de crédito.
E o Brasil teve uma grande participação nesse sentido.
E ele é o maior beneficiário. Nós somos a maior potência ambiental do mundo, eu não tenho nenhuma dúvida. E é como potência ambiental do mundo vai ser aquela que vai ter o maior número de créditos de carbono, que vai poder ser utilizado de uma forma organizada e a gente precisa se planejar para isso. Aí é necessária essa convergência do governo, da academia, das empresas. Já existe um movimento bastante bem articulado com isso. E aí nós vamos ter o recurso necessário para fazer essa gestão inteligente da floresta que, como eu falei, pode ela de pé, a floresta preservada, traz um benefício a todo o globo, ao mundo inteiro. Mas ela trará um benefício para a população local que vai se beneficiar disso. O Brasil vai poder dar esses bons exemplos ao mundo, tenho certeza.
Vamos explicar o que é crédito de carbono. Como é que funciona a negociação do crédito de carbono?
De uma forma simples, você pode. Se você tiver uma termelétrica a carvão, por exemplo...
Porque o Brasil tem pouquíssimas.
Pouquíssimas. Mas ela funcionando, para cada megawatt hora que ela gerou através da queima ela emite uma quantidade CO2. Você tem um custo para fazer esta termoelétrica. Se você for por outro lado, vamos fazer uma planta solar do mesmo tamanho. A planta solar custa mais caro do que a do que a termoelétrica e não emite. Só na produção da placa. Então a diferença é no limite. Aí você consegue identificar qual é o valor do crédito. Você está investindo mais numa planta para que ela não emita CO2 e, obviamente, há cálculos feitos na sua vida útil...
E para isso você precisa do crédito carbono como um financiamento?
É um incentivo.
Mas é uma moeda de financiamento ou não?
Eu diria assim, é um abatimento de custo maior que você vai ter de produzir uma energia que não emite carbono. A mesma coisa vai acontecer para a floresta.
Falando de termelétrica a carvão, o que os Estados Unidos vão fazer sobre esse assunto?
Ele vai fazer, muito provavelmente, o que nós vamos fazer hoje. O carvão, teoricamente, é o combustível mais condenado, embora ele seja lá...
Mas lá eles têm quantos por cento?
Eu não saberia te dizer, talvez menos de 20%.
Bem mais que a gente.
Muito mais. O carvão, no caso brasileiro, é menos do que 2%. Na Eletrobrás nós tínhamos só uma planta. Tínhamos três, nós fechamos duas. E o que acontece com a maior parte das plantas é que o prazo de concessão termina nessa década. Então, elas vão ser substituídas obrigatoriamente. A mesma coisa possivelmente acontece nos Estados Unidos e em vários países, e aí eles vão utilizar, vamos dizer assim, primeiro, o mais tranquilo de fazer é com gás natural. Nós não tínhamos gás natural no Brasil quando nós fizemos essas plantas. O gás natural normalmente é explorado no país ou na matriz de petróleo dos países que têm que têm desafios climáticos no sentido do frio ou do calor. O Brasil é um país tropical e nunca teve essa necessidade de aquecer suas casas. Você vai pra Argentina? Tem. Você vai para os Estados Unidos, tem. Então, o perfil de produção de petróleo e o refino acaba privilegiando o gás, porque ele é um uso importante para aquecimento. Como o Brasil não tinha, ele desenvolveu muito pouco. E nós acabamos a nossa história termelétrica ela é decorrente do racionamento de 2001, que nós, naquela época, 90% da nossa demanda elétrica, pouco termelétricas, nós não tínhamos reserva. E nós fizemos as termelétricas em 2002, 2003, 2004, foi a urgência. Para pagar um prêmio de seguro depois do sinistro. Mas nós fizemos com o que a gente tinha. Foi com o óleo combustível, foi com o carvão, foi com o óleo diesel, as chamadas térmicas emergenciais, e elas terminam agora até 2025, uma parte delas. E nós vamos substituir. Pelo quê? Pelo gás natural. Porque agora nós temos o pré-sal e temos uma condição de crescimento importante no suprimento de gás fundamental. O gás natural é o combustível que eu diria assim, da transição energética. Mais para frente, vai ter outros usos. Por exemplo, você vai trocar por eletricidade. A própria Vibra se posicionou recentemente, fizemos uma DV com a Comerc, que é a maior comercializadora de energia elétrica para o mercado livre brasileiro e já envolvida também na parte de gás natural, envolvida na gestão da energia, do consumo de energia dos nossos clientes.
