Índices financeiros que merecem mais atenção dos empresários em 2022
Pandemia, guerra e disputas políticas são apenas alguns exemplos de eventos e fatores que, nos últimos meses, vêm movimentando de forma significativa a sociedade e a economia, deixando acionistas e executivos inseguros sobre o rumo em que os negócios devem tomar.
Julio Celso Costa Ladeira, Diretor Executivo e especialista em gestão financeira empresarial (Foto: Reprodução)
O mundo empresarial vive hoje um cenário em que a adversidade vem se tornando, cada vez mais, o novo normal. Fatos e eventos extraordinários, capazes de abalar a saúde das economias mundial e nacional, e que ocorriam em ciclos maiores intercalados por períodos de estabilidade e previsibilidade, vêm em sequência e criam um ambiente de negócios volátil, complexo e que é frequentemente visto como caótico.
Contudo, como mostrou o matemático e meteorologista Edward Lorenz por meio da ‘Teoria do Caos’, é possível encontrar uma certa ordem por trás de toda essa aparente imprevisibilidade.
No mundo dos negócios, a análise de alguns indicadores pode ajudar o empresário a navegar de forma mais segura por estes períodos e, com o tempo, passar a aproveitar as oportunidades que emergem desta turbulência.
Fluxo de Caixa: “Receita é vaidade, lucro é sanidade e o caixa é o rei”
O ditado acima, amplamente conhecido no mundo empresarial, é mencionado por Julio Ladeira, Diretor Executivo e especialista em gestão estratégica empresarial, que garante que não poderia ser mais verdadeiro, ainda mais atualmente.
“Em períodos de crise, a melhor decisão do empresário deve ser se debruçar no caixa da empresa. Em termos práticos, isto significa analisar de forma granular o fluxo de caixa, segregando as saídas que efetivamente criam valor das que podem ser reduzidas ou mesmo eliminadas sem o comprometimento do negócio. Esse é um exercício que deve ser feito com muita cautela, pois um movimento errado pode gerar o efeito contrário ao desejado, como no exemplo do dono de restaurante que, para economizar energia elétrica, apagou o letreiro” comenta Ladeira.
Outra medida importante é rever prazos de pagamentos junto aos fornecedores, selecionando os pagamentos mais representativos e convidando esses parceiros a encontrarem uma solução conjunta que ajudará a melhorar a saúde do caixa.
Para Ladeira, “no lado das entradas, passamos por um período em que faz sentido empresários analisarem parâmetros como preço, prazo e inadimplência”.
No que tange ao preço, uma armadilha comum é a redução para aumentar o volume de vendas. É comum que esta tática não gere o efeito desejado, já que não há garantia de resultado. Não são raras as vezes em que esta decisão destrói o valor do produto ou serviço, uma vez que os custos e despesas continuarão iguais ou maiores. Uma alternativa melhor seria identificar as piores margens do negócio e ajustar preços para que não destruam o valor criado por aqueles de melhor margem.
Quando se trata de prazos, o exercício é o inverso daquele feito junto aos fornecedores. Neste caso, a recomendação é reduzir os prazos de pagamento dos clientes. Esta medida também deve ser avaliada com cautela, pois, se feita de forma exagerada, pode comprometer o volume de vendas além do aceitável.
Por último, mas não menos importante, uma ação vigorosa sobre a inadimplência pode ajudar e muito a melhorar a saúde do caixa. Em tempos de crise, muitos dos clientes também estão com as finanças comprometidas e resolver a inadimplência pode não ser tão simples. A aplicação de descontos para o recebimento à vista de valores em aberto há mais tempo pode incentivar clientes a priorizar este pagamento.
Lucratividade
“Outro indicador importante em momento de crise é a lucratividade. Produtos, serviços, lojas e clientes não lucrativos são destruidores de valor do negócio”, pontua Ladeira.
Para corrigir situações como essa, o empresário deve analisar as margens de cada item comercializado e adotar planos de ação que podem incluir redução de custos, aumento de preços, renegociação de contratos, retirada de produtos e serviços do mix e até o fechamento de lojas ou encerramento de contratos com clientes.
Apesar de algumas dessas medidas parecerem drásticas, não se deve se deixar iludir pelo produto, serviço, loja ou cliente que consome mais recursos da empresa do que o montante total de receita que é capaz de gerar.
Gestão Baseada em Dados
Um dos desafios que alguns empresários encontram com frequência é parar para analisar alguns dos indicadores mencionados acima ou buscar dados que nem sempre estarão disponíveis, dependendo da maturidade ou do histórico do negócio.
Dados como receitas e custos por produtos ou serviços, essenciais no cálculo das margens de lucro, nem sempre foram calculados e armazenados devidamente, seja em planilhas ou em sistemas de informação próprios para essas análises.
“Nestes casos, a recomendação é a de ir até onde os dados permitirem e combinar o que for possível, valendo até levantar informações para uma análise subjetiva, baseada na experiência e no melhor julgamento dos gestores. O mais importante é ter e analisar os dados da empresa constantemente”, pontua Ladeira.
Colocando a Gestão Financeira em Prática
Ainda que, em um primeiro momento, o gestor encontre dificuldade para colocar em prática as recomendações acima, persistir na implantação de controles financeiros e operacionais mais fortes trará benefícios para o negócio, não somente no curto prazo. Nos médio e longo prazos, a empresa aprimorará a forma como armazena informação, melhorando suas análises de indicadores, tomando melhores decisões e, principalmente, construindo uma estrutura de gestão mais robusta, capaz de suportar períodos de turbulência, além de identificar e aproveitar as oportunidades que surgem nestes momentos.