As tendências para o ambiente de trabalho pós-pandemia
Professora de Arquitetura e Urbanismo explica as principais mudanças ocasionadas pela pandemia do coronavírus no ambiente de atuação.
A principal tendência observada no ramo está nos chamados escritórios compartilhados ou coworking, procurados principalmente por quem está começando na profissão (Foto: CoWomen/Pexels)
A pandemia da Covid-19 provocou diversas mudanças em todo o mundo. No âmbito empresarial e no ambiente de trabalho isso não foi diferente. Muitos locais precisaram se readaptar de forma rápida para atender a uma nova necessidade imposta pelo momento.
“A forma de trabalho em vários setores da economia já estava mudando significativamente, através de novos modelos de negócios como também o surgimento de novas profissões. Empresas da área de tecnologia, comércio e serviços, principalmente aquelas que atuam em escala global, já trabalhavam remotamente, com possibilidade de flexibilização de horários para o funcionário. O isolamento social acelerou enormemente esses processos possibilitando que outros setores também usufruíssem dessas novas tecnologias”, comenta a arquiteta Rosany Albuquerque, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe).
Para a especialista, embora muitas atividades laborais estejam dispensando cada vez mais o espaço físico tradicional, ainda não se consegue implementar o trabalho 100% remoto em nenhum setor econômico. “Muitas empresas ainda necessitam de estruturas físicas para seu pleno desenvolvimento e, consequentemente, esses ambientes estão sendo repensados e adaptados na tentativa de otimizar os processos dentro de um ambiente seguro e saudável”, destaca.
Enquanto que para alguns funcionários ter que se deslocar até o local de trabalho pode significar sair da zona de conforto de trabalhar em casa, perto de seus familiares e animais de estimação, para outros o momento do reencontro com os colegas e chefes que estavam há quase um ano e meio distantes fisicamente pode ser uma ótima notícia.
Uma pesquisa realizada pela consultoria Korn Ferry identificou que retornar à rotina do escritório será “difícil” e “estranho” para 70% dos entrevistados. Inicialmente, trabalhar em casa gerou dificuldade de espaço, de tentar manter a ergonomia, conexões da internet caindo, mas com o passar do tempo com o prolongamento da pandemia, as pessoas foram se adaptando ao ponto de saberem limitar a atividade do lar à atividade do home office, priorizando as atividades laborais no horário correto de trabalho.
“Atualmente vivemos um momento de muita incerteza, mas dependendo do tipo de atividade que a empresa desempenhe podemos considerar três possibilidades de retorno às atividades no momento. A primeira seria a volta ao modelo tradicional de negócios desenvolvido anteriormente pela empresa, a segunda seria a continuidade do trabalho remoto no formato exercido durante a pandemia e uma terceira opção seria o modelo híbrido, possibilitando aos funcionários e clientes modalidade remota e/ou presencial de negócios”, acrescenta Rosany.
Espaços compartilhados
De acordo com a professora de Arquitetura e Urbanismo, pesquisas recentes indicam que a forma híbrida de trabalho tem sido o modelo preferido entre os trabalhadores, visto que possibilita realizar o trabalho em casa ou na empresa. “Muitas empresas começaram a adaptar os locais de trabalho para o retorno parcial das atividades laborais. Empresas que se adaptaram com o sistema híbrido estão mantendo uma sede bem enxuta para reuniões de alinhamento e atendimento a clientes, ficando o desenvolvimento dos trabalhos de forma remota, uma boa opção para redução de custos e aumento da produtividade”, declara.
A principal tendência observada no ramo está nos chamados escritórios compartilhados ou coworking, muito procurados principalmente por quem está começando na profissão. São espaços que oferecem estrutura física, serviços de recepção, internet, auditório, sala de reuniões e estacionamento com baixo custo e planos por hora, mensais e anuais.
Rosany afirma que esses espaços devem ser pensados para nos proporcionar conforto e bem-estar, contribuindo positivamente para a produtividade. “Não resta dúvida que a pandemia provocada pelo novo coronavírus nos fez refletir sobre nosso comportamento, incluindo nossa forma de trabalho e os ambientes que o compõem, pois passamos grande parte do dia desenvolvendo nossas atividades laborais. Entender esse momento e buscar soluções inclusivas é extremamente necessário para projetar ambientes de trabalho pós-pandêmicos”, diz.
“Mudanças no espaço funcional estão sendo tomadas pelas empresas para garantir a segurança dos funcionários, como ambientes mais abertos e humanizados, estações de trabalho compartilhadas, espaços mais reservados; locais prontos para a realização das videoconferências, controle total dos elevadores com rígidas regras de distanciamento social, limite de capacidade, entre outras”, enfatiza.
Entre as outras tendências observadas pela especialista está o Smart Working, um conceito que, na visão dela, chegou para ficar. “Entendo que ele ainda não foi absorvido por todos os setores produtivos. Enquanto não podemos trabalhar de qualquer lugar, a qualquer hora e com foco nos resultados e não no tempo presencial, vivemos um período de transição onde tudo pode acontecer, inclusive seguirmos por novos caminhos que ainda não conhecemos”, enfatiza.
A professora entende que o espaço do escritório vai continuar existindo, porém de forma diferente. “O escritório permanecerá pelos valores, pela cultura da empresa, pela socialização e alinhamentos necessários. A inteligência artificial, automação, sustentabilidade e a dinâmica populacional humana tendem a mover nossos escritórios, ao tempo que os funcionários deverão ser mais criativos, comprometidos com a qualidade, com a própria saúde e bem-estar”, finaliza.