Wilson, em termos de Vibra. Vocês trabalham atrelados ao preço do petróleo, né?
Claro.
Porque o preço do petróleo não pode se manter o mesmo com os preços internacionais mudando, já que o Brasil tem uma semi-autosuficiência em petróleo, não podia o país ficar só olhando para dentro e esquecer o que acontece lá fora o câmbio. O que acontece?
Acho que são duas coisas. A resposta é um pouco maluca. A primeira coisa é a empresa que produz isso, a Petrobras. A Petrobras não é uma empresa do Estado brasileiro. O Estado tem uma participação de cerca de 30%. Nela, 70% do capital dessa companhia são investidores nacionais e internacionais, inclusive pessoas físicas, que lá atrás fizeram sua opção no fundo.
Exatamente, como garantia.
Exatamente dentro de uma perspectiva de que essa companhia iria produzir petróleo, refino etc. E, obviamente, remunerar o capital que foi lá empregado. Esse é o ponto. Então, o governo não tem o poder de mover essa companhia em qualquer direção sem que obviamente tenha consequências, porque essa companhia é listada no Brasil, listado nos Estados Unidos, existem regras para que você faça interferência. E, estatutariamente, ela não tem esse poder. A maior parte das empresas estatais nos últimos anos tem instrumentos ou cláusulas no seu estatuto que não permitem essa influência direta. O que o governo pode fazer é tornar essa companhia cada vez mais eficiente, que é o que tem sido feito e, como resultado da sua eficiência, você capturar dividendos e, obviamente, fazer políticas sociais e de compensação, como vai fazer com o GLP para as pessoas etc. Isso ele tem o poder, porque ele, de fato companhia, tem um bom desempenho. Agora, vamos falar um pouco do preço do petróleo, que é uma circunstância diferente, de uma commodity. Todas as commodities, elas são resultado da própria globalização. Não são todos os países que produzem petróleo, como são todos que produzem soja. Então, você tem cadeias globais que atendem a necessidade global. O Brasil é um dos produtores, mas são poucos que são produtores. Então, a primeira coisa é que as cadeias globais de commodities, que são produtos que são de necessidade absoluta de todo o mundo, elas se ajustam à demanda por esse produto. Se você pegar no início da pandemia, o petróleo é marcado a preço no mercado brandt, ele valia mais ou menos 70 dólares por barril de petróleo. Esse valor, dado a perspectiva de paralisação da economia, ele em menos de um mês, ele chegou a quase zero, porque você não tem onde colocar o petróleo. Você está produzindo, você não está consumindo.
Chegou a ficar de graça?
Ele chegou, por uma semana, a ficar. Parece uma coisa incrível, mas chegou. Depois voltou para 20, 30. Na medida em que a economia foi se ajustando, então essas cadeias globais precisam ser organizadas em função especialmente da demanda que você tem por aquele combustível.
E influência da Opep também, não é?
Dos produtores. Os produtores precisam se organizar porque eles também não podem perder dinheiro. Eles têm que ajustar a sua produção ao que você tem que demanda. Então, o que aconteceu? Você tinha essa variante nova ou Ômicron que todo mundo começou a falar assim “olha, vai demorar mais para a economia retornar”. Isso foi falado. A gente aparentemente hoje não tem essa mesma percepção, mas em uma semana ele caiu de 85 para 70, até ligeiramente abaixo disso. Então, a primeira, com o petróleo, tem essa cotação porque é uma commodity de preços internacionais. Então, o que ajusta preço e perspectiva de demanda. Uma coisa também as pessoas precisam saber: o Brasil não é mais, não produz tudo o que ele precisa. Ele importa 20% da nossa necessidade gasolina de diesel e importado. Então, o que aconteceu? O que acontece de verdade, para você fixar o preço do derivado aqui, gasolina, diesel, etc., você está comprando petróleo, refinando na Petrobras e contando ele ao preço que você comprou. Em dólares coletados no brandt, e o câmbio que você tem no país. Nós estamos sendo, infelizmente, afetados por duas coisas. Primeiro, como a cadeia global se ajustou no início da pandemia e está voltando agora numa perspectiva de equilíbrio, de retomada da economia global, e isso se o movimento voltou lá para os 70, 80 dólares que estava antes.
