Do home office à inteligência de dados, setor jurídico inova para não parar
Toda crise, como a atual em função da pandemia de covid-19, é uma ameaça em potencial para os negócios. Entretanto, pode, também, representar uma oportunidade para fazer diferente e descobrir novos caminhos.
Dentro desse contexto de inovação, a LETS Marketing falou com André Felix, advogado, sócio do Ernesto Borges Advogados e profissional com larga experiência em inovação e assuntos jurídicos, e Carlos Lacaz, especialista em cultura empresarial e fundador da consultoria Culture Speaks, que ressaltaram a importância de buscar novas perspectivas para que os negócios se mantenham em movimento.
Neste momento, a inovação pode ser um diferencial para os negócios?
“A inovação é o principal diferencial”, ressalta André Felix. “O cultivo de solos férteis, onde colaboradores são estimulados a pensarem de forma diferente, testarem novas aplicações, simplificarem processos e multiplicarem conexões é a forma muita mais duradoura de impregnar inovação no DNA da empresa”.
Segundo Carlos Lacaz, “estamos vivenciando um cenário onde as empresas competem por pequenos espaços e ter uma visão diferenciada, nova, permite encontrar brechas pouco visíveis ou conexões não evidentes e isso faz toda a diferença”.
Carlos Lacaz: “Toda crise deve conter a semente da sua solução. O momento é de estimular a contribuição de todos, abrir a empresa a experimentações, tolerar um pouco mais as imperfeições e gerar novas possibilidade. Temos feito isso estimulando a participação dos profissionais em grupos de melhoria, buscando novos entendimentos da realidade e novos produtos”.
Quando se fala em inovação, a maioria das pessoas imagina a aplicação de novas tecnologias. Isso é uma verdade?
A inovação é uma ferramenta de gestão que favorece novas ideias e um olhar diferenciado. Isso pode ser feito desde a introdução de uma tecnologia diferenciada até uma simplificação no processo produtivo que vai permitir a empresa ganhar tempo e dinheiro. “Não se trata somente de conceber plataformas novas. Trata-se de olhar as coisas de um jeito diferente e criativo”, afirma Lacaz.
Seguindo essa linha, o advogado André Felix pontua que “inovação é gênero da qual “novas tecnologias” são espécies”. Em outras palavras, a tecnologia é apenas um dos instrumentos pelo qual a inovação se concretiza e o que as pessoas precisam entender é a importância da mudança de mindset difundida de forma democrática dentro da empresa.
É possível observar novas necessidades surgindo em tempos de coronavírus?
Novas necessidades surgem na sociedade de forma cada vez mais constante e o coronavírus foi apenas catalisador deste processo. O comercio digital ganhou mais de 5 milhões de consumidores que, na opinião dos grandes varejistas, vieram para ficar. Paralelamente, a proliferação das lives e outros tipos de eventos online se “desidrataram” com o passar do tempo, diminuindo em mais de 60% as buscas por esta forma de entretenimento. “O importante é separar o joio do trigo e identificar as tendências perenes que persistirão após o término dos efeitos econômicos decorrentes do isolamento social, segregando-as das necessidades provisórias”, diz Felix.
Qual seria uma boa reflexão a ser feito pelos empresários sobre o ambiente de negócios?
A própria adoção do home office como regra nas empresas é uma oportunidade para se rever toda a forma como fazíamos negócios e atendíamos os clientes. Como os escritórios devem se organizar para fazer frente a esta nova realidade? Quão importante são os contatos presenciais? Como balancear as relações virtuais com os encontros ao vivo? Que importância os clientes passarão a dar para as instalações físicas de uma organização? Quais serão os novos fatores de sucesso? Esses são alguns dos questionamentos que Lacaz traz à tona dentro dessa discussão. “Se a pandemia trouxe tristeza, desespero, luto, trouxe também a realidade de que podemos e devemos fazer as coisas de outro jeito”, afirma.
O consultor ainda pontua que muitos empresários possuem o desafio de rever e reestruturar seus negócios para um que eles ainda não sabem como será.
André Felix: “Inovação não comporta reserva de mercado. Devemos aumentar o espectro da visão jurídica nos advogados, englobando conhecimentos multidisciplinares, lastreados por dados. Democratizar a inovação é a chave para estimular nossos colaboradores e entregar mais valor aos nossos clientes”.
Do ponto de vista jurídico, quais são os maiores desafios para uma empresa inovar?
Ao longo dos anos o universo jurídico se blindou de mudanças que pudessem afetar seu status quo. Atualmente temos um dos maiores contenciosos do mundo em que anualmente 18% da população adulta brasileira recorre à Justiça. Já as despesas para a manutenção da máquina judiciária ultrapassaram o patamar de R$ 1 bilhão em 2019, ou seja, um quarto do valor gasto com toda a educação básica no Brasil no mesmo ano. Essa cultura do litígio na sociedade brasileira dificulta a gestão dos passivos judiciais pelas empresas e afugenta investidores.
“O maior desafio é desenvolver soluções disruptivas que vão além da mera condução processual para entregar valor as empresa e sociedade na redução do alto índice de litigiosidade, diminuindo o custo social do contencioso”, é o que constata André Felix.
O universo jurídico necessita de mudanças e a garantia do acesso ao Judiciário é inócua sem que haja a resolução célere e efetiva dos conflitos. “O mesmo seria garantir acesso à saúde e não ter leitos de UTI suficientes para atender a população, pois se todo o cidadão que se sinta lesado em algum de seus direitos, solicitar ao Estado prestação jurisdicional, continuaremos com o Judiciário sobrecarregado e incapaz de responder as demandas que lhe são solicitadas de forma célere e eficiente”.