“O Brasil depende de nós”, diz Roberto Giannetti da Fonseca
Na análise de Roberto Giannetti, o cenário da guerra pode estabelecer uma nova ordem econômica mundial, capaz de favorecer a China e fortalecer o yuan como moeda internacional.
Presidente da Kaduna Consultoria e do LIDE Energia, Roberto Giannetti da Fonseca. (Foto: LIDE Paraná)
Quando o economista Roberto Giannetti da Fonseca pegou o microfone para falar aos empresários londrinenses, nesta sexta-feira (11), foi para externar com sinceridade sua inquietação com os rumos do país. Sem meias palavras, criticou o governo atual e os anteriores para pregar uma nova política econômica, capaz de gerar emprego e renda para a população. “O empresário brasileiro é um herói, um sobrevivente, passou por inflação, dívida externa, maxidesvalorização do câmbio… Mas temos que usar isso para fazer esse país crescer como um todo”, destacou.
O encontro, realizado no restaurante Coco Bambu, em Londrina, foi resultado de uma parceria entre ACIL, LIDE Paraná e Sinduscon para reunir empresários dos mais diferentes setores diante de um dos economistas mais respeitados do país, e pensar em soluções capazes de corresponder ao potencial produtivo brasileiro.
Presidente da Kaduna Consultoria e do LIDE Energia, Roberto Giannetti da Fonseca foi diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), e secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Com vasta experiência, o palestrante foi direto ao assunto, elencando os principais problemas do cenário econômico atual, começando pela guerra na Ucrânia: “É uma guerra desnecessária e injusta. O conceito de esquerda e direita está cada dia mais superado. Não é mais o que classifica os países e os lugares no mundo. Temos hoje os democratas e os autocratas. A esquerda e a direita se aproximaram e se parecem cada vez mais. A liberdade é um direito fundamental e também está ameaçada. Espero que o Brasil se coloque sempre do lado certo da democracia e da liberdade”, ressaltou.
A guerra começou com poder para piorar um cenário já prejudicado pela pandemia: “É um problema humanitário e sanitário, mas também é um problema econômico. Não só desorganizou a economia como desorganizou as cadeias produtivas. Temos dificuldades em conseguir matérias primas”, comentou Giannetti.
Com a falta de matéria prima e as cadeias produtivas desorganizadas, começaram a faltar produtos. O cenário propicia a inflação, um pesadelo antigo, do qual o brasileiro se tornou especialista. “A política monetária de aumentar juros tem limite, e já passamos do limite porque o que tinha que aumentar já foi aumentado. Existem outras ferramentas, como reduzir os impostos e fazer uma política fiscal mais regularizada. O desperdício de dinheiro é absurdo. Gastamos muito mal o dinheiro dos impostos. O retorno é muito baixo”, criticou.
Na análise de Roberto Giannetti, o cenário da guerra pode estabelecer uma nova ordem econômica mundial, capaz de favorecer a China e fortalecer o yuan como moeda internacional: “No momento em que as sanções do ocidente para a Rússia foram agravadas, no setor financeiro, principalmente, a Rússia precisa encontrar uma solução. E a solução é abandonar o dólar. A China passa, então, a ser o centro financeiro de um novo pólo econômico. O yuan surge como moeda de transação no mercado internacional. As reservas de alguns países não vão ser mais exclusivamente em dólares ou ouro, mas em yuan. E a China consegue colocar sua moeda no mercado mundial”, alertou.
No caso da economia brasileira, a situação é agravada ainda pela polarização política e, principalmente, pelo crescimento quase nulo dos últimos dez anos: “Estamos em estagflação. Temos uma economia crescendo próximo de zero e uma inflação de 10% a 12% pela frente. O PIB brasileiro cresceu nos últimos 10 anos uma média de 0,4% ao ano. É praticamente nada.”
Uma saída seria justamente investir no mercado externo, intensificando as exportações. “A importação e a exportação do país, somadas, não dão mais do que 23% ou 24% do PIB. Vamos sair da toca, vamos pegar um avião e vamos lá fora vender e buscar mercado… O câmbio está favorável, tem mão de obra… Por que a gente não exporta? Falta política de comércio exterior”, argumentou o economista, acrescentando: “Temos que recuperar a cultura exportadora que está perdida. Quantas empresas exportam no Brasil? Por volta de 25 a 30 mil. Comparado com outros países do mundo, não é nada. Nós temos que recuperar a capacidade criativa e sair vendendo produtos industrializados”.
Mesmo com uma profunda análise crítica, Roberto Giannetti não perde a empolgação com o potencial econômico brasileiro. “É um país maravilhoso que temos nas mãos. Temos que mudar nossa política econômica de forma profunda. Desonerar os impostos para gerar renda e emprego para a população. Temos que virar a mesa para ter uma economia vibrante, competitiva, que permita a gente gerar emprego e renda, que a população merece, para construir um país onde nossos filhos e netos vão viver”, exaltou.
Da mesma forma em que acredita no potencial da economia brasileira, Roberto Giannetti não deixa dúvidas: não há como o país se desenvolver se o setor produtivo não estiver no centro da discussão.