E vai ficar assim? Já tivemos o petróleo.
Eu acho que pode. Assim, se a economia voltar muito rapidamente. Eu, pessoalmente, não acredito nisso. Eu acho que o petróleo, ele é um componente importante em qualquer economia do mundo e ele afeta a inflação. Então, uma parte importante da inflação global hoje, não só nossa, mas você está como uma inflação dos Estados Unidos dos últimos tempos, na Europa, nos últimos tempos, se deve exclusivamente ao impacto que o petróleo tem em todas as economias. Então, por conta disso, já vi líderes mundiais se conversando naturalmente de tal maneira que você possa ajustar mais rapidamente essa cadeia global de tal maneira que ela estabiliza o preço e valores corretos. No nosso caso, nós temos um agravante, como nós estamos numa discussão muito forte em cima, principalmente se vamos ter a disciplina fiscal necessária ou não, vamos, etc. por conta do furo de teto, então essa especulação coloca para os agentes econômicos uma dúvida, uma insegurança e a reação que eles acabam tendo afeta o nosso câmbio. Então se fala assim, nós deveríamos estar rodando num caminho de equilíbrio? Se estivesse andando como o mundo inteiro, talvez a R$ 4,80, a menos do que R$ 5. Nós estamos rodando a R$ 5,60 e isso, obviamente, para além do aumento do brandt, e tem impacto diferenciado no Brasil por causa do câmbio. Agora, eu digo sempre o seguinte: não vale a pena a gente desafiar ou achar soluções mágicas para o preço de petróleo, porque a gente precisa de investimento. Imagina? A Petrobras está procurando fazer a privatização das suas refinarias. A competição entre as refinarias vai fazer com que o preço baixe. Você tem uma competição importante nos postos de combustíveis, são 40 mil disputando. Então isso sempre vai trazer um benefício para o Brasil. Investimentos que você tem, no refino...
E a concorrência.
E a concorrência. É isso que baixa preço de forma efetiva, além dos combustíveis que você vai poder trazer de forma diferenciada. A Vibra hoje é a maior importadora de combustível brasileiro. Antigamente a Petrobras, que fazia essa importação e colocava nas suas refinarias, você tinha a capacidade de refino. Hoje não. Hoje você tem que trazer já o derivado diretamente. Nós fazemos isso. É por isso que você não vai ter um risco de desabastecimento. Se a gente tiver uma tentação de colocar um preço mais baixo, por exemplo, a Petrobras, que produz, como eu falei, 80% dos volumes brasileiros, nós podemos ter, de fato, primeiro que todo mundo tenta comprar dela e não consegue, aí você tem que importar e não são todos que conseguem importar tempestivamente para atender o mercado e aí você pode ter problema de suprimento.
Wilson, e a agenda ESG?
Eu entendo que a agenda ESG é a mesmas coisas mais importantes que a gente tem para tratar a partir de agora. Todas as empresas, as listadas, principalmente, os investidores, eles têm isso como um critério de escolha e de manutenção.
Agora, por que isso? Caiu toda a ficha, o mercado, o consumidor que está demandando? Porque é uma agenda mais cara.
Acho que são as duas coisas, mas, principalmente, o investidor. Porque a agenda de ESG mostra, evidencia, a capacidade de sustentabilidade da empresa no tempo. Quando a gente olha o valor de uma empresa, a gente está tentando identificar por quanto tempo ela opera, 20, 30 anos e trazer os fluxos de caixa dela a valor presente. Em princípio, é o valor da companhia abatido das suas dívidas. Hoje, se você for olhar as empresas que têm o comportamento inadequado do ponto de vista social, empresas que tenham problemas no convívio com o meio ambiente, todas elas são sujeitas a sanções. Em alguns casos, até a interrupção das suas atividades. Na governança, que é o processo das decisões que a companhia toma, se você não tiver uma governança que seja percebida como qualificada, competente, alinhada com essa visão de longo prazo, com a estratégia da companhia a longo prazo, a companhia não vai tomar boas decisões e pode não estar presente daqui a 30 anos. Se você pegar hoje, nós temos na Vibra 43% do capital da companhia é externo. São investidores internacionais. A gente utiliza já na própria Vibra, instalamos um conjunto de scores que nos permitem com 217 medidas, olhar a nossa atividade em cada uma dessas letras. Seriam as melhores práticas ambientais, sociais e de governança que são adotados pelas melhores empresas do mundo. A gente avalia as nossas práticas contra essas e estabelecemos uma agenda.
