Colaboração entre empresas e startups é caminho para atrair e adotar inovações

Especialista em inovação aberta alerta que quantidade de empresas que inovam em parceria com startups quadruplicou desde 2013. Josemaria Siota sugere que Brasil aposte em mecanismos de co-investimento.

Josemaria SiotaEspecialista em inovação aberta e corporate venturing, o espanhol Josemaria Siota. (Foto: Divulgação)

Especialista em inovação aberta e corporate venturing, o espanhol Josemaria Siota alerta para a importância de empresas, startups e academia caminharem lado a lado para o sucesso da inovação. Diretor executivo do Centro de Empreendedorismo e Inovação da IESE Business School e integrante do Fórum Econômico Mundial, ele disse, em entrevista à Agência CNI de Notícias, que a inovação aberta é um fenômeno que está crescendo rapidamente. Segundo ele, desde 2013, a quantidade de empresas que inovam em parceria com startups quadriplicou.

Siota alerta que o Brasil precisa apostar em mecanismos de co-investimento para empreendimentos em estágio inicial, conhecidos como projetos de prova de conceito. Ele sugere a criação de fundos para apoio à validação de descobertas no mercado e o agrupamento de corporações, além de investidores interessados em startups para que a inovação avance de forma célere no país. Leia a entrevista:

Qual a importância da parceria entre empresas, startups e universidades para o desenvolvimento da inovação?

É preciso conectar melhor o conhecimento gerado nas universidades e instituições de pesquisa e a inovação desenvolvida, por meio de startups e empresas. Mas ainda há desafios para levar a ciência ao mercado. O Brasil ocupa hoje a 62ª posição entre as 131 economias apresentadas no Índice Global de Inovação 2020, apresentando melhor desempenho em insumos de inovação (59º) do que em produtos de inovação (64º). Corporate venturing, ou seja, a colaboração entre empresas estabelecidas e startups inovadoras é um caminho para atrair e adotar inovações. O paradigma da inovação aberta pressupõe que as empresas podem e devem usar ideias externas, segundo o IESE.

A inovação aberta já é uma realidade na Europa e no mundo?

É um fenômeno que está crescendo rapidamente. Desde 2013, o número de empresas inovando com startups quadruplicou. Alguns exemplos das muitas empresas que já estão trabalhando com startups são Petrobras, no Brasil; a Allianz, na Alemanha; e a Alibaba, na China. De acordo com o IESE, o corporate venturing envolve prêmios de indução, hackathons, equipes de scouting, venture builders, compartilhamento de recursos, parcerias estratégicas, incubadoras corporativas, aceleradores corporativos, corporate venture capital, clientes de risco e aquisições de startups. 

Como você vê a inovação aberta no Brasil?

A adoção de corporate venturing na América Latina está em torno de 40%, esse é o percentual de gigantes corporativos no Brasil inovando por meio de startups. Esse índice está abaixo do leste e sudeste asiático, onde chega a 57%, e dos Estados Unidos, onde é de 90%, segundo dados do IESE. No entanto, a adoção da inovação aberta no Brasil está crescendo rapidamente, seguindo a tendência global. O Brasil é o país líder da América Latina em número de gigantes corporativos que trabalham publicamente com startups. São empresas que se concentram principalmente nos setores de tecnologia da informação, serviços financeiros e bens de capital.

O Brasil vive atualmente um boom de startups, com aumento dos investimentos. Na sua opinião, o que isso tem a ver com inovação aberta e o corporate venture? 

Tem toda relação. As corporações são um canal de crescimento poderoso para startups em termos de suporte, investimento e distribuição. Esses são apenas alguns dos muitos benefícios que esse tipo de colaboração também traz para as startups.

Além disso, as empresas às vezes são capazes de cobrir lacunas financeiras que os investidores privados podem não estar interessados, como é o caso de empreendedores de tecnologia profunda - aqueles relacionados a tecnologias emergentes com base em descobertas científicas ou inovações de engenharia significativas, oferecendo um avanço substancial sobre as tecnologias estabelecidas e procurando enfrentar alguns dos desafios fundamentais do mundo. A lista de tecnologias inclui inteligência artificial, materiais avançados, biotecnologia, blockchain, robótica e drones, fotônica e eletrônica, bem como computação quântica.

Os investidores privados tendem a não querer assumir projetos de pesquisa, que geralmente são caracterizados por alto risco, enormes despesas e períodos de gestação de longo prazo. Portanto, os pesquisadores muitas vezes não têm os recursos necessários para localizar e validar o mercado certo para suas descobertas - uma lacuna de inovação às vezes referida como Vale da Morte. Há um terreno comum que compreende a escassez de recursos que as startups de ciência enfrentam e o crescimento do interesse corporativo em trabalhar com novos empreendimentos.

Como usar esse momento para criar uma base de startups tecnológicas no Brasil?

É preciso promover mecanismos de co-investimento para empreendimentos em estágio inicial, conhecidos como projetos de prova de conceito. Também criar fundos de co-investimento para apoiar a validação de descobertas no mercado, agrupar corporações e investidores interessados em startups científicas e aumentar fundos filantrópicos, incluindo investimento de impacto.

Outro importante passo é adequar os mecanismos de investimento existentes para transferência de tecnologia e adaptar os instrumentos de financiamento público para startups de ciência. Além disso, acompanhar as empresas brasileiras que estão começando a implantar investimentos de pré-capital para provas de conceito de descobertas e validar as políticas relacionadas, por meio de pequenos experimentos em regiões selecionadas.

É preciso, ainda, alinhar as estruturas regulatórias nacionais para simplificar a expansão das startups, fornecer treinamento para a academia sobre a participação da indústria e compartilhar as melhores práticas entre instituições desenvolvidas e as menos desenvolvidas.