Ambiente regulatório e transformação digital lideram prioridades de conselhos de empresas na América Latina
Pesquisa ouviu membros de conselhos de administração de empresas do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.
Esta é primeira vez que o tema aparece como pauta das companhias, segundo artigo (Foto: Pexels)
O ambiente regulatório e as transformações digitais serão as prioridades dos conselhos de administração de empresas da América Latina neste ano, segundo pesquisa realizada pelo EY Center for Board Matters (CBM). Foram ouvidos integrantes de empresas no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.
Além de ambiente regulatório e políticas públicas (44%) e transformação digital e uso adequado de novas tecnologias (43%) - como inteligência artificial, machine learning e blockchain -, o levantamento identificou outras três prioridades: cultura e propósito da companhia (41%), planejamento estratégico de longo prazo e alocação de capital (37%) e resultado, performance e metas econômico-financeiras (33%).
De acordo com Carolina Queiroz, coordenadora do estudo e diretora executiva de Family Business da EY no Brasil e América Latina, é com base na lista de prioridades apresentadas este ano que os conselhos poderão ter referências para tomar decisões que auxiliem as empresas em um melhor posicionamento rumo ao sucesso nos negócios e a sua longevidade.
"Pelo que pudemos observar nas respostas, a constatação é que 2022 será um ano mais crítico e desafiador para os conselhos, que terão de se preocupar não apenas em gerar valor de longo prazo às empresas, mas promover uma cultura de mudança contínua, visando promover impactos positivos e imediatos, capazes de tornar a força de trabalho preparada para o futuro", afirma.
Realizada em novembro de 2021, a pesquisa contou com a participação de membros de conselhos tanto independentes (37%) quanto não independentes (63%), sendo 71% deles representantes de empresas de capital fechado e 29% de capital aberto. Do total de conselheiros respondentes, 58% atuam em companhias com faturamento entre US$1 milhão e US$500 milhões.
Nesses conselhos, 47,5% são profissionais com 50 anos ou mais. Em relação ao gênero, as mulheres estão presentes em 37,9% dos colegiados das empresas latino-americanas representadas na pesquisa, enquanto 4,7% dos conselhos contam com a presença de membros de etnias variadas. Do total de respondentes, 84% das empresas revelaram não ter um comitê voltado à diversidade e inclusão, enquanto 73% delas sequer têm orçamento específico para esta questão.
A pesquisa também apresenta números relacionados a dois temas relevantes para os conselhos: a preocupação com questões ligadas à cibersegurança, levada em consideração por 37% dos conselhos a cada trimestre em suas reuniões - enquanto 8% ainda não dão importância a este assunto -, e os critérios ESG, presentes na pauta de 46% das empresas consultadas, com predominância de 33% para os aspectos de governança.
AMBIENTE REGULATÓRIO
Foi a primeira vez que o tema apareceu como a prioridade número um citada entre os respondentes da pesquisa. De acordo com Carolina, este é um assunto que as empresas da América Latina têm certa familiaridade, dada a complexa volatilidade regulatória à qual as empresas da região já estão sujeitas. “Ele pode ser interpretado sob diversas formas, dada a amplitude do tema, como por exemplo: o ambiente de insegurança jurídica peculiar dos países latino-americanos, o monitoramento ativo dos atos normativos relacionados ao respectivo setor de atuação; a necessidade do fortalecimento da área de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) nas companhias, entre outros.” Além disso, segundo ela, o tema exige um aprimoramento e coordenação de diversas funções numa organização, como das áreas de Controles Internos, Jurídico, Compliance, Auditoria e Gestão de Riscos.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Transformação digital é um tema que tem subido de posição, passando de 5º lugar na edição de 2020 para 4º na edição de 2021 e agora, em 2022, aparecendo em 2º lugar. Carolina explica que as empresas estabelecidas, com os seus modelos focados na mudança incremental e na estabilidade operacional, enfrentam “seu grande desafio existencial”. A necessidade de redesenhar as formas de trabalho, o relacionamento com os consumidores e os modelos econômicos ao mesmo tempo que mantêm a operação rodando. “Como manter a aptidão em um sistema tão dinâmico?”, indaga. Segundo ela, a resposta passa por três eixos de trabalho.
O primeiro diz respeito à ambição e visão estratégica. “Fazer uma reflexão profunda e orientada ao futuro – em vez de baseada na trajetória estabelecida – de qual deve ser o seu posicionamento de negócio em um mundo digital”, diz Carolina.
O segundo está relacionado à construção de fluência e capabilities. “Trazer para o seu ecossistema de negócio, tanto com recursos internos quanto externos, conhecimento e domínio não apenas das novas tecnologias, mas também dos casos de uso e aplicações destas.” O terceiro é sobre estabelecimento de prontidão. “Sistematizar rotinas exploratórias para capturar e testar novas tecnologias para aumentar a capacidade da empresa de analisar, especificar e aplicar as novas tecnologias, especialmente aquelas fora do contexto de domínio atual”, explica.
Os três eixos vão além da agenda executiva, demandando dos Conselhos de Administração uma atuação próxima, desafiando visões e práticas estabelecidas e dando mentoria à gestão na transformação. “Por outro lado, esta perspectiva e agenda de trabalho exigem dos conselheiros todo um novo arcabouço de conhecimentos e de modos de atuação. Os Conselhos de Administração e seus membros têm, desta forma, um papel central como atores e agentes na alavancagem das oportunidades seculares de negócio trazidas pela transformação digital”, completa.
Fonte: Agência EY