E isso não existia no DNA da BR Distribuidora?
Eu acho que sempre existiu nas empresas, talvez não com essa abrangência, não com esse foco, não com importância percebida pelo mercado. E agora, eu diria assim, se era uma opção lá atrás, isso gerava um diferencial para as empresas hoje é uma obrigação. Se você não tiver uma agenda percebida como sustentável, essa empresa não tem uma perspectiva de valor adequado.
Há quanto tempo vocês fazem uma compensação pela emissão de gases do efeito estufa? Já fazem isso há muitos anos? Se intensificaram? Como é que funciona? Quando você assumiu a empresa, como é que você achou o desenho dessa prática e como está hoje?
Algumas empresas, e a Vibra é uma delas, já tem inventários de emissões. Então, essa preocupação começa a ser mais forte no começo da década 2010, 2015. Isso passou a ser até por força das COPs 15, etc., das brasileiras, uma preocupação das empresas. Então, o primeiro movimento é o do inventário. Quanto eu emito e de que maneira eu consigo ou compensar? A gente não faz compensação. A maior parte das empresas tem procurado trabalhar para compensar sua redução. Então, por exemplo, você usava veículos a gasolina, você estabelece uma preferência para utilizar veículos a etanol, você já está fazendo uma redução das suas emissões diretas. Então nós temos isso. A companhia hoje, no nosso, do nosso setor, é a mais bem percebida e a única que está no ISE. Então, ela tem um conjunto de práticas que são hoje percebidas pelo mercado. A gente tem que ter um esforço pela empresa de comunicar adequadamente e de mostrar a evolução desses compromissos.
E em relação à concorrência. Existe hoje uma concorrência pelas melhores práticas dentro desse setor?
Absoluta. Inclusive, existem hoje vários rankings, scores de empresas que classificam as empresas e que fazem recomendação pública. Então se você for pegar o fundo de pensão, ele muito provavelmente vai, ao escolher onde vai investir, ele vai olhar segundo alguns scores que são reconhecidos globalmente, qual é a posição daquela empresa que tanto que.
São essas empresas que fazem essa avaliação?
Tem várias, várias ligadas às próprias bolsas de valores. A Wise, da B3, tem lá um conjunto de práticas que definem o score. A última lista, inclusive, tirou algumas empresas. Nós continuamos pelo terceiro ano. Mas você vai pegar, especialmente na Europa, ligado às bolsas de valores de Londres, você tem alguns scores, algumas consultorias internacionais, por exemplo, nós utilizamos a Arabesque, que é uma empresa que foi comprada pela Accenture e é um dos principais scores utilizados por fundos de investimento globais.
Em termos de investimentos, o que é que vocês estão investindo nessa economia verde? Podemos chamar isso de economia verde?
Nós fizemos recentemente um grande investimento na aquisição da Comerc, uma joint venture que nós estamos fazendo junto com Perfin. Lá nós estamos fazendo, por exemplo, 2 mil megawatts de plantas solares e eólicas que vão ser utilizadas para que a gente possa oferecer isso ao mercado livre, que está crescendo no Brasil. O mercado livre de energia elétrica hoje é um terço dos volumes brasileiros. Vai a 50% em quatro anos e precisa dessa energia renovável para crescer.
E qual o montante, para que o telespectador tenha uma noção de grandeza?
Mais ou menos 10 bilhões só nessa parte de energia elétrica. Nós investimos como Vibra em torno de 2 bilhões de reais por ano. Mais ou menos isso. Agora nós fizemos aquisições de empresas e a principal delas foi a Comerc, que na base é uma comercializadora de energia elétrica que vende energia elétrica no mercado livre. E fruto da estratégia que nós temos, conjuntamente, ela também será um grande produtor de energia renovável. Então, essa quantidade de parques eólicos solares que a gente possa construir, estamos fazendo isso no Brasil, é para que a gente possa servir esse grande mercado de consumidores de energia elétrica que voltar a fazer essa transição, alguns saindo do óleo para a energia elétrica, que são processos mais eficientes. A gente vai também disponibilizar via essa companhia e via a própria Vibra, gás natural e GNL. Então nós estamos originando isso e disponibilidade dos consumidores.
Cadê aquele medo de que o Brasil ia ficar sem energia elétrica?
Eu recebo muito essa pergunta. Em verdade, nós tivemos um ano muito atípico. Em 91 anos que a gente mede a afluência de rios no Brasil, esse foi, de fato, o pior e muito pior. Quase 30% abaixo da média. É uma situação gravíssima. Se você pegar de um racionamento que você tinha menos de 10% de termelétrica, agora você tem mais de 20% de eólica solar que nós tivemos uma variação importante da nossa matriz energética, mas as nossas técnicas continuam sendo térmicas caras, custando aquele tempo com óleo combustível, são combustíveis caros. A gente está no momento de fazer essa transição. Então o seguro é caro. Se não chove mesmo. Nós temos um sistema de base hidrelétrica, agora menor, mas ainda relevante, 60%. Então, se não chove, não temos um problema. A compensação que nós podemos ter é exclusivamente pela termelétrica.
Mas essas chuvas se deram no país inteiro, nesses meses. Acredito que o atípicas em novembro.
Tivemos pouco pouca chuva no período. O período chuvoso brasileiro é um período que começa em meados de novembro e vai até abril. Então, nosso período chuvoso do ano que passou foi o pior. Dos 91 anos que a gente mede. Agora começamos de novo um novo período. A gente tem que torcer para que haja uma recuperação. Agora, o fato é o seguinte: ao longo de maio para cá, o governo fez um esforço grande de despachar todas as termelétricas, elas são mais caras, mas elas aparecem na chamada bandeira tarifária vermelha. Agora nós conseguimos suprir isso. Era uma colocação feita pelo próprio governo. Acho que a gente fez direito e de novo temos uma dependência. Então nós precisamos expandir a nossa base térmica para uma base termelétrica a gás natural, que é mais amigável com o meio ambiente e ela é mais barata. São equipamentos melhores e, obviamente, tem que se graduar agora qual é o tamanho desse seguro que a gente tem que ter à luz de variações que a gente nunca conviveu?
Vamos fazer outro seguro pós fato.
Exatamente. Mas a gente tem um time bom. O Brasil tem um time muito bom, de planejamento exemplar, que a gente vai certamente superar isso.
Quando você saiu da CPFL Energia, depois de 30 anos de mercado de energia, você me disse “Agora eu vou tocar piano˜. Aliás, tinha me dito que você comprou três pianos para deixar um em cada lugar que você ia se dedicar a tocar. O que aconteceu?
Eu recebi desafios que eu fiquei muito feliz com eles. O primeiro da Eletrobrás, tenho um grande orgulho, recuperamos uma companhia que estava quase quebrada, uma companhia quase 10 bilhões passou a valer 70 e agora tem uma perspectiva de privatização.
Você acredita nessa perspectiva de privatização?
Tenho convicção de que acontecerá. Concluímos todas as obras. Então foi uma coisa muito boa para mim, num prazo muito curto, cinco anos. E agora esse desafio, que eu acho que é um desafio de engajamento global, a causa global. Estar numa companhia que vai fazer e que vai protagonista da transição energética é uma honra. Eu estou com 62 anos e tenho uma filha de 8. Eu me inspiro muito.
Agora você tem outro desafio. Você assumiu transformar uma empresa que era estatal em uma empresa privada, eficiente, olhando para o futuro.
Nós éramos a companhia estatal de combustível de maior custo do setor. Hoje, nós já somos a de menor custo. Deste ano para cá, no último ano, ela já é a de menor custo, mas a gente pode ir além. Mas eu acho que a causa da companhia que engaja as pessoas. Eu falo assim “cara, nós vamos ser o protagonista dessa transição energética. Nós vamos mudar o mundo. Vamos dar um exemplo. O Brasil vai fazer a mesma coisa.